:: :: MOREIRA DE REI :: :: Ao conceder forais a determinadas aldeias, as ordens militares ou o Rei reconheciam a sua importância para a defesa ou consolidação do território nacional. No caso de Moreira de Rei o foral foi-lhe dado por D. Afonso Henriques logo após a conquista definitiva do território aos mouros.
Moreira de Rei é uma freguesia do concelho de Trancoso, localizada na sua parte mais a norte. Esta freguesia foi Vila e sede de um Município entre o século XII e 1836.
Moreira de Rei teve foral dado por D. Afonso Henriques em data que se desconhece. O foral foi posteriormente confirmado em 1217 por D. Afonso II e em 1512 por D. Manuel I.
O topónimo com a extensão “de Rei”, só pode querer dizer, por semelhança com outros de idêntico teor, que os seus habitantes teriam o direito de não ter senhor para além do Rei ou seu filho ou quem os habitantes escolhessem
O concelho de Moreira de Rei foi extinto em 1855 e, nessa data era formado pelas seguintes freguesias: Vila de Moreira, Cótimos, Valdujo, Terrenho, Torre de Terrenho e Castanheira.
Ligado a Moreira de Rei encontra-se o episódio da deposição do rei D. Sancho II, tendo as respectivas negociações decorrido no Castelo desta Vila depois de o Papa o ter excomungado Foi nesta Vila que D. Sancho II esteve alguns dias quando, depois da deposição, se dirigiu ao exílio em Toledo
Em Moreira d Rei, existe uma grande necrópole, formada por sepulturas escavadas na rocha a maior parte das quais nos terrenos que rodeiam a igreja de Santa Marinha que é um edifício em granito do século XII coroado de Merlões. Na porta principal desta igreja estão gravadas as medidas padrão medievais (Côvado, braça e pé).
Este facto parece indiciar que na zona envolvente desta igreja se realizaria uma feira. A existência deste tipo de indicações, por norma na porta das muralhas e pelos vistos aqui também das igrejas era, para todos os efeitos, quer se queira quer não uma das primeiras iniciativas de regulação da actividade comercial. Também existem na Sortelha na porta da muralha voltada a norte.
O brasão de Moreira de Rei, denota a importância da Vila ao exibir a coroa real em destaque. É um brasão de Município pois possui 4 torres.
Os símbolos heráldicos de Moreira de Rei foram publicados no Diário da República, III série de 23 de Junho de 2005.
Moreira de Rei possuía como a generalidade dos Municípios um pelourinho que não é necessariamente da data em que o foral foi concedido. Este pelourinho é um imóvel classificado de interesse público, podendo a sua descrição pormenorizada ser verificada (aqui). Este pelourinho constava já do inventário que foi mandado elaborar à Academia Nacional de Belas Artes em 1935 (aqui).
O castelo de Moreira de Rei de que restam apenas poucos panos de muralhas e no seu interior a base da torre de menagem, é um monumento que tudo indica teve a sua construção antes do século XII pois foi nessa altura que foi tomado por D. Afonso Henriques.
Ao longo do tempo este castelo não tem tido grandes obras de conservação o que acabou por transformá-lo naquilo que hoje vemos. Se Alexandre Herculano fosse vivo e passasse em Moreira de Rei naturalmente que hoje, a sua prosa a respeito deste local seria muito mais cáustica. Na altura disse: «É uma espécie de ninho de águia em cima dum montão de rochas».
O Castelo, embora arruinado, é ainda hoje um local que nos transporta, pela imponência que adivinhamos teve, para tempos em que a altura relativamente aos territórios envolventes era uma vantagem de quem mais alto estava.
A quantidade imensa de sepulturas escavadas na rocha na envolvente da igreja de Santa Marinha, sugere a existência neste local de uma grande necrópole, sintomática da importância que esses locais tinham para os seus residentes.
O tratamento dado aos mortos sempre foi ao longo dos tempos protector, seguro e respeitoso. Um cemitério é sempre um local que encerra em si mesmo algo que nos incute um estado de espírito próprio e nos inibe da prática de actos mais libertinos que noutros locais não temos problema em praticar. No cemitério …. não. São palavras que ainda hoje se ouvem quando alguém quer fazer algo que denote menor respeito. Por isso, Moreira de Rei foi certamente um local de grande importância para ter tido uma necrópole desta dimensão.
Em 2013, na sequência da reforma administrativa que ocorreu, a freguesia de Moreira de Rei manteve o seu território dentro do município de Trancoso e continua a existir como freguesia (aqui).
Vamos a Moreira de Rei, não apenas para ver o que resta do Castelo, e a necrópole mas principalmente as gentes vivas daquela localidade. Dos idos fala a história, os vivos falam por eles próprios. Ouçamo-los em Moreira de Rei.
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«Do Côa ao Noémi», crónica de José Fernandes (Pailobo)
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