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Página Principal  /  Abitureira • Cultura • D. Dinis e Rainha Santa Isabel • História • Odivelas • Por Terras de D. Dinis  /  «Ide vê-las» é uma estorieta sem fundamento
30 Novembro 2014

«Ide vê-las» é uma estorieta sem fundamento

Por Maria Máxima Vaz
Maria Máxima Vaz
Abitureira, Cultura, D. Dinis e Rainha Santa Isabel, História, Odivelas, Por Terras de D. Dinis maria máxima vaz, rei d. dinis 3 Comentários

Muito se tem acusado o Rei D. Dinis de infidelidade. Inventam-se anedotas, estórias, apontam o dedo acusador. Em Odivelas inventou-se uma dessas estórias, que se junta ao coro dos acusadores. O que realmente foi a vida conjugal do Casal Real, ninguém sabe, mas há indícios de o Rei não ser tão culpado como muitos querem. A Rainha Santa tinha ideais que seu esposo terá respeitado. Porque vinha tanto a Odivelas? Há explicações que não passam pela infidelidade de que pretendem culpá-lo.

Odivelas Antiga - Maria Máxima Vaz - Capeia Arraiana
Odivelas antiga

Desconheço quem inventou esta estória e há quantos anos, mas em minha opinião já dura há anos demais.

Nenhum cronista fala nesta questão, nenhum documento lhe dá credibilidade. É uma brejeirice de criação popular, nunca repetida por historiadores e apenas referida como uma lenda nesta região. Nesta região julgava eu, mas verifiquei há tempos que já se conta noutros pontos do país, tendo chegado mesmo às terras de Riba Coa.

Até teria alguma graça se não atingisse a memória de um dos nossos melhores reis – D. Dinis – e não nos desse uma imagem irreal dos tempos medievais, analisando-os com a mentalidade do nosso tempo.

Diz essa lenda, que a Rainha Santa Isabel, tendo conhecimento de ocasionais saídas do Rei do Paço Real, com destino a Odivelas para se encontrar, possivelmente, com alguma freira bernarda, pediu às suas damas para a acompanharem uma noite, a fim de alumiarem o caminho a seu real esposo.

Caminhando silenciosamente desde o Paço das Alcáçovas ou de A Par S. Martinho, vieram colocar-se com archotes acesos, a alguma distância da descida da Carriche. A distância do Paço a este sítio era de cerca de duas léguas. E digo que vieram dum destes Paços, porque eram os únicos que, naquele tempo, havia em Lisboa e ambos construídos pelo Lavrador.

Quando o Rei com os seus cavaleiros passou junto delas, ouviu-se a voz da Rainha:
– Ide vê-las Majestade!

Desta atitude da Rainha resultaram dois nomes: o nome do Lumiar, por aquelas Damas estarem ali a alumiar o caminho ao Rei e o nome de Odivelas formou-se das palavras da Rainha – Ide Vê-las.

Esta lenda tem servido para explicar a origem do nome de Odivelas e do Lumiar e algumas pessoas estão convictas que este episódio aconteceu.

Não há aqui nada de verdade. Muito falaram os cronistas de D. Dinis e nenhum sugere sequer, ligações amorosas entre D. Dinis e as freiras bernardas de Odivelas. Não ocultam ligações com outras Senhoras e falam delas e das suas famílias, todas nobres. Dão-nos mesmo os nomes de algumas. Por que esconderiam as relações com as freiras?! Além disso um rei tinha tanta liberdade e eram tão comuns estas realidades naquele tempo que nem se ocultavam nem eram censurados por isso.

O monarca não tinha que se esconder nem sair sorrateiramente pelo escuro da noite, para vir a Odivelas, onde tinha um Paço Real na sua quinta de Vale de Flores. Vinha frequentemente com a Corte passar uns dias neste Paço, que chegou até ao século XX. A parte que ainda existia foi demolida em 1922/23 para construírem o ginásio de Instituto. Um edifício que do século XII chega até ao século XX deve ter sido uma admirável construção. Daqui passavam para o seu Paço preferido, o que tinha em Frielas, aqui muito perto. E deste Paço iam de barco pelos esteiros do Tejo até Sacavém. Chegados ali, entravam no Tejo e subiam até Santarém.

Destas deslocações falam os cronistas, mas em saídas clandestinas à noite, nenhum fala.

Os Restos do Paço do Concelho - Odivelas - Maria Máxima Vaz - Capeia Arraiana
Os restos do Paço do Concelho em Odivelas

Sabemos que teve sete filhos naturais, mas todos os seus antepassados tiveram ilegítimos. Seu pai, D. Afonso III teve dez filhos naturais. O rei D. Sancho I teve nove. Seis deles eram filhos da sua famosa barregã, «A Ribeirinha», na boca de quem o trovador põe o suspiro de um queixume: «Ai muito me tarda, o meu amigo na Guarda.» Até o nosso primeiro Afonso teve quatro filhos ilegítimos, que se saiba. D. Afonso II, que era gafo e morreu jovem, teve dois.

Perante esta realidade e tradição, não é verosímil que a Rainha Santa tivesse tomado a atitude que dizem, ela que era tão discreta e vinha habituada a estas realidades na corte de Aragão, onde abundavam os bastardos. Muito menos é de crer que o Rei D. Dinis disfarçasse as suas saídas do Paço Real. Nem consta que tivesse havido desentendimentos entre o Casal, motivados pelos filhos, visto que a Rainha até era tutora dos filhos naturais do seu marido, alguns dos quais foram educados na Corte.

A segunda parte da lenda pretende justificar a origem do nome de Odivelas. Também esta parte não é verdadeira. O nome desta terra é formado a partir de duas palavras árabes: Odi+Belaa, que significam Rio+Remoinho. Odibelaa passou por uma evolução natural igual à de outras palavras: caiu o a final, o b passou a v e juntou-se-lhe um s no fim. Traduzir-se-ia à letra, por Rio do Remoinho. Isto afirma um especialista conhecedor da língua árabe. Nenhuma outra origem tem hipóteses de estar mais certa.

O que me admira é que pessoas com algum conhecimento e discernimento acreditem fielmente nesta lenda e a repitam convictamente.

São coisas como estas que gostaria de varrer das memórias de Odivelas, porque a ignorância é uma terrível humilhação, no dizer de Júlio de Castilho e em minha modesta opinião.

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«Por Terras de D. Dinis», crónica de Maria Máxima Vaz

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Maria Máxima Vaz
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3 Comments

  1. Avatar Helena Matos Responder a Helena
    Quinta-feira, 16 Abril, 2015 às 13:52

    Estou encantada! Tenho uma grande admiração pelo rei D Dinis e aqui, encontrei a sua história fabulosa! Muitíssimo Agradecida. Eu, com um grupo de mais 13 amigos, iremos no final de maio, dar um passeio pela rota dos castelos e das aldeias históricas da beira. Aquela região é dum historial fabuloso e eu “curto” cada pedra, cada lenda… Bem Haja(expressão fabulosa beirã) pelo tratado histórico de D. Dinis. Adoreeeeeeei. Não páre, por favor!

  2. Avatar Eurico Luz Responder a Eurico
    Quarta-feira, 3 Dezembro, 2014 às 23:03

    É sempre um prazer ler estes «retalhos» fascinantes da nossa história.

  3. Maria Máxima Vaz Maria Máxima Vaz Responder a Maria
    Segunda-feira, 1 Dezembro, 2014 às 15:47

    Ainda se pode ver uma parte dos terrenos da quinta de Vale de Flores onde foi construído o Mosteiro.
    O Paço real ligava-se ao claustro da esquerda e situava-se onde é agora o corpo Noroeste.
    A foto ao fundo do texto é o que restava em 1922 do Paço Real de D. Dinis.

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