Concluo hoje este conjunto de escritos sobre a identidade coletiva assim reconhecida pela maioria dos naturais do Concelho do Sabugal, respondendo à questão em aberto sobre se pode falar de uma identidade concelhia ou, antes, de uma identidade regional comum a todos os beirões, ou mais restritamente, dos naturais/residentes da Beira Interior.
E começo por dizer que considero que existe de facto algo que nos distingue dos nossos vizinhos, e basta para isso olhar para Nave de Haver, Vale da Sra. da Póvoa, Meimoa ou qualquer uma das freguesias do Concelho de Belmonte, para perceber que, se algo nos liga, muito nos separa.
E reafirmando aquilo que venho repetindo há muito tempo isto é que o nosso futuro passa pela inserção em entidades territoriais sub-regionais mais amplas, dos dois lados da fronteira, reafirmo de novo, o Concelho do Sabugal só será protagonista nessas entidades se souber encontrar o seu espaço e identidade próprios.
E por isso a importância em nos identificarmos e nos diferenciarmos dos outros parceiros territoriais.
Sabem os que costumam ler o que escrevo que entendo a inserção regional em níveis diferentes:
1. O Concelho do Sabugal devia liderar a constituição de uma Associação de Municípios da Beira Raiana, constituída por Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo, Idanha-a-Nova, Penanacor e Sabugal.
2. O Concelho do Sabugal devia ser um dos protagonista principais da constituição de uma Associação de Municípios Transfronteiriça que abarcasse os Municípios da Beira Raiana e as Comarcas Raianas das províncias de Cáceres e Salamanca.
3. O Concelho do Sabugal deve integrar a Comunidade intermunicipal Beiras e Serra da Estrela, mas, se não estiverem verificadas as inserções anteriores, tal nos colocará numa posição de subalternidade face à realidade Serra da Estrela e aos centros urbanos do eixo A23.
E coloca-nos a nós, como coloca Almeida e como coloca Penamacor e Idanha face à CIM Beira Baixa, dado que a realidade de Figueira quase a coloca fora destas dinâmicas territoriais.
Por tudo isto, e concluindo, mais convencido fico depois desta reflexão que levei a cabo, que encontrarmos a nossa identidade enquanto sabugalenses, é o ponto de partida para encontrar a nossa identidade de gente de fronteira em conjunto com os outros beirões fronteiriços e com os nossos irmãos espanhóis, e é a questão essencial para integrarmos sem nos diminuirmos uma identidade colectiva da Beira Interior.
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p.s.1 Mais uma vez os queijos de cabra da LACTIBAR ganharam o primeiro prémio a nível nacional. Sou um apreciador deste queijo (naturalmente de sabor e textura diferentes dos nossos queijos artesanais), que nunca deixo esgotar em minha casa, e que faz a delícia de quem o prova. Por isso, aos proprietários e aos trabalhadores da LACTIBAR os meus parabéns e o desejo de que continuem a fabricar queijo de qualidade, elevando assim o nome das nossas terras.
p.s.2 Mais duas sugestões de leitura e de música. Sugiro a leitura do novo livro, «Retrato de Rapaz», da D. Quixote de um escritor português infelizmente pouco falado, Mário Cláudio, ouvindo ao mesmo tempo (para os que me leem no Norte, chamo a atenção para a sua presença no Festival de Jazz de Guimarães já hoje), esse grande pianista norte-americano Uri Caine, por exemplo em «Rio», ou nas «Variações Goldberg» de Bach.
p.s.3 O José e o Raul não ficaram muito agradados com a minha afirmação sobre «as garotitas a fingir-se de fadistas». Deixo para os fadistas a resposta. Maria Armanda, uma das vozes femininas históricas do fado, quando perguntada sobre o que achava das novas fadistas, respondeu «Quando ouço alguém cantar e não se me põem os pelos dos braços em pé, pode cantar muito bem, mas fadista não é!»
Ainda outra frase de outro fadista, Nuno da Câmara Pereira que, quando perguntado sobre se cantar fado era foleiro, respondeu «Não, há é muitos foleiros a cantar o fado!»
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«Sabugal Melhor», opinião de Ramiro Matos
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Setembro de 2007)
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Caro Ramiro Matos, concordo plenamente com a sua visão. Apologista que sou que a união traz de facto a força e assegurados que estamos das especificidades do Sabugal, a região só mesmo através da cooperação através de uma maior força raiana, mais extensa, poderá de facto vingar. Se o interior do país se encontra longe dos centros de decisão, o interior do interior, como tantas vezes apelido as regiões como a do nosso Sabugal, não “existem” puramente! Muitas das vezes, tal, deve-se a uma culpa própria, fruto de um isolamento promovido ao longo dos tempos. Saudações conterrâneas !