Será que a nossa saúde hoje ainda está afectada por aqueles anos do minério? É bem possível, segundo estudos americanos ao que se passa lá. É que minério não foi só dinheiro e vida um bocadinho melhor para as populações onde o havia, como é o caso do Casteleiro, ainda que em pequena escala. Há uns tempos que ando com estas realidades na cabeça e com vontade de colocar no ecrã, para si, algumas conclusões que constam por essa «net» fora. Já antes escrevi sobre volfrâmio por várias vezes. Hoje, trago as questões da saúde com mais acutilância. É que chegou a altura de lhe trazer algo dessa realidade da nossa zona. Sempre estas terras tiveram minérios perigosos, e até urânio. Vamos penetrar um pouco no tema e perceber o bom e o mau da coisa. Investigações americanas vêm alertar ainda mais. Leia uma síntese nesta peça.
Há dias li que em Sortelha se fez um interessante acto de memória em relação à exploração de urânio. Este convívio aconteceu num «Serão na aldeia»: “A vida dos trabalhadores nas Minas de Urânio” com a presença de António Minhoto da ATMU, a quem agradecemos a gentileza de nos ter proporcionado estes bons momentos na companhia de muitos antigos mineiros e familiares».
Para pormenores pois é a última de várias notícias regionais na gazeta «Serra d’ Opa», aceda por esta via… (Aqui.)
Por outra parte, uma página de «Facebook» de Sortelha veio recolocar na nossa agenda outro memorial: este, à Serra da Pena, às Águas Radium, mais propriamente. Pode aceder seguindo por… (Aqui.)
Tudo somado, caiu que nem ginjas: eu já tinha começado a escrever umas linhas que vêm aí adiante sobre as doenças resultantes da exploração dos minérios da nossa zona nos tempos dos nossos pais e avós.
Assim, com estas duas achegas, não só ganha mais força a minha ideia de falar disto esta semana, como ainda posso e devo alargar mais quer o registo (do mito da Serra da Pena / Águas Rádium / Termas) quer a homenagem (aos trabalhadores das minas de antanho).
Minério é como o tal banco da nossa desilusão – bom e mau
A exploração de minérios tem sempre muito de bom e muito de mau. A qualidade de vida melhora sempre com o progresso – e isso também está muito ligado aos metais. Mas nessa exploração há sempre muito de bom e muito de mau.
Bom e mau: na nossa zona, sobretudo dos anos 30 até há poucos anos, quando o ser humano mexeu na terra para dar biliões de lucro a uns e uns trocos a muitos. Mas também as questões da saúde. Se tivesse estatísticas de há dois ou três mil anos atrás, sei de certeza que havia de se poder constatar o seguinte: nas zonas de volfrâmio e urânio a média de vida é muito mais baixa do que no resto do País. Penso isso há muito. Desde que o meu padrinho e avô materno se queixava de úlcera no estômago e desde que sei pensar e conheço estas coisas que penso que era mas é um cancro resultante das águas bebidas todos os dias por aquelas serras e vales…
Li há tempos num estudo da Universidade de Coimbra, de que pode consultar um extrato… (Aqui.)
«A radiação natural é um dos factores ambientais que influenciam a saúde das populações. (…) O efeito da radiação ionizante na saúde da população traduz-se no aumento da incidência de certas doenças, (… por) mau funcionamento da tiróide (…Isso acontecia).sobretudo no período de exploração do volfrâmio, durante o qual foi frequente o contacto directo com peças de urânio».
Que doenças? Leia: «O bócio e o hipotiroidismo, o cancro do esófago, colon, pulmão, mama e bexiga são algumas destas doenças».
Panasqueira
Minas da Panasqueira: o volfrâmio mais puro do mundo, de acordo com uma investigação feita pelo «JN» no ano passado. Não se assuste, mas veja o filme de uma visita à mina… (Aqui.)
Terra envenenada – conclui a SIC… (Aqui.)
Urânio, volfrâmio, minério. Cancro. Materiais radioactivos… Jovens desaparecidos cedo. Doenças inexplicadas…
Leia-se Raquel Fragata («Urbi et Orbi», jornal online da Universidade, UBI, Covilhã»): «As Minas da Panasqueira laboram há sensivelmente 100 anos. (…) Com características de dureza semelhantes às do diamante, alta densidade e trabalhado em pó, resistindo a temperaturas de fusão muito elevadas, o uso do volfrâmio, um dos últimos metais a ser descoberto pelo homem, nunca se tornou muito vulgar devido ao seu preço. Outros metais mais baratos, como por exemplo o urânio empobrecido ou o chumbo, substituem-no numa das suas maiores aplicações: o armamento».
Mina da Bica, Azenha, Sortelha
Perto da Azenha e no início da subida para Sortelha, a mina da Bica foi das maiores da zona. Na Quarta-Feira havia mais – restam os buracões.
Há onze anos, o «CM» fazia uma peça de revolta de moradores, de que extraio umas linhas para si:
« Marie Curie, a física francesa premiada com o Nobel da Física, em 1903, e da Química, em 1911, pela descoberta do rádio, fez as suas investigações no mineral extraído de Quarta-Feira. Uma informação prestada pelo senador Denys Cochin, financiador do casal Curie. “Foi das investigações feitas sobre o urânio de Quarta-Feira que nasceu (…) o rádio e, mais tarde, o plutónio e a Bomba Atómica”, escreve, acrescentando que “o minério de urânio esteve, durante muito tempo, armazenado no Barracão e no Outeiro de São Miguel, este último a cargo dum engenheiro inglês Robert Jood, que vivia na Guarda”. Alberto Dinis da Fonseca concluía: “Claro que da descoberta do rádio, até à fabricação da primeira Bomba Atómica, foi preciso um longo percurso (…). Todavia se não fosse o urânio de Quarta-Feira, a Bomba Atómica não teria existido pelo menos tão cedo”».
Se lhe interessar pode ler mais… (Aqui.)
Casteleiro: Balcastelões e Gralhais, mas não só
Muitas pessoas do Casteleiro andaram anos seguidos a apanhar minério (sobretudo volfrâmio, mas também estanho e sabe-se lá se não urânio que viria misturado e as pessoas nem o sabiam). Uma das terras de bons filões desses manás da época era Balcastelões (Vale de Castelões, claro), entre serras, e lá para Gralhais.
Que danos para a saúde terão advindo dessa actividade? Isso, nunca foi avaliado. Mesmo nos Estados Unidos, só há pouco tempo se fizeram estudos direccionados nesse sentido.
Leio frequentemente que estes metais se infiltram nos caudais subterrâneos de água e que isso provoca nos animais, a começar pelo ser humano, um sem número de danos biológicos – agora constatados nos Estados Unidos: enzimas danosos que se alimentam de tungsténio (volfrâmio), «testes de urina de pacientes com leucemia e familiares, residentes em Fallon (Nevada), tinham mostrado níveis elevados de metal tungstênio no organismo. Recentemente, 16 casos de cancro em crianças foram descobertos na área de Fallon, que agora é identificada com a “área de risco de cancro”. O Dr. Carol H. Rubin, um chefe da filial do CDC, diz que os dados que indicam uma ligação entre o tungstênio e a leucemia não estão avaliados até o presente».
Li… (Aqui.)
Em resumo
O hoje é o resultado de muitos ontens – como sempre… Neste caso dos minérios, eles trouxeram uns dinheiritos aos exploradores particulares locais, muitos milhões a grandes intermediários ingleses e alemães e sobretudo podem ter deixado na região uma herança na saúde de nós todos como não se imagina – porque não há estudos profundos nem investigação.
Notas
1. Na minha terra, a Junta continua a querer melhorar os caminhos, apesar da escassez de verbas. Aprovado. Pode ver… (Aqui.)
2. «Serra d’ Opa», gazeta regional: notícias da nossa zona: para ter acesso, siga este link… (Aqui.)
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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Para complemento da peça, devo registar os comentários (alguns bem fortes) recolhidos no Facebook também sobre este texto inserido no «Capeia» na noite passada.
Omito outros menos directamente relacionados.
Divulgo apenas os que seguem e chamo a sua atenção para os conteúdos.
I
Em «Aldeias e Vilas da Beira Baixa», aqui:
https://www.facebook.com/groups/585203654864962/permalink/853570904694901/
Armando Cardoso
10 de Novembro de 2014 15:30
Este e um assunto serio que nao tem merecido de quem de direito a atencao que devia.Estudos,rastreios e comparacoes se ha ficam entre os especialistas e nao sao publicitados e continua/se a viver numa santa ignorancia,De resto o problema pode ser bem mais vasto do que se pensa e ter alastrado para outras regioes fora da exploracao mineira, porque quanto eu sei pelo menos nas decadas de 70 e 80 foram vendidos muitos metros cubicos de residuos das minas e aplicados na construcao civil.Dado que nao ha,pelo menos que eu saiba qualquer controlo de radioactividade estou em crer que ha muitos construcoes que podem ser um perigo para os seus ocupantes e para a populacao em geral.
II
Na Página de Manuel Manso Nunes, aqui:
https://www.facebook.com/mansonunes/posts/682563831863821?pnref=story
Manuel Manso Nunes
10 de Novembro de 2014 12:12
Manuel escreveu: “Acertaste-me em cheio amigo Josécarlos Mendes, num momento em que estou à espera dos resultados de uma cito-punção a uma formação ovaloide na… tiroide.
Bem vistas as coisas, uma grande parte da minha vida foi passada em regiões muito ricas nesse tipo de minérios, como é a maior parte do nosso concelho, Sabugal incluído, e, depois no concelho de Castelo Branco, nas proximidades de um dos maiores coutos mineiros que se situa na Lardosa.
Como as coisas más só acontecem aos outros…
De qualquer forma é bom saber e, quando for caso disso, denunciar.”
Publico com autorização específica, dada a situação de saúde pessoal referida no comentário – embora em «aberto». Mas é eticamente recomendável obter autorização específica nestes casos.
III
Em «Beirões no Facebook», hoje, aqui: https://www.facebook.com/groups/354099084692095/permalink/575632382538763/
1
Maria Máxima:
– Teve custos na saúde, certamente.
2
Leonilde Capelo Loureiro:
– Obrigada, Amigo, por mais uma ajuda preciosa para o conhecimento das nossas origens!