Aqui e ali ouve-se o sussurrar das gentes cansadas e desgastadas. Pela ausência de ideias e de ação, os mais novos começam a não ter lugar nesta terra que também é sua, e os mais velhos começam a ficar cansados de aguardar promessas não cumpridas.
Enquanto aqui e ali se rasga uma rua, é encontrado um tema de conversa! Neste entretém, muitas vidas são rasgadas, também elas, pela miséria das incompetências e pela falta de intervenção. O adormecimento e o relaxamento, perante o aproximar do abismo, tomou conta de nós.
Esburaca-se na cidade e enterra-se, no esquecimento, a aldeia. A inconformidade e as ideias não saem das gavetas, ou pelos vistos nunca lá foram colocadas. As pedras da nossa história esperam pacientemente quem as redescubra. A Reserva aguarda projetos prometidos e nunca cumpridos.
As potencialidades do nosso concelho são enormes. Terras Quentes e Terras Frias. Rio ou Albufeira. Mas, na verdade, quem aguarda, já impacientemente, são os rostos dos que comeram pó por esses caminhos fora. São os jovens que se ausentam, contra a sua vontade. São os velhos, votados ao isolamento. São os que tendo ideias empreendedoras não são tidos nem achados. Será que se dorme? Será que não se dá conta? Será tarde demais?
Aqui e ali, em qualquer recanto destas terras, encontramos gente que aguarda; ideias que avancem; medidas que se tomem! Poderá ser tarde.
Quem sabe? A falha não reside no falhanço de medidas tomadas. A questão é a ausência, a inércia, a ineficácia. Até pode haver boa vontade. Assim acredito. Mas bastará isso? O vazio instalou-se e gerou o encantamento pelo adormecimento. Vai sendo hora do despertar, de tentar levantar o que ainda se consegue, de inovar onde se puder, de criar pontes que possam conduzir a outras margens.
Haja vontades. Haja quereres.
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«Desassossego», opinião de César Cruz
César :
Um relógio, por mais sofisticado que seja podemos para-lo, basta carregar num qualquer botão, mas o relógio da História avança inexoravelmente levando povos à decadência. Portugal, um País quase milenário é disso exemplo.
Adeus César
Excelente síntese da apatia de uns, do desnorte de outros e do desalento de todos.
«A questão é a ausência, a inércia, a ineficácia» – mas quem luta, no seu quotidiano, para alterar o estado das coisas, também se cansa e o tempo desmotiva-o.
A falta da esperança num futuro melhor pode bem ser a espada que nos desfere o golpe fatal. Só algo de extraordinário nos salvará da morte anunciada para o tempo breve…
Sim, concordo, está na «hora do despertar» e de procurar outro futuro para as nossas terras.