Não se pretende com esta reflexão e exposição desvirtuar o Plano Estratégico do Sabugal (PES 2025) que tem vindo a ser desenvolvido por gabinete contratado pela edilidade do Sabugal, mas tão somente apresentar uma reflexão e preocupação, acompanhadas de humildes sugestões, de um simples natural do concelho, relativamente a números e estatísticas oficiais que evidenciam a significativa perda de turistas no concelho de Sabugal.

Em relação às capeias, estas não carecem de mais promoção mas sim da sua manutenção, os próprios locais esgotam praças e estes eventos não conseguem comportar mais público nas praças onde se realizam, este é um dado adquirido e comprovado por qualquer pessoa que vá ou tente ir assistir às capeias em qualquer uma das aldeias onde se realizam.
A este propósito, o cartaz sobre as capeias recentemente colocado nas principais entradas do concelho, é um atentado ao marketing e comunicação – letra-pequena e mensagem complexa, que além de ser imperceptível para quem circula de carro, não será de todo recomendável parar para perceber o que ali se pretende publicitar.
Preferencialmente devem ser considerados eventos que possam acontecer no período de Setembro a Julho, pois Agosto, é um período com regresso dos naturais imigrados e emigrados, que com a realização das festividades locais por si só, trazem pessoas à região.
Como medida urgente, imprescindível e inadiável, para garantir o sucesso desta estratégia ou plano será também necessário exigir ao poder central que as taxas das portagens sejam revistas para preços mais ajustados, preços de custo de manutenção e não com margem de lucro para saldar dívidas em atraso.
Sensibilizar o Poder Central para criar tarifas de portagens mais adaptadas às regiões desfavorecidas, que estão cada vez mais isoladas do resto de Portugal. Em que o quilómetro de auto-estrada chega ser mais caro do que nas auto-estradas de regiões mais favorecidas (litoral). Veja-se o prejuízo que representou para empresas sediadas na região e que utilizavam as SCUT, quanto tempo e quantas se irão aguentar por cá?
Estas acções/intervenções não poderiam ser tomadas por uma edilidade concelhia, mas sim por uma associação alargada de edilidades do interior, pois todas elas sofrem do mesmo mal que grassa no nosso concelho.
Quanto maior for a união dos condenados ao «cancro terminal» diagnosticado como isolamento e diáspora do Interior, maior e melhor será a «quimioterapia» para o seu tratamento. A «quimioterapia» será tanto mais eficaz quanto mais especifica e focalizada ela for no tipo de cancro.
«Não adianta tomar aspirinas quando a gravidade da doença requer quimioterapia» que quanto mais específica e indicada for, melhor será o seu prognóstico com vista ao seu controlo, remissão ou estabilização da doença.
Quer-se com esta metaforização salientar que mais vale unir esforços para tomar medidas fortes e concertadas para exigir uma redução das taxas das portagens do que ir de forma isolada pedir a sua abolição; mais vale efectuar uma intervenção e acção de sensibilização com as exigências reivindicativas sobre portagens do que em simultâneo e em acumulação exigir: para não encerrarem tribunais, finanças, correios, escolas, centros de saúde, etc. Apostar em reivindicações específicas e converter o «cancro» em «doença crónica» e depois fica-se com tempo para tratar a doença crónica e para descobrir o seu «remédio».
Pelo exposto e decorrente destas medidas, em paralelo poderá ser necessário diminuir o número de eventos menores de âmbito mais local, para assim concentrar os esforços em eventos de referência e nível nacional e que para tal será necessário sensibilizar também as juntas de freguesia. A título de exemplo, nem todas as freguesias têm condições naturais e ideais para realizar a Representação da Paixão de Cristo, a qual parece ter encontrado o sítio especial para a sua concretização, em Vilar Maior. Aquele evento por realizar-se naquela aldeia, não é sua posse, mas sim evento representativo de um conjunto de freguesias e de uma região.
Todos os eventos devem ser preparados e comunicados com a devida antecedência para se poder maximizar os seus resultados. Julga-se assim, que os eventos podem continuar a ser um dos instrumentos de promoção e chamamento de pessoas para a região, na medida em que podem permitir «atacar» de forma mais imediata os graves problemas do concelho, tornando-o uma referência a nível nacional e até ibérico que poderá permitir:
– Inverter ou retardar a desertificação humana, conseguindo compensar com a vinda de mais turistas e inverter a grave situação em que se encontram as estatísticas oficiais;
– Divulgar o concelho e diminuir efeitos da sazonalidade;
– Trazer mais clientes, mais pessoas, para melhorar economia local;
– Devolver confiança aos naturais e aliciar eventuais investidores para a região;
– Divertir e criar eventos de prazer para os locais/naturais, que promovam a auto-estima, dignidade e sentimento de pertença à região e inerente identidade «Sabugalense».
Acima de tudo, entende-se que os números aqui referenciados são alarmantes e não devem ficar sem uma análise e um merecido debate, para reflexão concertada entre todos os interessados, não só responsáveis institucionais como de todos os naturais, para que todos possam contribuir de forma construtiva, em prol de uma região que tem tanto para oferecer mas que não está a conseguir passar a mensagem do seu potencial para além do seu concelho ou dos seus naturais.
– A minha terra é a melhor do mundo!
Pergunta o outro: – Porquê?
– Porque é a minha terra!
Apraz salientar, que todos têm a sua terra, logo todos a acham a melhor do mundo, então teremos que mostrar ao país e ao mundo, em que somos ou poderemos ser diferentes em alguns períodos do ano, criando-se eventos no concelho com projecção, comunicação e publicitação a nível nacional para que, no mínimo voltemos aos números prósperos e áureos de 2009, contribuindo assim para mais e melhor economia local, que assim beneficiará quem teimou em ficar e consegue resistir a partir para não mais voltar.
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(Parte 3 de 3. Fim)
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«Território dos Cinco Elementos», crónica de António Martins
(Cronista no Capeia Arraiana desde Setembro de 2014.)
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Gostei de ler.
Excelente reflexão sobre a realidade que nos continua a afetar de forma tão grave.
Parabéns Toni.
“Em relação às capeias, estas não carecem de mais promoção mas sim da sua manutenção, os próprios locais esgotam praças e estes eventos não conseguem comportar mais público nas praças onde se realizam, este é um dado adquirido e comprovado por qualquer pessoa que vá ou tente ir assistir às capeias em qualquer uma das aldeias onde se realizam.”- Concordo em absoluto e há que tempos que ando a dizer isto… Não há turistas nas capeias e nem cabiam cá.