Não se pretende com esta reflexão e exposição desvirtuar o Plano Estratégico do Sabugal (PES 2025) que tem vindo a ser desenvolvido por gabinete contratado pela edilidade do Sabugal, mas tão somente apresentar uma reflexão e preocupação, acompanhadas de humildes sugestões, de um simples natural do concelho, relativamente a números e estatísticas oficiais que evidenciam a significativa perda de turistas no concelho de Sabugal. (Parte 2 de 3.)

Para podermos melhorar a performance do segmento turístico e inerente economia da nossa região, crê-se que uma das formas possíveis de inverter a sazonalidade e melhorar os preços médios, será reforçar a captação ou a criação de eventos e na maioria dos casos apostar numa melhor e mais atempada comunicação.
Ao longo destes últimos anos temos assistido a uma política e estratégias, que tem apostado e bem, com merecido reconhecimento às iniciativas camarárias, na criação e captação de eventos para o concelho, mas será chegado o momento de avaliar resultados práticos destes eventos e sua importância para os investidores locais.
Pede-se uma análise consistente e duradoura no tempo, evitando estratégias de «tudo ou nada». Pois os habitantes locais (regionais) parecem não estar a aderir e os nacionais não respondem à chamada para aqueles garbosos eventos.
Entende-se que o Sabugal deve manter o objectivo de criação ou manutenção de eventos, desde que sejam asseguradas algumas condições que permitam que estes cumpram os seus pressupostos e, obviamente, com custos adaptados à realidade do concelho face a aos inerentes proveitos.
Que interessa ao concelho, ter eventos de nível nacional, que implicam investimentos avultados pela autarquia, mas a receita financeira em prol dos investimentos e empreendimentos locais ser nula ou não ter qualquer proveito imediato na realização financeira.
Que importa realizar provas de ciclismo, espectáculos ou outros eventos de nível nacional no nosso concelho quando as equipas e população envolvida directamente na realização ou participação do evento que aqui se deslocam, vai toda ser alojada e tomar as refeições na Guarda ou outro concelho nas redondezas (consultem-se os operadores locais para validar esta afirmação). Usa-se e abusa-se dos recursos da autarquia e vai-se contribuir para a economia de outras autarquias. Sujam aqui e pagam para se alojar e alimentar ali no concelho ao lado. Não faz sentido.
O argumento de que não temos capacidade de resposta para alojar ou restaurantes para servir, não pode servir de desculpa, sob pena de tapar o sol com a peneira, pois se não podemos alimentar e alojar 1000, conseguimos alojar e alimentar 200, então esses que esgotem os recursos do concelho em primeiro lugar e posteriormente procurem empreendimentos nos concelhos vizinhos.
A eventual desculpa de que as equipas e o staff são muito grandes e não conseguem arranjar espaços para ficar todos juntos… Então se não pode ficar a equipa, podem ficar os directores de prova, fiscais, árbitros, organizadores, actores, assessores, repórteres, entidades convidadas para assistir, etc., etc… Se não há espaço para dormirem todos, pelo menos para comer consegue-se providenciar. Há boa maneira beirã e raiana, há sempre lugar para mais um à mesa!
Em outra análise e noutra perspectiva, se estes eventos estão sobredimensionados para a nossa capacidade de resposta, então precisam de ser revistos e desenvolverem-se outros mais adaptados à nossa realidade, que promovam em simultâneo o concelho a nível nacional mas permitam sitiar as pessoas no concelho onde se realizam os eventos. Pois caso contrário invadem apenas a casa, utilizam os recursos humanos financeiros, logísticos, sujam, não arrumam e nem pagam para que os outros o façam, resultando o prejuízo só para os locais e o proveito apenas para os visitantes.
Neste sentido, apesar de sair do âmbito dos Projectos Âncora do PES 2025, não deixa de estar directamente relacionado com a maioria deles. Assim, apresentam-se aqui algumas notas e sugestões mais focalizadas e especificas que podem de forma mais imediata ser implementadas e produzir algum efeito que inverta ou estagne pelo menos o abandono e desertificação a que fomos condenados. São sugestões pertinentes que poderão ser consideradas na análise do tipo de eventos a criar, manter ou melhorar, incentivar e fomentar:
– Realizar meia dúzia de outdoors, com imagens apelativas, estrategicamente colocados em regiões e zonas especificas de grande afluência (principais saídas das grandes cidades, assim como nas principais artérias de grande trânsito ou forte afluência de pessoas ou veículos) nas principais cidades portuguesas (Lisboa, Porto, Coimbra, Aveiro, Setúbal) pode ser um excelente convite e constituir-se um óptimo cartão de visita. Meia dúzia é muito, então comecemos com um Outdoor na A1, outro na A2 e ir avaliando custo/benefício;
– Fazer um simples anúncio (em outdoor) estrategicamente colocado, com uma bela e forte imagem da nossa região, com certeza terá um custo bem mais inferior à realização de um evento, pode fazer muito mais pela região e ficar mais na retina e memória das pessoas, do que realizar um evento com gasto de milhares de euros que só resultou naquela fracção de segundos em que surgiu o nome Sabugal;
– Sites e demais Comunicação e Marketing (flyers e publicitação em papel) do Turismo de Portugal, ou Turismo da Região Centro não fazem nenhuma referência ou divulgação do nosso concelho, a não ser uma alusão muito breve a Sortelha! Que é feito da Rota dos Cinco Castelos, que é feito da Ponte de Sequeiros, Reserva da Serra da Malcata e das outras tantas serras e dos bosques classificados e protegidos do carvalho negral que por cá existem, da rota dos cincos castelos, do bucho raiano tão fortemente divulgado pela Confraria do Bucho, das peregrinações e romarias, das representações da Paixão de Cristo, da capeia, dos trilhos pedestres, dos circuitos BTT, e outros que eventos ou monumentos que possam ali ser publicitados, à semelhança do que fazem outros concelhos. É preciso cativar mais e melhor comunicação do concelho em todas as frentes e mecanismos ou instituições disponíveis para nos divulgar;
– A associação das Aldeias Históricas que tem feito um excelente trabalho de divulgação da Beira Interior, visite-se o site desta associação, e repare-se na pobre referência aos espaços culturais e património do concelho. Ver site… (Aqui.);
– A titulo de exemplo, a revista Visão tem publicado neste verão, uns roteiros, sobre rios, barragens, rotas, actividades ao ar livre, circuitos pedestres ou BTT, praias fluviais, o que ver e visitar no nossos país, etc. Consulte-se estes roteiros e veja-se no Distrito da Guarda as referencias ao nosso concelho de Sabugal: «Faz doer a alma» o abandono ou esquecimento a que fomos vetados naquelas publicações e outras publicações institucionais que têm o dever de nos anunciar e divulgar! Urgente analisar onde falha esta divulgação e comunicação sobre a região;
– Realizar eventos com capacidade de atracção nacional com boa divulgação e projecção atempada: Muralhas com História, Sabugal Histórico, Sortelha Aldeia Natal, Trail Malcata; Trail Aldeias Históricas; Trail Vale do Côa, BTT Malcata, BTT Rota dos Castelos, etc. Cuidar dos eventos locais, mas apostar mais nos nacionais!;
– Considerar realizar provas desportivas com elevada notoriedade, como por exemplo aproveitar a Grande rota do Vale do Côa e as várias serras do concelho para criar um evento de grande impacto como tem sido o Trail Gerês;
– Considerar a realização de um ou outro congresso de nível nacional com oferta do auditório da câmara e demais logística, para que aquele possa ser realizado no nosso concelho. Muitas das ordens profissionais pagam balúrdios por salas nas grandes cidades. A edilidade oferece a logística e beneficia o concelho com as estadias e refeições e inerentes notícias sobre a realização do evento no local. Esta pode ser uma área interessante e bem adaptada à realidade do concelho.
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(Parte 2 de 3. Continua.)
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«Território dos Cinco Elementos», crónica de António Martins
(Cronista no Capeia Arraiana desde Setembro de 2014.)
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