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Página Principal  /  Aldeia de Joanes • Bismula • Opinião  /  Viagem
28 Julho 2014

Viagem

Por António Alves Fernandes
António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes, Bismula, Opinião antónio alves fernandes, linha beira baixa Deixar Comentário

Nesta manhã quente de Verão, com temperaturas acima do normal, escolho a via ferroviária para mais uma viagem, desta vez com destino a Lisboa (Santa Apolónia), a fim de marcar presença no Cacém ainda durante a tarde. Já sentia saudades do comboio na Linha da Beira Baixa. Antigamente ensinava-se na escola primária que este comboio ia de Lisboa à Guarda. Nos dias de hoje só chega à Covilhã, por inércia e desprezo dos políticos pelo Interior do País.

Linha da Beira Baixa (foto D.R.)
Linha da Beira Baixa (foto D.R.)

O Intercidades desliza a aceitável velocidade. Passo por várias estações-fantasma (Fatela, Penamacor, Vale de Prazeres, Alpedrinha e tantas outras), causa tristeza ao viajante o abandono de muitos terrenos cultiváveis e a deterioração dos edifícios. Quem não conhecer a região, dirá que caiu na Faixa de Gaza.

Em Castelo Branco, um grande número de jovens, munidos com as suas mochilas, junta-se aos passageiros. Os jovens dão vida às idosas carruagens. Talvez o seu destino seja um dos muitos festivais de música nos arrabaldes da capital.

Em Vila Velha de Ródão, um octogenário enlutado senta-se a meu lado, não optando pelo lugar a que tinha direito, junto à janela com vista privilegiada para o Rio Tejo. Quando lhe pergunto a razão do seu traje preto, solta um choro convulso e desabafa: «Perdi a minha companheira de sessenta anos. Um ataque fulminante ao coração, foi fatal. Chamava-se Maria do Carmo e hoje é a festividade de Nossa Senhora do Carmo, a quem tinha tanta devoção; não dispensava o uso do escapulário, que recebeu dos seus pais.» Segundo a sua difusão pela Igreja, era um bom auxiliar «para alcançar uma boa morte».

Depois de mais de trinta anos como funcionário público e pequeno comerciante em Angola, com a «descolonização exemplar» foi obrigado a regressar a Portugal. Com tenacidade, coragem e apoio de amigos, conseguiu na Zona da Graça, em Lisboa, um pequeno comércio.

Hoje está no seu Gaviãozinho, cultiva a terra, tem umas galinhas e, apesar de todos os esforços para se juntar ao seu único filho em Setúbal, ninguém o retira do seu cantinho: «Sempre tenho oportunidade de chorar perto da minha Carmo.»

Chego a Santa Apolónia onde me esperam dois familiares. Almoçamos como três mosqueteiros e seguimos para o Cacém.

O Seminário Claretiano, hoje Centro Pastoral, apoia três grandes paróquias: Cacém, Agualva do Cacém e Mira Sintra. Aí funciona um Jardim de Infância (ATL) com cerca de duzentas crianças, muitos delas de ascendência africana.

Além da Comemoração do 165.º Aniversário da Fundação da Congregação Missionária Claretiana, vai acontecer a celebração comunitária dos jubileus de ouro e prata de diversos missionários, com a presença do respetivo Provincial.

O nosso familiar Padre Manuel Leal Fernandes, natural da Bismula (Sabugal), é a razão principal da nossa presença. Está no número dos que fazem cinquenta anos desde a sua ordenação em Roma. Neste convívio fica a mensagem cantada: «Como são belos os pés / que anunciam a Paz / e as mãos que repartem o Pão / na refeição do Cordeiro, da Palavra, Vinho e Pão / somos o Povo de Deus em comunhão.»

Nestes eventos encontramos e conversamos com pessoas, nossos vizinhos, quase conterrâneos, que apesar de muito cedo terem saído para fora, nunca esqueceram as suas origens arraianas. Falamos do Irmão José Guilherme Nabais Robalo, natural de Rapoula do Côa (Sabugal), que em 1949 ingressou na Congregação Claretiana. Esteve quarenta e seis anos em São Tomé e foi responsável pela Gráfica e Livraria e pela colaboração pastoral. No Cacém ficam bem vincados os seus dotes musicais nas teclas do órgão.

O Padre José Pires Diz, natural de Quadrazais (Sabugal), hoje pároco de Areosa, fala com saudade das actividades contrabandistas dos seus conterrâneos, das capeias arraianas e do romance «Maria Mim» de Nuno de Montemor.

O Padre Florentino Mendes Pereira, de Vale de Espinho (Sabugal), realça que, apesar de ter saído da sua terra muito novo, nunca esquece as suas origens e as idas a terras limítrofes castelhanas.

Estou quase de regresso à Cova da Beira, quando surge a triste notícia da morte do jovem Chefe de Escuteiros do Agrupamento 62 da Ordem Terceira (Franciscanos) de Setúbal. Nesse Agrupamento tive as mais belas experiências escutistas. Num ato de solidariedade para com os Familiares do Chefe Aristides Dourado e respectiva Família Escutista da Região de Setúbal, passo pelo Seminário Franciscano da Luz, em Lisboa, onde decorrem as exéquias fúnebres.

Partiu o comboio da sua vida. Paz à sua alma.

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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes

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