Num tempo em que nas escolas há cada vez mais cadeiras vazias, pela gente que não há, a sala de aula transforma-se numa tela pintada a várias cores.

Na vasta panóplia de vocábulos atribuídos ao professor, existe uma infinita distinção entre si. Não é tão-somente uma questão linguística. É mais a de uma atitude de vida. Existem várias cadeiras dentro de uma sala de aula, mas numa escola a diversidade ainda é maior. Há cadeiras para todos os gostos. Para senhores doutores, para Drs., para gente com peso e de peso.
Há cadeiras com carreira, cadeiras profissionais, cadeiras gastas com o tempo e ansiosas pela reforma. Felizmente sobram umas quantas cadeiras. Para os alunos, para os que querem aprender, para os que não querem aprender, e outras ainda para os que não sabem que podem aprender. Tive um professor na minha infância que não usava cadeira. Dava aulas em pé. Não tinha cadeira porque não era doutor. Era apenas um professor. Um senhor professor. Ensinava com erudição e autoridade, mas acima de tudo ensinava o gosto pelo saber, o gosto pelo conhecer.
Nas salas de aula há muitas cadeiras vazias… vazias pela pouca gente que não há. Vazias de ideias e vazias de vontades… As cadeiras, dentro das salas de aula, vão rodando… umas, cansadas pelo desgaste do tempo, vão acumulando pó e cansaço. Mas há tantas, encostadas a um canto de uma sala, à espera de serem utilizadas… Ensinar é uma arte onde uma tela é pintada a várias cores. O aprender não deveria ser uma obrigação mas sim uma paixão.
Noutros tempos dizia-se que o aluno era o objeto da intervenção. Hoje, infelizmente, muitas vezes, é apenas um anónimo que percorre corredores cada vez mais vazios, com um peso tremendo metido numa sacola às costas.
Há culpas e culpados, até existe atribuição de responsabilidades… O certo é que todos fazemos parte deste maravilhoso processo de ensinar. Seja numa cadeira, suja de pó… seja sem cadeira, em qualquer canto, num canto em qualquer lado por aí.

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A todos aqueles que ao longo de 16 anos tiveram a paciência de serem meus alunos.
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«Desassossego», opinião de César Cruz
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