Há uns anos, escrevi umas linhas sobre a recolha de volfrâmio na minha aldeia. Achei na altura que o tema ficara mal explicado e reservei para outra altura umas adendas que entretanto me tinham surgido. Chegou essa altura. Aproveito aquela base de trabalho e explano umas ideias novas sobre o assunto. A si, leitor, peço que não deixe de visitar várias vezes ao dia a gazeta regional «Serra d’ Opa», agora no «Facebook» (ver a última linha, onde encontra o respectivo «link» de acesso.

Minério na nossa terra? Sim: há 70 anos, a coisa era bastante séria por aqui. E será que ainda hoje existe?
Bom, a primeira coisa a dizer é que sempre houve e ainda deve haver. Só que os dois metais em causa, estanho e tungsténio (volfrâmio), foram muito procurados pelas grandes potências nos anos da Guerra 39-45 e hoje não têm qualquer valor, aos níveis em que existem e poderiam ser apanhados na nossa zona: não é rentável. Mas acrescento que o tungsténio é raro no Mundo e que Portugal é dos países onde ele existe.
No entanto, tanto quanto me foi sempre dado pensar pelo que ouvia, a existência destes metais e mesmo alguns restos de urânio na nossa terra acarretou para as várias gerações problemas de saúde específicos, designadamente úlceras de estômago.

Actual revalorização da rota europeia do volfrâmio
Antes de mais, a nota de que hoje se assiste na Europa a uma revalorização da rota deste minério, pela importância que ele teve há 70 anos. Há muitos estudos, declarações de responsáveis e decisões de organismos no sentido de revisitar e valorizar essas rotas – não apenas em Portugal: na Europa também, onde quer que tenha havido exploração de tungsténio, que assim se designa cientificamente o volfrâmio.
No Casteleiro, não havendo minas de volfrâmio, havia muita exploração deste minério. Era mesmo, o «minério».
Para a rapaziada da minha idade, isso já não era coisa palpável. Mas os nossos pais falavam ainda muito desse tempo deles (ali por voltas de 1935 até 1942, mais ou menos, pelas contas que faço). Era o tempo de ir ao «minério» naquelas serras ali à volta.
O que tinha ficado desse tempo áureo era apenas a construção gigantesca (para a dimensão das outras casas da aldeia), os «Italianos». Mais nada. Chamava-se assim porque eram italianos os dois irmãos donos e pretensos exploradores da separadora que aquilo devia ter sido. Mas acabou a guerra para a Itália (1943) e eles fugiram para a Argentina. E o grande edifício da fábrica ali ficou sem utilização fabril.

Volfrâmio no Casteleiro
Não sei se todos os leitores estão conscientes de que o Casteleiro desempenhou à sua dimensão um papel interessante na recolha de dois metais importantes no fabrico de armamento na II Guerra Mundial: estanho e, sobretudo, volfrâmio – conforme acima referi.
Volfrâmio é o nome popular para o tungsténio. O estanho, além de anti-corrosivo, é usado no fabrico do bronze – que recobre armas expostas às intempéries (as da Marinha e as da beira-mar, por exemplo).
O volfrâmio é muito duro e era usado no fabrico de balas e de canhões. Talvez também não saibam que muitas pessoas (algumas ainda vivas) ganharam muito dinheiro nessa altura a recolher estes metais nas serranias e nas linhas de água a toda a volta da nossa terra.
Já ouvi mesmo dizer que até ouro se encontrou – mas em muito pequenas quantidades. Depois de recolhido pelos «mineiros», o metal era vendido a intermediários que o vendiam a italianos e a ingleses.
De seguida, ia ser devidamente tratado e separado em pequenas unidades industriais que existiam aqui na região para depois seguir para o seu destino: as grandes fábricas de armamento existentes na Inglaterra e na Alemanha (o metal comprado pelos italianos era para aí encaminhado, visto que estes eram aliados dos alemães nessa guerra).

As rotas do volfrâmio – em forma de memória histórica
Como disse, e imaginando eu que toda a gente conhece a história deste mineral ou, pelo menos, já ouviu falar da importância que teve o volfrâmio português no desenrolar da II Grande Guerra, não deixo no entanto de lhe referir aqui que este metal anda na Natureza associado ao quartzo e que, na nossa zona pelo menos, o estanho o acompanha também nos solos onde o minério se encontra.
Hoje quase «ninguém» o compra, não tem o mesmo valor de mercado. Mas há umas décadas, as armas de grande aquecimento (canhões) eram feitas na base deste metal duro e resistente, em liga com outros metais, sobretudo com o ferro. Por isso, ganhou agora vigor uma ideia que muitos tinham há muito: voltar aos locais do volfrâmio e revitaliza-los. Pelo menos, os locais das minas. Na nossa zona, a mais conhecida era a da Panasqueira.
Há, desde finais de 2013, um projecto de valorização das minas e do que o volfrâmio representou para as gerações da primeira metade do século XX. A designação deste projecto é o seguinte: “Rotas do Volfrâmio na Europa – Memória dos Homens e Património Industrial”.
Segundo declarações públicas, o que se pretende é «… valorizar os territórios do ponto de vista do desenvolvimento local muito ancorado no turismo, na cultura, no património, na gastronomia, no artesanato, nas tradições…»
É sabido que Portugal foi «o principal» fornecedor de volfrâmio para os países beligerantes da II Guerra Mundial.
Uma vertente importante do programa anunciado visa transformar «antigas explorações mineiras em pólos de atracção turística numa rota que percorrerá vários países da Europa». Se tiver interesse em aprofundar esta matéria, siga por… (Aqui.)
Importância do volfrâmio na indústria do armamento
Não só do armamento – mas sobretudo, parece. Não tanto hoje, mas, sobretudo nos tempos idos do século XX. Para sintetizar, diga-se qual a importância do tungsténio (volfrâmio): «O tungstênio, geralmente em liga com níquel e ferro ou cobalto para formar ligas pesadas, é usado em penetradores por energia cinética como alternativa ao urânio empobrecido, em aplicações nas quais as propriedades pirofóricas do urânio não são requeridas (por exemplo em munições de armas ligeiras concebidas para penetrarem proteções pessoais). De igual modo, as ligas de tungstênio têm sido também utilizadas em obuses de artilharia, granadas e mísseis, para criar estilhaços supersónicos. O tungstênio também tem sido usado em explosivos de metal inerte denso, na forma de pó denso para reduzir danos colaterais ao mesmo tempo que aumenta a letalidade dos explosivos num raio pequeno» (Wikipedia).
Notas
1. São já conhecidos os primeiros resultados de um estudo muito interessante em curso na minha aldeia. Parece que não, mas isto liga-se com a presença de volfrâmio (e urânio) nas nossas terras. Veja… (Aqui.)
2. Para aceder às notícias da nossa zona no «Serra d’ Opa», agora no «Facebook», siga por… (Aqui.)
:: ::
«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
Leave a Reply