«Madre Paula – Mulher de Deus, Amante do Rei» é o título do romance histórico da autoria de Patrícia Müller sobre a «paixão proibida» entre o Rei D. João V e uma das mais famosas freiras de Odivelas. «D. João V sempre teve uma predilecção por mulheres bonitas, acumulou paixões e aventuras. Mas Paula Tereza Silva foi o seu grande amor. Permaneceram juntos, secretamente, mais de uma década e chegaram mesmo a ter um filho.» O livro foi apresentado esta quarta-feira, 9 de Julho, pela doutora Maria Máxima Vaz e pelo jornalista Pedro Rolo Duarte no cenário intimista e contemplativo do ventre da Mãe d’Água, às Amoreiras, em Lisboa.
Maria Máxima Vaz, Patrícia Müller e Pedro Rolo Duarte
O Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras é uma espécie de caixa-forte em forma de cubo com fachadas em cantaria de calcário que servia de depósito para as águas provenientes de Belas (Sintra) e de Caneças (Odivelas) através do Aqueduto das Águas Livres. O grande reservatório dos Jardins das Amoreiras, projectado em 1745 e concluído em 1834, foi considerado Monumento Nacional em 1910.
Os troços iniciais do Aqueduto foram construídos durante o reinado do vigésimo-quarto Rei de Portugal, D. João V, o Magnânimo (22-10-1689 a 31-7-1750) e resistiram sem grandes estragos ao Terramoto de 1755. O longo reinado de 43 anos do «Rei-Sol português« foi o mais rico da História de Portugal em consequência da descoberta de ouro no Brasil no final do século XVII.
A intensa vida deste monarca que «sempre teve uma predilecção por mulheres bonitas e acumulou paixões e aventuras» levou-o a reconhecer em documento que só foi tornado público após a sua morte, em 1752, a paternidade a três filhos bastardos. Ficaram conhecidos como os «Meninos de Palhavã» porque habitaram o palácio do marquês do Louriçal que é hoje a residência do embaixador de Espanha em Lisboa.
O decreto real considerava que eram filhos de «mulheres limpas de todo sangue infecto» e pedia ao príncipe herdeiro para favorecer os irmãos.
D. António (1704-1800) era filho de Luísa Inês Antónia Machado Monteiro, doutorou-se em Teologia e foi ordenado cavaleiro da Ordem de Cristo; D. Gaspar (1716-1789) era filho de uma religiosa de Odivelas, Madalena Máxima de Miranda, e chegou a arcebispo primaz de Braga; e D. José (1720-1801) filho da religiosa Madre Paula (retratada no livro) e que exerceu o cargo de Inquisidor-mor. D. António e D. José entraram em conflito com o marquês de Pombal e foram desterrados para o Buçaco em 1760 de onde só regressaram depois da morte de D. José I, em 1777.

Madre Paula – Mulher de Deus, Amante do Rei
Na quarta-feira, 9 de Julho, foi apresentado na Mãe d’Água o livro «Madre Paula – Mulher de Deus, Amante do Rei» da autoria de Patrícia Müller. O espaço do depósito de água no interior do monumento foi pequeno para tantos convidados surpreendendo até as ninfas que fazem dele sua habitação permanente.
O enquadramento literário esteve a cargo do jornalista Pedro Rolo Duarte que não tem dúvidas que a relação entre o Rei D. João e Madre Paula «foi uma paixão correspondida». «A minha mãe frequentou o Instituto de Odivelas e contava que todas as alunas queriam visitar à torre de madre Paula apesar de ser um espaço vazio», recordou o jornalista defendendo que gosta de «rir, sonhar e aprender enquanto leio um livro e a Patrícia dá-nos uma leitura enxuta e visual respeitando e valorizando o pensamento e os diálogos de amante do Rei». «Para mim as cenas de sexo não podem ser descritas de forma patético nem sob a forma de uma comédia e, em nenhum momento, a autora confunde a humildade com a modéstia. A madre Paula é uma imagem de Portugal e dos portugueses.» Pedro Rolo Duarte terminou, em tom de brincadeira, como começou: «A impressão do livro vale o dinheiro do tinteiro.»
A apresentação e enquadramento histórico do livro esteve a cargo da doutora Maria Máxima Vaz que se confessou apreensiva quando lhe foi dada uma prova a ler mas que no final ficou muito satisfeita porque «a Patrícia nunca condenou Madre Paula». «O historiador Borges de Figueiredo ajudou a desmistificar e anular erros de trabalhos históricos pouco rigorosos. A madre Paula entrou no Mosteiro de Odivelas, como noviça aos 15 anos de idade, por vontade do pai, viúvo e ourives de profissão. Um ano depois fez votos perpétuos. O mosteiro recebia meninas da aristocracia e as festas eram uma das principais ocupações das freiras muito dotadas musicalmente e no canto coral e nesse tempo dizia-se que nas missas do mosteiro escutava-se o coro celestial», ensinou perante uma plateia atenta e silenciosa a historiadora. «O rei D. João V conheceu Paula Silva entre os 16 e os 19 anos. O relacionamento durou 13 anos tendo o monarca mandado construir nos terrenos do mosteiro uns aposentos com dois pisos recheados de luxos conhecidos como a Torre de Madre Paula. O oratório e a banheira de prata vieram de Londres e por toda a habitação havia abundância de prata e talha dourada», disse, ainda, Maria Máxima Vaz.
Em breves declarações finais a autora, Patrícia Müller, visivelmente satisfeita com o número de pessoas presentes confessou que tinha sonhado que «na apresentação estavam apenas dois ou três amigos». «Esta mulher existiu. Para o mundo ela era apenas uma freira. Mas para D. João V ela era uma rainha. Tentei que ela não ficasse envergonhada se estivesse aqui.»
:: ::
:: ::
jcl
A frase da autora “tentei que ela não ficasse envergonhada se estivesse aqui” demonstra grande sensibilidade. Fiquei com vontade de ler o livro. Parabéns pelo lançamento.
Bom dia, António Emídio,
Frei Pedro de Sá já era muito compreensivo, pois a atitude mais comum era a intolerância e a condenação. Estas mulheres, na sua maioria viam-se privadas da liberdade, da herança e dos afectos familiares, ignoravam a sua vontade, eram afastadas do convívio familiar logo na adolescência e como ocupação davam-lhe a oração, actos litúrgicos e contemplação.
Continuar a condená-las parece-me uma crueldade.
Gostei da atitude da autora e das suas palavras – ” tentei que ela não ficasse envergonhada se estivesse aqui”.
O José Carlos Lages destacou de facto, os aspectos principais do lançamento. Boa reportagem.
O título é mais que sugestivo. Quem melhor que a professora, Maria Máxima, para fazer a apresentação do livro sobre a Madre Paula. Parabéns à autora, Patrícia Muller, parabéns à apresentadora, e parabéns ao JCL, pelas fotos tão elucidativas. Que bom que era fazer-se também uma apresentação do livro na CCS.
Drª. Maria Máxima Vaz :
Frei Pedro de Sá, dizia o seguinte : « As freiras são as mais sujeitas às inconstâncias que todas as demais mulheres, porque o corpo preso faz o coração inquieto ».
Sem dúvida que o amor de D.João V por Madre Paula foi grande, ficou na História, como na história ficou, tendo chegado aos nossos dias muito do luxo da sua « cela » no Convento de Odivelas, tapeçarias, cristais, e outras preciosidades.
António Emídio