Como muito bem escreveu Paulo Leitão «É importante promover uma reflexão alargada: como pode o concelho do Sabugal tirar partido do potencial que lhe confere a capeia arraiana, ou tourada com forcão, enquanto tradição única no mundo».
Estas palavras relembraram-me o conteúdo de uma crónica por mim escrita e publicada em finais do ano de 2011, aquando da inscrição da Capeia no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, e que aqui, parcialmente, reproduzo.
«Fortemente enraizada na cultura popular do Concelho, em especial da parte raiana do Concelho, este é um fenómeno cultural que une a esmagadora maioria dos sabugalenses espalhados pelos quatro cantos do mundo.
Estiveram bem todos aqueles que, desde o primeiro momento, defenderam o seu reconhecimento nacional, mais um passo para afirmar a nossa identidade e diferenciação quer a nível sub-regional, quer a nível nacional.
Mas se este é um momento de alegria e de sentimento do dever cumprido, este é também um passo que desafia a nossa capacidade em afirmar este acontecimento único, sabendo responder à previsível maior atenção que todos lhe vão dar.
Quero com isto dizer que, não deturpando a “capeia”, temos de encontrar novas formas de conjugar a pureza e a tradição, com formas inovadoras de captação de novos entusiastas.
É um desafio que toca todos, desde as Comissões Organizadoras de cada terra, às Juntas de Freguesia, à Câmara Municipal e à Casa do Concelho do Sabugal. Estou convencido que saberemos honrar esta distinção!»
Porque esta tem sido a minha posição pessoal, não podia deixar de apoiar, desde o primeiro momento, a reflexão agora feita pelo Paulo, bem como a da sua proposta para se realizar um «congresso que reúna as forças vivas e a população em geral pode ser a forma de dar corpo a esse desiderato».
Mas, e como já o defendia em 2011, considero, e por isso compreendo também as posições do João Duarte, que temos que estar preparados para uma possível «armadilha» que as questões da transformação das «práticas tradicionais» em «produto turístico» encerram.
Como em 2011, mantenho que o dilema que se coloca hoje continua a ser como encontrar formas de conjugar a pureza e a tradição da capeia, com formas inovadoras de captação de novos entusiastas e novos públicos.
A capeia podendo e devendo ser colocada ao serviço do desenvolvimento do Concelho, não pode nem deve «abastardar-se», tornando-a numa espécie de «tourada à moda do Sabugal», como aquelas corridas(?) de toiros que se faziam e fazem em Albufeira para turista ver. Se é para ir por aí, mais vale nada fazer…
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ps. Como expressei no comentário à notícia, aqui expresso o meu mais profundo repúdio e a minha total solidariedade com todos os que vivem nas aldeias afetadas pelo encerramento da Escola de Santo Estêvão.
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«Sabugal Melhor», opinião de Ramiro Matos
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Setembro de 2007)
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O que eu disse e reitero é que a Capeia , seja em que moldes for, nunca atrairá turistas aos concelho. Falo em turistas, mesmo, daqueles que nada têm a ver com o concelho. Está mais que provado, basta ir a uma qualquer capeia, no mês de Agosto.