Não há atitude, não há garra, não há alegria para jogar com a camisola da selecção de Portugal neste Mundial disputado no Brasil. O segundo jogo no Arena Amazónia, em Manaus, contra a selecção norte-americana era decisivo. Começou e acabou da melhor maneira com golos de Nani e Varela. O pior foi o resto…
A selecção portuguesa disputou esta segunda-feira, 22 de Junho, 23 horas em Portugal, mais um jogo decisivo da fase de grupos do Campeonato do Mundo de Futebol Brasil 2014.
Em Manaus, no coração da Amazónia, alinhados no relvado do Arena os vermelhos de Portugal e os brancos americanos ouviram e cantaram os respectivos hinos. A apitar o argentino Néstor Fabián Pitana.
Para o jogo número 25 de Portugal em fases finais dos Campeonatos do Mundo o seleccionador Paulo Bento foi obrigado a fazer quatro alterações – Rui Patrício por Beto, Pepe por Ricardo Costa, Fábio Coentrão por André Almeida e Hugo Almeida por Hélder Postiga – mas mantendo a forma de jogar (4x3x3) que tanto lhe agrada.
Na conferência de Imprensa Paulo Bento pediu uma «equipa de homens» para que Portugal fosse em busca da sua primeira vitória e somasse três pontos.
Portugal alinhou com Beto, João Pereira, Bruno Alves, Ricardo Costa e André Almeida; Raúl Meireiles, João Moutinho e Miguel Veloso; Nani, Hélder Postiga e Cristiano Ronaldo. Os jogadores sabiam que tinham de ganhar para dependerem apenas de si mesmos porque, depois, era «só» vencer o Gana e seguir em frente.
O ar estava irrespirável no Arena Amazónia com 30 graus centígrados e a humidade atmosférica de 70% mas os jogadores portugueses tinha de assumir as despesas do jogo até porque os Estados Unidos já tinham três pontos conquistados contra o Gana. O único resultado que interessava era… ganhar, ganhar, ganhar!
Aquilo não estava para andar a correr atrás da bola mas logo aos cinco minutos de jogo as gargantas dos portugueses espalhados pelo mundo gritaram «Golo». Um grande golo de Nani que sentou o guarda-redes, Tim Howard, com uma simulação e depois à entrada da pequena área fuzilou a baliza americana.
Mas rapidamente se percebeu que os jogadores portugueses continuavam a não estar bem fisicamente. Aos 16 minutos Hélder Postiga ficou agarrado à perna no relvado e entrou para o seu lugar Éder. Ao intervalo André Almeida foi substituído por William Carvalho. Avançado por avançado e médio por médio. Com duas lesões musculares nos primeiros 45 minutos tudo ficou mais difícil. Houve impreparação da equipa independentemente da qualidade dos jogadores que não estão em forma nem adaptados para as diferenças de temperatura no Brasil. A equipa das quinas do ponto de vista físico esteve muito longe dos níveis exigidos para um Mundial.
Podíamos e devíamos ter feito melhor. Este grupo de trabalho teve todas as condições para ser feliz. No passado havia sempre uma desculpa. Agora já não há desculpas. A Federação Portuguesa de Futebol parece ter reunido todas as condições para que tudo corresse nos estágios de preparação e nos alojamentos apesar de ficar a sensação do agendamento de demasiadas «viagens e presenças sociais» para a comitiva entre Óbidos e Campinas.
O meio-campo português sentiu muitas dificuldades para segurar a dinâmica dos laterais americanos em especial do capitão Dempsey.
Os yankees viraram o resultado com dois golos aos 63 e 81 minutos e tiveram uma jogada para golo que Ricardo Costa (o melhor em campo) salvou sobre a linha de baliza.
O inconformado Nani rematou ao poste e, na recarga, Éder isolado tentou um chapéu mas Howard defendeu com uma palmada por cima da trave. O avançado Éder deixou-nos a certeza que não é para estas andanças nem tem categoria para jogar na Selecção Nacional. Falta a Portugal um ponta-de-lança desde os tempos de Pauleta. Os clubes portugueses não parecem estar interessados em formar avançados e têm apostado em dianteiros estrangeiros podendo estar em causa o futuro da selecção portuguesa de futebol.
Cristiano Ronaldo limitou-se a uma grande jogada: o cruzamento para o golo de Varela. Pouco, muito pouco, para aquele que é o melhor jogador do Mundo.
A cabeçada de raça do recém-entrado Varela nos últimos segundos dos cinco minutos de compensação foi um sortilégio em forma de doce envenenado. Vamos andar mais uns dias a falar de um milagre mas é uma missão impossível. Portugal teve o pássaro na mão e deixou-o fugir. Esta não foi a verdadeira equipa portuguesa. Estes jogadores parecem ter sido esquecido o compromisso com os portugueses. Uma desilusão.
Em contradição com o que nos habitou Paulo Bento (com substituições directas aos 60 minutos de jogo) Portugal é a selecção que já utilizou mais jogadores: uns surpreendentes 18 em dois jogos.
Portugal gosta de sofrer e as contas ficaram complicadas mas quem perde 4-0 com a Alemanha e empata a duas bolas com os Estados Unidos não merece continuar neste Campeonato do Mundo. Para já podem começar a fazer as malas devagarinho.
Na última jornada será preciso marcar três ao Gana e esperar que os seleccionadores da Alemanha e dos EUA «não se entendam».
Os portugueses mais optimistas que compraram os seus bilhetes para a final do Mundial já podem pensar em dispensá-los na Ticketbis ou em outros sites da especialidade.
Não há garra, não há atitude, não há alegria para jogar com a camisola da selecção das quinas.
Somos um país de medos. Achamos que estamos sempre entre os melhores mas nunca conseguimos ser os primeiros.
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obs 1: o futebol foi inventado para justificar os golos. Este Mundial arrisca-se a ter a melhor média de sempre em golos marcados. Valha-nos isso!
obs 2: sobre algumas lesões como, por exemplo, a de Rui Patrício recordei-me, sabe-se lá porquê, do jogador Tavares (Benfica) e do atleta Fernando Mamede. Pois…
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«A Cidade e as Terras», opinião de José Carlos Lages
(artigo escrito de acordo com a antiga ortografia.)
jcglages@gmail.com
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