Desde muito cedo que a relação do homem com a terra se pautou por uma procura, constante, de respostas para as suas necessidades. É este espírito inconformista, que faz com que a sociedade de regenere e o «mundo pula e avança», como o caracterizaria António Gedeão.

Vem esta crónica a propósito de algo muito simples com que me deparo há largos anos, tantos como a ligação rápida a Lisboa, através da autoestrada da Beira Interior. Trata-se, exactamente, da rotunda que faz a ligação da vila de Caria à A23 e dos conteúdos históricos que a mesma exibe e partilha com quem evidenciar o desejo de a conhecer melhor.
Se por um lado a acção do homem sobre a paisagem tem deixado, muitas vezes, uma pegada nem sempre com uma conjugação perfeita entre o progresso e a preservação da sua História, não foi o caso, por estas bandas.
Quem passar por aqui de «olhos bem abertos» poderá observar uma autêntica lição da História do regadio em Portugal, sobejamente documentada com a picota (burra, picanço…), a nora, o motor (motobomba) a gasolina ou gasóleo, até à mais recente tomada de água, trazida pelo tão desejado regadio da Cova da Beira.
Sendo esta região abundante em terrenos férteis, organizado muitas vezes em pequenas parcelas, constituiu sempre, um constante desafio à força braçal do homem que ao longo do tempo foi «aguçando o engenho» à medida das suas necessidades.
Para matar a sede às suas hortas e alimentar a generosidade da terra, abria pequenos poços donde, com a ajuda da picota/burra, sugava o precioso líquido que, balde a balde e numa cadência lenta, ia chegando das sequiosas raízes até à mesa de quem trata a terra por tu, mas a quem nunca lhe vira as costas.
É nesta intima relação com a natureza que o homem, numa aliança pacífica com alguns dos animais que com ele coabitam (burro e vacas), minimiza o trabalho e rentabiliza o seu esforço. Também, recorrendo à tracção animal e à nora/engenho, aumenta o caudal de água a retirar dos poços, a terra a irrigar e, por conseguinte, a capacidade de produção dos bens agrícolas de que necessita.
Desde então, até à chegada do regadio – depois de quarenta anos de espera, foram os motores de rega que assumiram o papel principal numa agricultura de carácter tradicional.
Mas é esta abundância de água, só possível com o Plano de Regadio da Cova da Beira, que permite que a paisagem desta região esteja a mudar.
O verde passou a dominar: grandes pastagens que alimentam rebanhos de ovelhas e vacas, campos de milho, pomares de frutas variadas, olivais, vinhas a perder de vista com qualidades de vinho nunca vistas por aqui… são as marcas mais recentes da acção do homem sobre a natureza.
É o olhar atento sobre o que nos rodeia que nos permite ver tudo isto e muito mais!
Nota:
Aqui fica o meu registo bem como o desafio aos leitores do Capeia para que tragam até este espaço plural, mais rotundas e lugares com outras histórias.
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«Viver Casteleiro», opinião de Joaquim Luís Gouveia
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