Castelo Mendo é uma aldeia muralhada e quase toda de pedra. As ruas são estreitas e curvosas e a recente festa de maio fez do chão das calçadas irregulares bordados de flores a exalar fortes odores naturais.
![As Concertinas Mágicas do Safurdão](https://i0.wp.com/capeiaarraiana.pt/wp-content/uploads/2014/06/concertinas-1.jpg?resize=550%2C413&ssl=1)
Há pouco , em domingo de festa, o sol descia e inundava a aldeia que se aquecia e aclarava com o crescer do dia iniciado com forte alvorada. As casas, pequenas e sóbrias exibiam telhas de barro avermelhado reflectindo luz e alegria. As portas das casas eram baixas e as janelas desenhavam pequenos quadrados enfeitados com vasos de flores e colchas rendilhadas.
Entrava-se na aldeia por uma porta rasgada na muralha e guardada por dois berrões estáticos e majestosamente graníticos. No extenso largo exterior havia tílias grandes e sombrosas. O cenário assim construído trazia-me à memória leituras de contos de fadas e estórias infantis.
Num olhar mais largo confirmavam-se, no horizonte, as escarpas das margens do Côa que ali se abriam abruptamente num vale alongado até perder de vista. Uma colina central tentava ser alta ao ver-se rodeada de outras alturas. No cimo da colina, surgia, sobranceira, a Antiga Vila qual página de história, escrita com lutas e defesas antigas. Mas hoje, em dia de festa, acima da colina e logo abaixo do Céu de azul/solarengo, passeavam-se pequenas nuvens de fumo denunciador da queima estalada de dezenas de foguetes. No chão das ruas, entre a durabilidade das casas, já tinha passado a procissão abrilhantada pela banda filarmónica de Gouveia que havia enchido de música ruas, largos e recantos.
Agora, que a tarde se aproximava, as Concertinas Mágicas do Safurdão tocavam ao ritmo cadenciado dos dedos de nove jovens executantes, rapazes e raparigas. Em redor, atentos e dançantes, colocavam-se dezenas de foliões dispostos à arruada.
Cá do lado de fora, do alto das encostas, os cumes dos montes pareciam também em festa e sustentavam alegremente uma imensidão de rochas, cercadas de ervas, giestas amareladas, carrascos e carvalhos de folhas achatadas que cresceram para além de si próprias.
A aldeia apresenta-se, assim, festiva, aos filhos da terra que regressam sempre em maio e constituía, também, uma proposta agradável, para qualquer visitante. Oferecia-se tal qual uma extensa página de história impressa na natureza.
Trata-se, sim, de um sítio onde a história criou raízes e hoje, fruto de uma festiva alegria, este lugar histórico estava mais belo e acolhedor.
Durante o ano, Castelo Mendo veste-se de festa várias vezes e regressa a vários passados, uns mais antigos que outros. Em maio regressa a meados do século XX mas com a Feira Medieval que ocorreu no mês de abril regressou ao século XII. A Feira Medieval resultou, em dois mil e catorze, da vontade férrea de alguns naturais liderados pela Junta de Freguesia.
Assim, ano após ano, por aqui, por Castelo Mendo, promove-se a festa, recriam-se culturas, revivem-se usos e avivam-se costumes antigos.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
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Querido Fernando, é sempre un prazer ler as tuas crónicas! E desta fez elogiar a forma tao autentica com que descreves castelo mendo!ate pareces de lá, nascido e criado!! Jeje
Muito importante teres feito referencia si facto de que este ano foi graças as pessoas da terra que se pode fazer a feira medieval !
Amigo Capelo:
Fico duplamente contente com a tua cronica, uma por falares de Castelo Mendo e a outra por seres tu. Estás rendido a Castelo Mendo, se dúvidas havia, agora acabaram-se. Falas de festa e há logo quem extravase na historia, como diz o amigo Ramiro Matos, pois já falei algumas vezes que diviamos pensar em recriar a lenda de Castelo Mendo, onde inclui a peregrinação dos desnudos ou encoiros a Sacaparte. Por outro lado, a D. Maria Estela faz muito bem em incluir aqui Pailobo, que bonita capela tem, e que fez parte do concelho de Castelo Mendo. Na cronica de 08 de junho, o sr. Aderito Tavares fala-nos da presença dos judeus na região, eu tenho a dizer que em Castelo Mendo existem vários sinais dessa presença. A casa de meus pais por exemplo tem o símbolo dos novos cristãos, ou seja judeus convertidos ao cristianismo.
Bem Haja por manterem Castelo Mendo sempre vivo.
José Gonçalves
Olá Estela Pires:
Bem vinda a este espaço regional onde muito se tem falado das gentes das nossas terras, com mais regularidade dos concelhos do Sabugal e Almeida. Eu próprio alimento uma coluna neste orgão regional que se chama “Do Côa ao Noémi”. Algumas coisas têm sido escritas sobre Pailobo que é também a minha terra. Hoje mesmo foi aqui divulgado um texto em que se fala das festas tradicionais e no caso concreto, da festa do Santo Antão.
Por isso continua a visitar este forum que outros textos aparecerão.
O teu vizinho das traseiras da tua casa em Pailobo – José Fernandes.
Quero dar-vos os parabéns por não deixarem que se esqueçaam estas “terras, estas “gentes”.
Gostava de ver alguns comentários/alusões sobre Pailobo, sobre as suas “gentes”.
Com estima.
Mª Estela Pires
Como seria bom para Castelo Mendo e para Alfaiates, a recuperação da “procissão dos nus” na segunda-feira do Espírito Santo (este ano no próximo dia 9), numa altura em que se volta a afzer a festa da Sra. da Sacaparte nesse dia…