Há gestos e sinais que valem mais do que mil lições. Aprenderemos com a lição do absentismo ou necessitaremos que a história nos demostre que é necessário traçar novos rumos, recolocando a pessoa humana no centro da causa pública?
E a abstenção continua em crescendo… e os votos brancos e nulos atingem valores históricos. Em média votaram pouco mais de três portugueses por cada dez com direito a voto. Talvez se justificasse que por cada dez deputados europeus, sete perdessem o seu emprego. Sem demagogias e sem demandas, é necessário refletir… e agir!
A rutura com o estruturalismo partidário está bem patente. Perigosamente patente quando os representantes e garantes da democracia não gozam de efetiva representatividade. E não vale a pena proferir que a democracia se reflete nos eleitos pelo voto. Os que não votam, não tendo representantes, estão a ditar um novo rumo que se aproxima a passos largos. A abstenção é um partido de mesclas ideológicas, onde os opostos se atraem mas onde se revêm cada vez mais europeus.
Daqui a uma década como será? Estamos, cada vez mais, de costas voltadas com os aparelhos partidários e a esperança volta-se para os novos messianismos políticos e ideológicos, que garantem uma solução pragmática.
É tempo de as políticas sociais se voltarem para a pessoa humana, garantindo-lhe os direitos através da responsabilização social. A culpa não morre nem morrerá solteira. Ao Estado não cabe apenas a função de regular um mercado doentio e possessivo e uma sociedade relativizada. Tem a missão de centralizar a posição da pessoa, promovendo-a e respeitando-a.
Roubaram o nome às pessoas e deram-lhes números. Assaltaram a dignidade e o trabalho, e fizeram do ser humano cobaia de experiências económicas. A produtividade e os resultados económicos não têm nome nem família, não têm escolaridade, têm a proteção de políticas esvaídas de ética. A Europa deixou de ser dos humanistas e adotou os economistas. Foi raptada dos seus valores, tal como outrora a deusa Europa foi raptada por Zeus ao seu pai Agenor.
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«Desassossego», opinião de César Cruz
César:
Talvez os cidadãos portugueses voltem às urnas, em massa, para as Eleições Europeias, quando virem que isso significará vida melhor, mais próspera, livre e segura.
António Emídio