:: :: MARIALVA :: :: – Ao conceder forais a determinadas aldeias, as ordens militares ou o Rei reconheciam a sua importância para a defesa ou consolidação do território nacional. No caso de Marialva o foral e a sua consequente transformação em concelho, foi formalizado logo nos primeiros anos do nosso país, por D. Afonso Henriques, em 1179.

Marialva é uma freguesia do concelho da Mêda localizada numa formação rochosa situada entre a Ribeira de Teja e a Ribeira de Massueime. A freguesia é atravessada por uma linha de água de menores dimensões que aquelas duas a que se chama Ribeira de Marialva.
Na época romana a povoação era ponto de confluência e cruzamento de vias romanas, entre as quais a via imperial que ligava a Guarda a Numão.
Os muçulmanos ocuparam este local até que, em 1063 o rei D. Fernando Magno de Leão a conquistou e lhe deu o nome que hoje tem.
Durante o período da reconquista, nos primeiros anos da consolidação de Portugal como país independente, a povoação foi abandonada em virtude das permanentes batalhas entre os dois reinos: Leão e Portugal.
Marialva foi mandada repovoar por D. Afonso Henriques que lhe concedeu o primeiro foral em 1179.
Mais uma vez se refere que a concessão do foral, tinha como objectivo o repovoamento e a defesa. Daí que, já D. Afonso Henriques entendia que esse repovoamento só se conseguia com a atribuição de privilégios maiores do que os que outras localidades tinham. Por exemplo no foral diz-se: «Quem vier para Marialva viver, e se tiver dívidas, elas ficam saldadas seis meses depois.»
Foram atitudes arrojadas que levaram ao povoamento do interior. Hoje parece que esse arrojo anda arredado de quem o pode implementar, e por isso a desertificação continua.
Durante o reinado de D. Sancho I, em 1200, no século XIII há novo repovoamento, que se seguiu à reconquista, tendo a povoação começado a crescer para fora das muralhas. Convém recordar que, naquela época, as populações por norma residiam dentro das muralhas dos Castelos.
Durante o reinado de D. Dinis (4 de Novembro de 1286) foi criada a feira no dia 15 de cada mês, feira esta que concedia grandes privilégios a moradores e feirantes. Tratava-se de uma feira franca e que por isso, como na generalidade dessas feiras os feirantes estavam isentos de impostos. Gozavam, para além disso do chamado «direito de paz da feira» que no fundo queria dizer que não podiam ser incomodados pelos credores, não podiam ser presos por crimes que não tivessem sido praticados na feira.
Em 14 de Setembro de 1512 D. Manuel I atribui-lhe novo foral, como de resto aconteceu com a generalidade dos concelhos.
Foi vila e sede de concelho entre 1179 e 1855. O concelho era formado pelas freguesias de Aldeia Rica, Barreira, Carvalhal, Coriscada, Gateira, Marialva(Santiago), Marialva (Spedro), Pai Penela, Rabaçal e Vale de Ladrões.
No inicio do liberalismo foram-lhe anexadas as freguesias de Chãs e Santa Comba que hoje pertencem a Vila Nova de Foz Côa.
O concelho de Marialva foi extinto em 1855, muito embora os seus territórios apenas tenham sido integrados no Município da Mêda em 1872.
Fruto da dimensão territorial que este Município medieval chegou a ter, é difícil perceber a razão por que foi integrado no Município da Meda e não o contrário. Certamente questões de natureza política estiveram na sua base.

O brasão de Marialva que abaixo se reproduz, é um brasão de concelho, pois como se pode verificar, possui quatro torres prateadas. Para além de conter uma imagem estilizada de um castelo o que denota a importância do local, como praça forte, o brasão contém ainda dois símbolos: Um correspondente ao brasão dos primeiros reis de Portugal e um outro, a Cruz de Cristo que no fundo pretende refletir a importância que a vila tinha na época. Aliás poderíamos ser induzidos, em face deste símbolo, a concluir que o concelho teria sido criado pelos Templários. No entanto tal não corresponde à verdade. No entanto, é sabido que a Ordem dos Templários primeiro e depois a ordem de Cristo, eram proprietárias de grandes extensões de terras naquela zona e daí a referência no brasão aquelas ordens.

O pelourinho de Marialva, que se encontra dentro do Castelo, recorda a autonomia Municipal que o concelho teve e, apesar do tempo, mantém razoável conservação. O pelourinho é um imóvel classificado de Interesse Público e a sua descrição consta… (Aqui.)
O pelourinho aparenta ser da altura em que foi concedido o último foral por D. Manuel I em 1512. Junto ao pelourinho existe ainda o poço ou cisterna do castelo.

O Castelo de Marialva foi começado a construir no tempo de D. Afonso Henriques, construção que depois foi continuada por D. Sancho I e D. Afonso II. Durante a crise de 1383/1385 Marialva e o seu Castelo tomaram o partido do mestre de Avis que saiu vencedor.
Situação inversa se verificou no século XVIII quando o Marquês de Távora, que era o alcaide do Castelo foi considerado o principal implicado no atentado contra o Rei D. José. A partir daí, a povoação junto e dentro do castelo começou a ser abandonada iniciando-se na zona sul uma nova urbe que é actualmente a sua parte mais desenvolvida. Sobre a evolução do Castelo pode consultar-se um texto… (Aqui.)
Numa das portas do Castelo, a porta principal a que se chama a porta do anjo, voltada a sudoeste, ainda se encontram inscritas nos pés direitos, as medidas utilizadas na época nas feiras medievais (vara, côvado e palmo), como acontece por exemplo na Sortelha a que se fez referência… (Aqui.)
Esta referência é certamente uma das primeiras medidas de regulação do comércio.
O castelo apesar de se encontrar bastante degradado, fruto da idade e da falta de manutenção e conservação, é ainda uma obra de arte, carregada de história que merece ser visitada por todos. A sua construção à base de granito tem contribuído para que, mesmo hoje, quase 1000 anos depois da construção ainda se mantenha de forma a que se pode perceber o seu real valor naquela época.
Para ter uma ideia do que estou a falar, convido o leitor a ver este vídeo que não dispensa, como é natural uma visita ao vivo… (Aqui.)
Considero impressionante a dimensão deste castelo e a robustez das suas paredes. A sua degradação actual não pode ser só atribuída ao decorrer do tempo. Aqui, não é preciso muitas justificações para poder concluir que grandes lutas se travaram e certamente numa fase em que o poder de fogo e destruição já não era apenas aquele que era usado nos conflitos medievais.
O conjunto arquitectónico de Marialva, que inclui o seu castelo, foi classificado como monumento Nacional por decreto de 12 de Setembro de 1978 tendo entretanto sido objecto de protocolo entre o IPPAR e a Câmara Municipal da Mêda com vista à sua recuperação… (Aqui.)
O Castelo de Marialva é parecido, em termos de forma com o Castelo de Vilar Maior no concelho do Sabugal, embora possua uma dimensão muito superior.
Numa zona como esta, e com a história que lhe está associada, só por mero acaso não existiriam lendas. Das várias que encontrei trago ao conhecimento dos leitores esta por se encontrar relacionada com o próprio nome da localidade… (Aqui.)
A aldeia faz parte do programa das aldeias históricas o que permitiu efectuar algumas obras de manutenção e conservação quer da parte interior do castelo quer mesmo da devesa… (Aqui.)
Marialva é uma freguesia do concelho da Meda com a reforma administrativa de 2013 manteve o território que possuía, não tendo por isso sofrido qualquer alteração… (Aqui.)
Em Marialva e principalmente no que resta do Castelo a História está à superfície em cada pedra que ainda se mantêm. Visitar uma localidade desta natureza não só é um dever como certamente será um prazer.
Vamos a Marialva tentar perceber, se capazes formos, as razões por que tanta gente lutou por estas terras. Só podem ter algo se especial. Vamos lá descobrir, vamos a Marialva.
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«Do Côa ao Noémi», crónica de José Fernandes (Pailobo)
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