• O Primeiro
  • A Cidade e as Terras
  • Contraponto
  • Cronistas
  • Documentários
  • Ficção
  • História
  • Personalidade Ano
  • Ficha Técnica

Menu
  • O Primeiro
  • A Cidade e as Terras
  • Contraponto
  • Cronistas
  • Documentários
  • Ficção
  • História
  • Personalidade Ano
  • Ficha Técnica
Página Principal  /  Lembrando o que é nosso • Opinião • Quadrazais  /  Considerações sobre «O Falar de Riba Côa»
16 Maio 2014

Considerações sobre «O Falar de Riba Côa»

Por Franklim Costa Braga
Franklim Costa Braga
Lembrando o que é nosso, Opinião, Quadrazais franklim costa braga, o falar de riba côa 2 Comentários

O glossário das palavras usadas em Riba Côa, da autoria de Paulo Leitão Batista, merece todo o meu apreço. Só quem já fez trabalho semelhante, como eu em «Quadrazais – Etnografia e Linguagem», saberá dar valor ao esforço despendido num trabalho desta natureza, em que só uma grande dedicação pelo trabalho permite que tantas horas de pesquisa não esmoreçam o ânimo.

Franklim Costa Braga na apresentação do seu último livro
Franklim Costa Braga na apresentação do seu último livro

O facto de existirem algumas falhas não tira o mérito ao trabalho global.
Proponho-me fazer algumas adendas seguindo as letras do alfabeto. Desta vez será a letra A. É necessário ter em conta o seguinte:

1 – Em Quadrazais, como em todo o território de Riba Côa, segundo creio, o v lê-se b. Apresento as palavras com v, como no Português normal, mas devem ter em conta que se lêem como b;

2 – O dígrafo ch lê-se tch, embora apresente as palavras escritas com ch;

3 – O a final átono, seguido ou não de s, se na sílaba anterior houver um i ou u tónicos, simples ou em ditongo, lê-se ê (manhê, Mariê, etc.), embora nestas palavras eu escreva a. Não sei se este fenómeno se dá em todo o território de Riba Côa;

4 – Corruptelas de palavras há-as em todo o Portugal. Em Quadrazais elas são ainda mais frequentes. Este facto já é documentado por J. Manuel Correia em «Celestina». O mesmo se pode dizer de síncopes e outros fenómenos fonéticos, como aféreses. Mas, não é o Português em grande parte corruptela do Latim? E o crioulo de Cabo Verde corruptela do Português? Com corruptelas se vão formando as línguas.

Vou apresentar as palavras como são pronunciadas em Quadrazais, já que o trabalho de Paulo Leitão Batista apresenta palavras nas mesmas circunstâncias em outras terras de Riba Côa. Não apresento as palavras alvo de síncopes, como: andrinha, ou de troca de vogais: ateçar, alruti.

Grande parte das palavras começadas por a, que agora acrescento, são provenientes de próteses do a às palavras do Português corrente: ametade, afugir, alâmpeda, etc.

5 – Paulo L. Batista dá exemplos de palavras usadas em determinada aldeia de Riba Côa, recolhidas por certo estudioso. Eu acrescento que essa palavra também é usada em Quadrazais com o sentido dado pelos estudiosos citados ou com outro sentido.

Um reparo que faço é o facto de Paulo L. Batista apresentar palavras usadas em Riba Côa com outro sentido para além do do Português corrente, sem assinalar o sentido corrente, que também têm em Riba Côa, ficando-se com a impressão que aí não têm esse sentido corrente. É o caso de: abaixar, aberta, abrunho, alfaiate, altar e outras.

:: :: :: Letra A :: :: ::

Abachucar – salpicar a roupa com água.
Abanicos – rendas de roupa interior das senhoras.
Abarcaduras – chapas de ferro que ligam o miulo dos carros de bois às cambas.
Abendçoar (ou abindçoar)
– abençoar (termo usado pelos mais velhos). Exemplos: Deus t’abindçoe; bindçoado sejas tu!
Abespreiro – vespeiro.
Abocar – abrir a boca aos animais de carga para lhes ver a idade.
Abornar – aquecer um pouco a água fria.
Abrenger – o mesmo que abranger.
Abrir a boca – bocejar.
Abrir o arado – levantar o timão em relação à teiró para que o arado penetre mais profundamente na terra.
Acachar-se – encolher-se (a galinha).
Acacha! acacha! – diz-se às galinhas para as meter no poleiro.
Acacheinar
– matar uma galinha, cortando-lhe o pescoço.
Açander – acender.
Acarditar – acreditar, crer.
Acarreija(o) – o mesmo que acarranja.
Açartar – acertar.
Acepreste – acipreste.
Achar-se doente – adoecer.
Achar-se bom(a) – ficar curado(a).
Aconha(s) – vassoura para aconhar.
Aconhar – varrer as espigas na eira.
Acosião (o aberto) – ocasião.
Açucre – açúcar.
Acumpanhamento – cortejo de casamentos e enterros.
Acusa-cristos – criança que acusa as outras.
Acusar curenta – ter medo.
Ade Maria – Avé Maria (termo usado pelos mais velhos).
A de rabo de – o mesmo que a rabo de.
Adstinência – abstinência.
Advartido – divertido, alegre.
Advartimento – divertimento.
Advartir – divertir.
Afinfar – o mesmo que afifar.
Afronta – desmaio.
Afugir – fugir.
Agaichar-se – o mesmo que agachar-se.
Agazeio – acto de agazear.
Aguilhão – ferrão da aguilhada.
Agulhada – o mesmo que aguilhada.
Agulhão – o mesmo que aguilhão.
Agradeadela – acto de agradear.
Agradear – gradar.
Agro – acre.
Ah! Ghi! Ghi!, Ah! Ghu! ghu! – gritos de agazeio.
Ajusto – o mesmo que ajuste.
Alagadiça
– diz-se da terra com muita água.
Alâmpeda – lâmpada.
Alanzoar – dizer palavras meigas a alguém para obter algo, adular.
Alça! Alça! – diz-se aos animais de carga para levantarem as patas.
Alçude – açude.
Aldeagas – vadio, preguiçoso, vagabundo.
Alembrar – lembrar.
Alevantar – levantar.
Alfacema – alfazema
Alfácia – alface.
Alimária – animal.
Alinho – produto ou acto de alinhar.
Aljabeira – algibeira-peça independente que se coloca sobre a saia das mulheres, atada à cintura.
Almeraria – alvenaria.
Almetria – almotolia.
Almieira – facho de palha.
Alpandrada (alpendrada) – espécie de telheiro à frente das capelas.
Alpata – termo usado numa variante do jogo da choina, em que tem de se bater na choina com o pau entre as pernas: andar por baixo d’alpata.
Alpragata – alpercata.
Alretar (alretar com a bucha) – pagar uma conta cara.
Alrute – arroto.
Alroto – arroto.
Altemoble – automóvel.
Altôr – altura (termo usado por crianças).
Aluedas (aluadas) – parvoíces: dizer aluedas.
Alumbrar – lembrar.
Amargulhão – mergulhão.
Ambre – fome.
Amegalhar – amealhar.
Amigo de – que gosta de.
Amitade – metade.
Amoijo – amojo.
Amolachim – amolador (termo usado pelos mais velhos).
Amolancadela – amolgadela.
Amontar – montar, cobrir a fêmea. No dia 1 de Maio, a quem não comer as maias dizem que lhe amonta o burro.
Amulado (estar) – estar tramado.
Amuntadoiro – local apropriado para subir para o animal de carga.
Anadiar – fazer rodar a farinha.
Anda – forquilha de pau comprida para carregar a moínha.
Andar de amagas – andar rastejando.
Andar de burrinhas – andar de gatas.
Andês – o mesmo que indês.
Andilhas – espécie de alforges duplos, de madeira ou de ferro, que se coloca por cima da albarda para colocar os cântaros que irão encher-se na fonte.
Ano bom (dia de) – Ano Novo.
Anos (uma porrada de) – muitos anos.
Antespassados – antepassados.
Antestinos – intestinos.
Aparecer-se – parecer-se, ser parecido.
Aparecido (bem) – bonito, bem apresentado.
Aparelho – mantas que se colocam sobre a albarda para ser mais cómodo montar.
Aporrear – apoquentar, sobrecarregar.
Apoi(s) – depois.
Apor-se – dispor-se a fazer algo.
Apurparar-se – preparar-se.
Aquepada (ocupada) – grávida.
Arado de aricar – arado leve e bem aberto, de teiró levantada.
Arado de decrua – arado mais forte e fechado.
Arado de estravessa – o mesmo que arado de decrua.
Arado de ferro – arado feito de ferro, mais pesado para mulas.
Arado garganteiro
– arado de garganta desafogada.
Arado inteiriço – arado em que o timão é feito de uma só peça.
Arado de pau – arado de madeira, normalmente para os burros.
Arble, arbre – árvore.
Arbledo – arvoredo.
Arpar – roubar (termo de gíria).
Arrã – rã. Também se usa em Quadrazais.
Arrandar – arrendar.
Arrate – arrátel.
Arrebantar – rebentar.
Arrecádias – arrecadas.
Arrédeas – rédeas.
Arrefartar – arrefertar.
Arregadia – regadia.
Arremangar – arregaçar as mangas ou as calças.
Arremediar-se – remediar-se.
Arrenagar-se – zangar-se, amuar.
Arrenúncia – renúncia; diz-se de alguém que não assiste com o naipe obrigatório no jogo das cartas.
Arreparar – reparar.
Arteiro – o que tem arte para alguma coisa.
Aselha da soga – extremidade da soga.
Assomar-se – visitar um terreno. Dizem no jogo do rócanacó: quem assoma, logo arroma (arrama).
Atafais – correia maior que passa por baixo da cauda do animal albardado.
Atafarrilha – correia mais fina que passa por cima do rabo do animal albardado.
Atirar a alguém – ser parecido com alguém.
Atiscar – ver, perceber.
Auguaçada – aguaçada, aguaceiro.
Auguaceiro – aguaceiro.
Áugua como é dado – grande chuvada.
Áugua a cântaros – grande chuvada.
Auguão – aguaceiro.
Auguar – acto de abortar por auguamento.
Augueira – caneira do telhado, chuva que cai do telhado.
Avaluar – avaliar.
Avantal – avental.
Avaricioso – avarento. Este termo não é só de Aldeia da Ponte.
Aventar – deitar os animais fora de propriedade alheia.
Avintal – avental.
Avoar – voar.
Azeventre – erva com que se faz chá para a dor de cabeça.
Azitona – azeitona.
Azitoneira – azeitoneira.

:: :: ::

Nota: Paulo L. Batista incluiu o termo Alifantes com o sentido de olhos, que retirou da minha citada obra. Este termo é um erro de dactilografia, corrigido na pág. 374 do 3.º volume do meu livro «Para que não se Perca a Memória de 400 Anos de Vida em Quadrazais». A palavra correcta é Alipantes.

:: ::
«Lembrando o que é nosso»,
por Franklim Costa Braga

:: :: ::

O Capeia Arraiana passa a contar com a colaboração regular de Franklim Costa Braga, professor natural de Quadrazais, que foi autor de diversos estudos sobre a sua terra. Escreveu dois livros, «Quadrazais – Etnografia e Linguagem» (1971) e «Para que não se Perca a Memória de 400 Anos de Vida em Quadrazais» (2012), o segundo composto por três volumes.

Publicou ainda estudos, nomeadamente sobre a gíria de Quadrazais, em revistas culturais, com a Praça Velha editada pela Câmara Municipal da Guarda.

Franklim Costa Braga assinará a coluna «Lembrando o que é nosso».
plb e jcl

Partilhar:

  • Tweet
  • Email
  • Print
Franklim Costa Braga
Franklim Costa Braga

Origens: Quadrazais :: :: Crónicas: «Lembrando o que é Nosso» :: :: «Viagens de um Globetrotter desde os anos 60» :: :: :: :: «Novela na Raia» :: ::

 Artigo Anterior O terrorismo e os terroristas
Artigo Seguinte   Mulheres de negro

Artigos relacionados

  • Os Munhos

    Sexta-feira, 5 Março, 2021
  • Que União é Esta?

    Sexta-feira, 26 Fevereiro, 2021
  • O Entrudo

    Sexta-feira, 12 Fevereiro, 2021

2 Comments

  1. Avatar João Vaz Responder a João
    Quinta-feira, 29 Maio, 2014 às 17:30

    Onde se podem adquirir os livros do prof. Franklim? Alguém me sabe dizer, nomeadamente o próprio se me estiver a ler? ficarei muito grato por uma resposta.

  2. José Carlos Mendes José Carlos Mendes Responder a José
    Sábado, 17 Maio, 2014 às 11:08

    Professor, sou do Casteleiro. Agradeço a oportunidade que nos dá a todos de tomarmos conhecimento. É assim que eu sei (confirmo) que somos diferentes – no linguajar, claro. Mas não só, se calhar. De Quadrazais, à minha aldeia chegava basicamente o contrabando – e isso ajudou as pessoas a viverem um pouco melhor com o pouco dinheiro que tinham…
    Permita então que registe quais os termos que conheço – da minha aldeia:
    Abachucar, mas diz-se lá: batchicar (prefiro colocar o t: acho que devo lembrar isso ao leitor mais jovem – e acho piada);
    Abanicos;
    Abindçoar;
    Abespreiro (mas o ei diz-se ê: absprêro,
    Abornar;
    Abrenger (mas dito abringer);
    Acachar-se (mas agatchar-se);
    Acacha! acacha! (mas dito gatcha, gatcha);
    Acosião (o aberto – e, acrescento: o primairo a bem aberto também);
    Acusa-cristos;
    Ade Maria (tal e qual);
    Advartido, Advartimento e Advartir;
    Afronta;
    Alâmpeda;
    Alça! Alça!;
    Aldeagas (aldeaga é uma pessoa que fala muito e pouco diz: um fala-barato, digamos);
    Alembrar;
    Alevantar;
    Almetria;
    Almieira;
    Alpragata (as tais que os contrabandistas nos trouxeram…);
    Amulado (estar);
    Aparecer-se e Aparecido (bem);
    Aparelho;
    Aporrear;
    Apoi(s);
    Apor-se;
    Apurparar-se;
    Arado de pau;
    Arrebantar;
    Arrecádias (para as orelhas);
    Arremediar-se (é arremediado: tem algum poder de compra);
    Arrenagar-se;
    Atafais;
    Auguaceiro (e augua);
    Avantal (mas dito avintal);
    Aventar (mas acho que se diz quando se deita um objecto fora por já não prestar);

    Do resto, Professor, nada.
    É pouco para tão curta distância, não acha?

Leave a Reply Cancel reply

RSS

  • RSS - Posts
  • RSS - Comments
© Copyright 2021. Powered to capeiaarraiana.pt by BloomPixel.
loading Cancel
Post was not sent - check your email addresses!
Email check failed, please try again
Sorry, your blog cannot share posts by email.