Noticiários mal apresentados. Programas de «chacha» no sábado à noite. Canais abertos que se fecharam à qualidade. Erros gramaticais a cada esquina. Bolas! Que raio de televisões temos? Ninguém arranca uma ideia de jeito? Que tristeza!
A pronúncia de cada sílaba, de cada palavra, devia ser a regra de aprendizagem profissional em TV. Sobretudo para os apresentadores de noticiário. A começar pelos mais jovens. Designadamente da parte de quem os acompanha. É que há notícias das quais não se percebem duas palavras que seja. Já não se ensinam os estagiários, enquanto o são e se lhes matraqueiam as regras? Mas será que alguém ainda se preocupa com eles? E connosco? E com o brio profissional? E eles mesmos não têm cabeça para gravarem estudar em casa a figura que fizeram?
Tinha já a peça quase pronta. Faltava a recolha de calinadas da semana.
Mas, por razões que não vêm ao caso, passou-me da ideia. Mas pensei: basta meia hora com a televisão ligada… recolhem-se logo três ou quatro. E se apanhar um directo ou dois sem rede, então ainda é mais simples, infelizmente. Olha. Meu dito, meu feito. Aqui ficam elas:
– «Foi enviado aos deputados uma nova versão da Carta».
– «Finanças alteram classificação de imóveis para os poder vender».
– «Já fazem dois anos que não perdia» – ai o futebol.
– «Existe muitas situações em que…».
– «Vivia curiosamente no mesmo largo aonde se deu o crime».
Apenas exemplos. E aquela repórter? Começa a peça em directo de Vila Franca a dizer que há problemas graves de poluição e, depois de ter falado o presidente da câmara lá do sítio e com o presidente da empresa pública responsável do aterro em causa, termina dizendo que não há motivos de preocupação… Bem preparada a peça, hem!?
Falei na semana passada do problema das chamadas de valor acrescentado. Marque o 707 não sei quê que vai ganhar 40 mil euros – repetem todo o dia… Pois bem. Um ex-operador de «call center» da PT conta-me que recebia reclamações de pais sobre mais de mil euros de telefone por causa destas coisas. E de idosos incapazes de pagarem as contas por causa deste tipo de chamadas que eles mesmos tinham feito: dois casos de mais de 300 euros em chamadas de «60 cêntimos mais IVA»… Problema criado pelos canais abertos. Um verdadeiro crime, acho. E não há quem os «prenda»? É que não basta dizerem que a ERC está a investigar. O caso passou a demasiado sério… Mas em todo o caso leia aqui a noticiazinha.
Agora, para acabar, o prato forte: A «Só Lixo TV».
No sábado passado apercebi-me de repente: todo o lixo do mundo desabou nos canais abertos nessa noite. Assim: RTP1 com o Festival da Eurovisão, SIC com uma barbaridade chamada Sabadabadão (Lili Caneças + João Baião + Júlia Pinheiro) e TVI com o «Master Chefs», um concurso de culinária eterno, longo, longo… Uma noite inútil. Uma «pepineira». Nem para as pessoas se divertirem aquilo dá, quanto mais com outros horizontes (aquelas coisas fúteis da cultura, sabem?). Será que estes canais já pensaram que há mesmo pessoas – sobretudo idosas – que, fora a televisão, não têm outras hipóteses de se ocuparem numa noite destas?
Será que os canais privados ainda sabem que são concessões de serviço público através de um bem público e que por isso mantêm o dever de serem úteis às pessoas?
Enfim: todo o lixo do mundo numa só noite – é um exagero assinalável, quase um recorde inconcebível. Mas foi isso. Foi exactamente isso. Vou tentar perceber que audiências teve cada uma destas pérolas… só para aquilatar outra coisa: o que foi que as televisões já fizeram dos cérebros dos seus telespectadores nestes anos e anos de massacre, de futilidade em futilidade, pelos degraus do lixo abaixo.
Já tenho as audiências: os programas da TVI e da SIC de sábado à noite foram os mais vistos do dia!
Tive vergonha desta tristeza de televisões que enfiam nos canais abertos. É terceiro-mundismo puro – sem ofensa…
Bolas! Bom dia, leitor.
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«Postal TV», por José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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