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Página Principal  /  A Minha Aldeia • Casteleiro • Religião  /  Casteleiro – memórias de Páscoa
21 Abril 2014

Casteleiro – memórias de Páscoa

Por José Carlos Mendes
José Carlos Mendes
A Minha Aldeia, Casteleiro, Religião josé carlos mendes, páscoa Deixar Comentário

Hoje, soltei a memória das coisas fortes da minha infância: as cerimónias da Semana Santa e da Páscoa. No Casteleiro, não me lembro de nada de muito trágico nessas celebrações, mas, mesmo assim, os actos religiosos eram muito marcantes. E o sino era a figura maior do ambiente aldeão. Sem outros recursos que não a minha imagem desses momentos religiosos com muita força, coloco-os aqui ao seu dispor, se lhe interessar. Quero sublinhar também que agora a minha aldeia vive dias grandes: na área da investigação de Saúde, está a decorrer o trabalho que muitos já conhecem, e, esta semana, vai ter lugar no dia 25 uma conferência sobre os 40 anos do Poder Local democrático. E não deixe de visitar o «Serra d’Opa», gazeta regional online. Está no ar a edição n.º 37. Para si.

O sino comandava os actos e a vida

A crónica de hoje é dedicada a memórias óbvias: as da Páscoa antiga. E da Semana Santa, essencialmente. Mas começo então lhe colocar ao dispor o link do «Serra d’Opa» n.º 37. Pode lê-lo, seguindo por… (Aqui.)

Vamos então às memórias puras e duras. Não perguntei nada a ninguém, desta vez, pois quero colocar em letra de forma (leia: «fôrma») aquilo que baila dentro de mim, e de quantos, desde a meninice.

A Semana Santa terminava bem para nós pois, apesar dos dramas vividos dentro da Igreja, depois no domingo de Páscoa e na Segunda-Feira de Folar, as coisas eram bem mais brandas. Por outro lado, azar dos azares, logo a seguir, vai de retomar as aulas, nas escolas onde se andava.

Vou recuar, agora mesmo – hoje, a escrita é ao sabor das recordações, não esquecer: como vêm ao cérebro, assim entram nas teclas e na Net e daí para os seus olhos e para o seu cérebro…

Lembraram-me agora as restrições gastronómicas próprias da época nos tempos de antanho.

Vou então recuar até ao Carnaval. Sempre me ensinaram que «Carne, Vale» (donde veio a palavra Carnaval) queria dizer «Adeus, Carne». E assim era: naquelas sete semanas da Quaresma não se comia nada de carne. Isso, quem quisesse cumprir. Mas acho que a generalidade das pessoas e das famílias cumpria. Quaresma: quadragésima, quarenta dias sem tocar na carne. No rigor das coisas seria assim, dantes. Isto, aparte as bulas e coisas do género, pois quem pudesse e quisesse, pagava e podia comer.

Mas havia um dia que não era sujeito a dispensas: a Sexta-Feira Santa.
Era dia de jejum (comer pouco) e de abstinência (não comer carne).
Acho que todas as sextas-feiras da Quaresma eram dias de abstinência.

O lava pés
O lava pés

Os dias que marcaram mais

Se calhar, o dia mais marcante para mim era a quinta-feira santa à noite: a cerimónia do lava-pés. Acho que se tratava de o pároco mostrar que era uma pessoa humilde, uma pessoa como as outras. Assim, nas cerimónias de quinta, lavava os pés aos homens da terra. Só aos homens, claro. Acho que não devia ser um acto simples, de facto: a higiene não poderia ser um dos maiores atributos dos homens do campo da aldeia. Imagina-se que era da parte do pároco, de facto, um grande sinal de abdicação de conforto.

Já não me recordo se os outros padres que vinham ajudar nas cerimónias também davam a sua colaboração no lava-pés. Parece-me que no final até beijavam os pés que lavavam. Mas isso já não consigo recordar…

A Sexta-Feira era o dia do grande silêncio na aldeia: o sino, que em todos os dias do ano marcava a vida rural dando horas para todo o espaço em volta até mais de um quilómetro ao redor, nesse dia calava-se e havia como que uma tristeza de toda a Natureza em torno do Casteleiro: era o dia em que Jesus morreu na Cruz. Era dia de não se rir nem mostrar satisfação com nada. Portanto, um dia único. Cristo morre às 15 horas.

Era a hora de toda a gente estar na igreja a honrar esse momento. E as cerimónias eram feitas em grande sentido de compenetração. As caras andavam tristes nesse dia. Não se comia quase nada e muito menos chouriça ou outras carnes. Queijo e bacalhau ou peixe… e pouco. Era o tal dia em que à abstinência se juntava o jejum.

O sino não voltaria a tocar senão no sábado às 10 da manhã e aí disparava a tocar sem parar horas e horas a fio. Era o Sábado de Aleluia. Voltava a alegria de ouvir o sino, de se poder comer, de se poder sorrir e rir à vontade.

Domingo era o dia de Páscoa, a Festa de Flores. Escusado será acrescentar que havia flores de toda a espécie por todo o lado. Um dia de alegria. Com a natural volta das comezainas à mesa da família e as missas solenes próprias dos grandes dias das cerimónias religiosas. E segunda-feira havia a grande volta do pároco à aldeia, entrando em cada casa e dando as Boas-Festas a cada pessoa que lá estivesse.

No final de cada visita, era recolhido o folar: as ofertas da família ao pároco: queijos, castanhas, figos e outros frutos secos, ovos e dinheiro. Era a Segunda-Feira de Folar. Terça descansava-se e quarta era a volta para a escola.

Igreja do Casteleiro
Igreja do Casteleiro

Dias de limpeza geral

Nas casas, era sagrado: na semana antes da Páscoa, era feita uma limpeza geral. Tudo bem roçado, tudo bem sacudido. Roupas que estavam, nas malas eram retiradas e arejadas nessa semana. Na Ribeira, a roupa era lavada e posta a corar. Uma tarefa que durava toda a semana. Na igreja e nas capelas também: roçar o chão e limpar os altares. Retirar os enfeites florais e outros para as cerimónias de Sexta-Feira Santa, em que tudo devia estar despido e pobre nos altares da igreja matriz.

Isso, para depois, no sábado, tudo se encher de flores e de vida: Cristo ressuscita ao sábado: é dia de festa para toda a comunidade religiosa. Por isso, é dia de repor a alegria interrompida na Sexta.

…Assim ficou marcada na minha arca de memórias a semana maior: a semana mais importante do ano no calendário da Igreja. Comparável apenas à importância que era dada ao Natal. Mas acho que a Semana Maior ainda é mais marcante, pelo seu carácter pesado e soturno que abre em «boom» ruidoso com a toada permanente do sino durante o dia de Sábado de Aleluia!

Espero que tenha passado bem a Páscoa. Bom resto de semana (e de ano) para si e para a sua Família.

:: :: :: :: ::

Notas
>> 1. A minha terra tem estado nas parangonas regionais e nacionais pelos melhores motivos e isso enche-nos a todos de orgulho. Um projecto que, sabemos agora oficialmente, já estava a ser trabalhado há meses, desabrochou: é um estudo na área da saúde. Muito importante. Veja… (Aqui.)

>> 2. Esta semana, o 25 de Abril faz 40 anos. Nada melhor para o celebrar do que recordar e debater uma das suas maiores conquistas: o poder local em democracia. Isso vai acontecer no Casteleiro.

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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes

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