Hoje é Domingo de Páscoa e para o evocar publicamos um texto que nos remeteu o escritor raiano Manuel Leal Freire alusivo a este dia de alegria e de mesa farta. No próximo domingo retomamos o «Poetando» dedicado às mil e uma invocações de Nossa Senhora.

Passadas as sete semanas da Quadragésima, lembradas na perlenga:
Ana, Magana, Rebeca, Susana, Lázaro, Ramos, na Páscoa estamos…
Levantei-me um dia cedo
Para acordar o sacristão
Encontrei Nossa Senhora
Com um ramo de oiro na mão
Passou Quinta-feira Santa
Sexta-feira da Paixão
Sábado de Aleluia
Domingo da Ressurreição
Alvissaras, minha Senhora,
Alvissaras vos venho dar
Que o Vosso Divino Filho
Já está a ressuscitar,
Dai-me alvissaras, Senhora,
Dai-mas que eu fui o primeiro
Fui eu que na torre pus
O raminho de loureiro…
Páscoa é alegria. E como nós somos uma unidade hipotalássica, composta de alma e corpo, aquele ledo estado do espírito reclama idêntica satisfação para a metade em que somos do barro de Adão.
Cabrito ou outra carne esfolada, ainda que de badana velha, é luxo a que poucos se podem dar. O recurso é a chamada prata da casa.
Um caldo de casulos – nome dado às vagens secas – secas não por luxo ou embirração, mas para aproveitar alguma coisa dum feijoal a que faltou água para as regas – onde se cozem dois pés de porco, adrede guardados, mas que depois se esbugalham com prazer e até sofreguidão.
Tudo reforçado com umas lascas duma espádua do mesmo porco, peça que nesse dia se abre. O repasto termina com uma manchinha de amêndoas doces e santinhos de açúcar, e nos povos mais da Raia com torrão espanhol e galhetas…
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«Poetando», poesia de Manuel Leal Freire
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