:: :: VILAR MAIOR (2) :: :: O livro «Terras de Riba-Côa – Memórias sobre o Concelho do Sabugal», escrito há mais de um século por Joaquim Manuel Correia, é a grande monografia do concelho. A obra fala-nos da história, do património, dos usos e dos costumes das nossas terras, pelo que decidimos reproduzir a caracterização de cada uma das aldeias nos finais do século XIX, altura em que o autor escreveu as «Memórias».

Homens ilustres
Era filho desta vila D. Gaspar do Rêgo da Fonseca, doutorado em cânones, provisor, visitador e vigário geral dos Bispados de Lisboa, Coimbra e Guarda e em 1637 Bispo da cidade do Pôrto. Faleceu em Lisboa dia 13 de Julho de 1639. Escreveu algumas obras dignas de nota, «Isentos de Malta» e «Igrejas de Braga».
Três eclesiásticos houve nascidos em Vilar Maior e falecido século passado um em Valongo, o Padre Júlio, outro em Badamalos, o Padre Bernardo Cardoso, outro mesmo nesta vila, o Padre Franco, com quem tivemos relações de amizade. É pároco do Safurdão o P.e Júlio Simões, que foi nosso condiscípulo no Liceu da Guarda e também amigo.
Era igualmente desta vila o general Frederico Garcia, que foi coronel de Infantaria 7, e comandante do Distrito de Reserva em Leiria. Em 1640 era conde de Vilar Maior D. Fernando Teles, casado com D. Mariana de Menezes, o qual foi um dos conjurados que acabaram com o govêrno dos Filipes.
Sexto conde de Vilar Maior foi D. Manuel Teles da Silva, 2.º Marquês de Penalva.
Assassino real
D. João, filho de D. Pedro I e de D. Inês de Castro, pouco depoi assassinar D. Maria Teles, sua esposa, em 28 de Dezembro de 1377 (Novembro, diz A. X. R. Cordeiro), refugiou-se em Vilar Maior, com grande séquito de voluntários que o quiseram acompanhar; mas, como não se julgasse suficientemente seguro e não confiasse excessivamente na protecção que na vila poderiam dar-lhe, retirou precipitadamente para S. Feliz de Gallegos, procurando depois o rei de Castela, abandonando aqueles o tinham acompanhado e ficaram nos casais junto do castelo, como nos diz Fernão Lopes.
Sobre o assassino ingrato, vimos a pág. 143 dos «Sermões da História» que se nacionalizou castelhano em Vale de Ia Mula, vindo como castelhano armado contra Trancoso e Elvas.
Uma lenda antiga ligada a Vilar Maior
Pela Páscoa de flores,
Pela paixão, se dizia,
Entrou em Vilar Maior
Uma grande cavalaria.
Levavam cavalos brancos,
Gente de muita valia,
Foram-se a esperar as môças
Que iam p’rà missa do dia.
Disse o tenente ao alferes:
– Qual daquelas é mais linda?
– A de vêrde bem me agrada,
Mas eu a do azul queria,
Hei-de roubá-Ia a seu pai
Inda que me custe a vida.
Não era ainda meia noite
A porta da mãe batia:
– Que fazeis aqui, alferes,
Às deshoras pela vila?
– Eu não venho por ti, velha,
Venho pela tua filha.
– Minha filha não está cá
Estd em casa da prima.
Mas pegou numa candeia,
Indo encontrá-la deitada
Na cama onde dormia.
. . . . . . . .
, . . . . . . . . . . . . .
-Por diós te peço alferes,
E pela Virgem Maria,
Que me deixes só vestir
Uma alva camisinha…
– Se a tu tens de bom linho
Dar-ta-hei de cassa fina.
-Por diós te peço alferes,
E pela Virgem Maria
Que me deixes só rezar,
Só uma Ave Maria.
Á Senhora do Castelo
Qu’ela é minha madrinha.
– Olha filha por onde andas,
Não sejas deshonra minha,
Medita nas barbas brancas,
Que teu pai na cara tinha.
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . .
-Aqui tens, oh! velha honrada,
Aqui tens a tua filha,
Ela não se quiz vender
Por isso tirei-lhe a vida.
– Venha cá a minha filha
Espelho onde me eu via
Antes a quero ver morta
Que a sua honra perdida.
. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . .
Eis aqui copiado este romance popular, ligado a Vilar Maior, relatando uma tragédia de amor, onde há paixão e sentimento. Nunca vimos esta lenda impressa, mas desde criança a ouvimos e, fielmente trasladada, aqui fica. Refere-se a antiquíssima época, anterior, quem sabe, ao domínio português.
Talvez venha em antigos cancioneiros, onde seja respeitado o rigoroso estilo da época, sem lhe faltarem versos, pois anda muito mutilada.
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«Terras de Riba-Côa – Memórias sobre o Concelho do Sabugal», monografia escrita por Joaquim Manuel Correia
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