:: :: VILA DO TOURO (2) :: :: O livro «Terras de Riba-Côa – Memórias sobre o Concelho do Sabugal», escrito há mais de um século por Joaquim Manuel Correia, é a grande monografia do concelho. A obra fala-nos da história, do património, dos usos e dos costumes das nossas terras, pelo que decidimos reproduzir a caracterização de cada uma das aldeias nos finais do século XIX, altura em que o autor escreveu as «Memórias».
Igreja paroquial e ermidas
No centro da povoação, a destoar do aspecto mesquinho e triste da negra casaria, destaca-se a igreja paroquial, ampla e elegante, embora de singela arquitectura. Está no centro da freguesia, cercada de bons muros, por iniciativa do falecido vigário, padre Teles, que mandou apear os velhos muros que eram do antigo reduto e que, embora velhos, podiam lá permanecer, sendo restaurados.
O altar-mor tem muito boa talha dourada, semelhante a outros que ainda existem em diferentes freguesias, conhecidos por altares de pássaros. Nele está N.ª S.ª da Assunção, orago da freguesia, escultura antiga, posto que imperfeita. Em 1323 foi taxada a igreja em 120 libras, juntamente com outras. Além dêste, existem os altares de N.ª S:ª do Rosário, S. Miguel, Coração de Maria, Coração de Jesus e Nossa Senhora de Tudo.
Por cima dum destes altares vimos a seguinte inscrição, que não soubemos decifrar:
JMDFA
(Poderá dizer j. mandou fazer?)
O tecto da capela-mor é formado por molduras douradas cercando quadros que represent.am os Apóstolos e Evangelistas. No altar-mor vê-se uma espécie de nicho para exposição, cercado de anjos e resplendores em relêvo. O púlpito é semelhante ao da igreja da Misericórdia do Sabugal e N.ª S.ª do Monte.
Na sacristia, decentemente ornada, vimos os paramentos e uma boa custódia de prata, obra de merecimento.
Perto da igreja, à direita desta, foi no tempo do P.e A. dos Santos Teles modificado o campanário, para colocarem o relógio.
Sobre uma lápide sepulcral existente na capela-mor vê-se a seguinte inscrição do lado do Evangelho:
ESTA
SEPULTURA E
DE ANT.º LOPEZ
VIGAIRO DES
TAIGREJA
QUE FALECE
O ANNO DO SOR
DE I……………
E DE ANTONI
O LOPEZ SEV
FILHO FLE
CEO ANNO
DE 1594 X
ANIM/EEO
RVMREQVI
ESCA [NT I] NPA
CE. AMEN.
Contou-nos o infeliz padre António dos Santos Teles que era destinado o local para sepultura dos párocos. Poucos meses depois falecia também êle. Era natural de Vilar Formoso, sobrinho do padre José Teles, que também ali foi pároco durante alguns anos.
Do lado da epístola vê-se outra lápide, cuja inscrição não pudemos copiar por falta de tempo. O local dela era destinado à sepultura dos comendadores, pois esta freguesia era pertencente à Comenda de Cristo, que apresentava o vigário, outrora freire professo.
Quando o Comendador ia à vila recebiam-no debaixo do pálio à entrada desta.
Para terminar a rápida noticia a respeito da igreja, vejamos o seu rendimento antes de o Baraçal se ter separado:
Côngrua, 110.000 réis; pé de altar, 120.000 réis; casamentos, 1.100 réis; baptisados, 420 reis, enterramentos de menores, 100 reis e bens de alma, 2.500 a 10.000 réis.
Tinha esta freguesia no fim do século XVII 270 fogos e 1.080 almas e actualmente 330 fogos e 1353 almas, não descontando a população do Baraçal. Em 1323 foi taxada a igreja em 120 libras, juntamente com a de S. Bartolomeu e outras, não sendo taxada a Ordem de Cristo.
Existem na Vila do Touro três ermidas: a da invocação de S. Gens, edificada no cume do outeiro que domina a povoação, a da S.ª do Mercado, no sítio onde se efectua o mercado do gado, e a de S. Lázaro, no extremo oposto da povoação. Esta tem ainda alpendre. Todas estão decentes e regularmente ornadas.
Fontes e chafarizes
Não há na Vila do Touro abundantes mananciais de água potável. Tem, contudo, a necessária para consumo nas fontes das Patas, de Paio Gomes e chafarizes do Carvalho e do Chorro e no poço do Caneiro, que fica no largo do mercado e tem um forte parapeito de cantaria.
O manancial mais abundante fica fora da vila, à saída para Pêga, conhecido pelo Chafariz do Carvalho, em cujo alçado se lê a seguinte inscrição:
J. M. J.
NOS ANNOS DE 1750
Pouco acima deste chafariz nasce um ribeiro com o nome sugestivo de ribeiro da Sibila, que vai desaguar à ribeira do Boi.
O chafariz do Chorro, cujo nome deve ser corrupção de jôrro, fica também no largo do mercado à saída para o Sabugal, do lado sudeste da povoação.
Tem um escudo com os sete castelos, entre os quais estão três mitras, encimado também por uma coroa que mais parece mitra, que tem em baixo-relêvo uma cruz, de braços curtos.
O chafariz é feito de granito fino e está bastante arruinado. Não vimos a data da construção. Tem uma bica de pedra, donde corre muita água para um tanque destinado aos gados.
Escolas oficiais
Há na Vila do Touro, há muitos anos, duas escolas primárias, uma para cada sexo. Foi durante muitos anos ali professor Bernardino Costa, natural da Rapoula do Côa e professora D. Piedade Marques, natural da Vila do Touro e irmã do falecido padre Joaquim Marques.
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«Terras de Riba-Côa – Memórias sobre o Concelho do Sabugal», monografia escrita por Joaquim Manuel Correia
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