Os mistérios da Serra d’Opa não têm fim. Não são só as lágrimas da princesa moura. Não são só o choro e os gemidos da moura encantada que se ouvem nos orifícios das rochas lá em cima. Não. É muito mais do que isso. Ora num momento em que alguns caminheiros se preparam para seguir serra cima e serra abaixo (no dia 19 de Abril), venho aqui a tempo e horas trazer-lhes nota dos novos mistérios que investigo sobre a dita Serra. Há dias, numa página de «Facebook» da Moita, um amigo natural desta aldeia vizinha do Casteleiro escrevia que, quando era miúdo, ia lá acima «ouvir o sino» no fundo de um buraco da serra. Um amigo do Vale de Lobo de antanho ia lá acima ouvir o barulho das ondas do mar num buraco. Saiba mais hoje nesta crónica. Entretanto, não deixe de frequentar diariamente o «Serra d’Opa». E hoje, dia da edição semanal, visite o n.º 30, com muito noticiário regional que lhe interessa (veja a última linha da presente crónica).

A propósito de Serra d’ Opa, deixem-me sublinhar que no dia 19 de Abril a empresa Rotas e Raízes leva a cabo uma caminhada e que os interessados devem inscrever-se a tempo e horas, para que tudo possa correr muito bem. A Serra merece. Amigos «virtuais» já me garantiram que não faltam – e isso será bom para todos. E fazer aquele percurso faz bem ao «stress» acumulado da crise e do trabalho. Força! Estarei convosco de corpo e alma.
Ainda a propósito desta caminhada, quero dar relevo à operação de reconhecimento do terreno e do percurso da iniciativa: Ricardo Nabais e outros responsáveis da iniciativa foram andar por aqueles locais todos e viram espaços dignos de antologia. Fotografaram e mostraram a toda a gente, aqui, na página de «Facebook» da empresa. As fotos têm em cima à direita uma legenda: «Anterior / Seguinte»: é só clicar e ver nada menos que 85 «diapositivos», cada um mais belo que o outro.
Uma das «vistas» mais magníficas por onde a caminhada vai passar é a parte da encosta a que chamei um dia «Rebanho de Pedras» que mostro numa das fotos desta crónica. E digam-me lá se não é isso mesmo que parece: animais de várias espécies, a viver em comunidade lá pela encosta abaixo…

O encanto mítico do talefe
Mas não é só destes encantos físicos da Serra que hoje quero falar. Trago também a memória dos encantos metafísicos e míticos deste monte de perto de 700 metros de altitude.
O talefe e o que ele significou sempre quando o olhávamos do Casteleiro, Isso, quando ele estava branquinho em luzidio. O talefe era o nosso limite de horizonte. Para lá do talefe era o mundo. Era preciso passar para lá do talefe: era assim que o meu cérebro via o talefe naqueles tempos de horizontes limitados.
O alto mais alto da Serra também, impressiona. Pedras. Granito. Formas estranhas.
Ora é exactamente no alto da Serra que estão as rochas mais míticas: as das mouras encantadas e as dos barulhos estranhos e misteriosos, intrigantes e fantasmagóricos.
Uma espécie de banda sonora de filme de fadas misteriosas.
Foi sobre as águas subterrâneas que sempre intrigaram a garotada e até os adultos que chegavam lá em cima que um dia destes, numa publicação que fiz na página da Moita-Jardim um conterrâneo escreveu de repente: «Eu subia quando criança, e ia ouvir no cimo o sino dos mouros se chamava Assim». Um sono chamado «Assim»???? Pedi mais explicações: perante esta revelação, nova para mim (um sino), pedi nova informação ao visitante. E essa nota chegou daí a pouco: «sou da moita e meu avô foi a origem da fonte dos Mourinhas o nascente vinha da serra e numa quinta da nossa família. Sim é um buraco na rocha onde à gente se debruçava e ouvíamos como se fossem badaladas de sino, mas hoje penso dar uma explicação. Devia ser gotas de agua que caíam numa nascente e o eco interno ampliava o som».

As mouras e o lago profundo
Mas tenho conversado com outras pessoas sobre o alto da Serra. As estórias de mouras encantadas já foram trazidas a lume por várias pessoas. De todas, escolho a versão do Dr. Jaime Lopes Dias, reproduzida por Américo Valente, do Vale da Senhora da Póvoa. As mouras que choram lágrimas de encanto, mas amedrontam quem se aproxima… Vá por aqui e veja com os seus olhos…
Eu mesmo, um dia, rememorei algumas dessas lendas deste monte encantatório. Pode ler aqui o que na altura escrevi, há dois anos.
Mas há mais na Serra. Agora, quando estes novos caminheiros subirem, espero que experimentem este calafrio pela espinha acima. É que, em certos buracos que existem lá bem no cimo, quando se assobia ou se grita lá para baixo, o eco é devolvido com tal veemência que assusta. Mais: se fizermos silêncio total, a Serra parece que se abre, que chora, que nos grita a pedir socorro.
Noutros dias (pode ser que tenham essa sorte a 19 de Abril), o que se ouve lá em baixo, no profundo desses buracos com que a Natureza nos presenteia lá no meio dos barrocos, é o claro marujar das ondas do mar.
Um braço de mar, dizia-se no Vale de Lobe daqueles tempos da minha infância…
Alguma coisa é. O ruído é igualzinho ao do mar.
Mas o que é que produz esse barulho? O que será, de facto?
Lençóis de água subterrâneos, certamente. Mas muita água. Gigantescos.

O mar nas entranhas da Serra
Apenas umas linhas para esta questão da água que haverá lá em baixo, duzentos ou trezentos metros abaixo do pico mais alto da Serra.
A água detectada pelas investigações oficiais é tanta lá no fundo, que, quando se andava à procura de águia para reforçar o abastecimento do Vale e da Meimoa, foram feitas prospecções em muitos locais e também na Serra. O que os aparelhos mostraram foi de tal modo gigantesco que se dizia que se andassem lá a escavar muito, a água ia jorrar por aqueles vales e zonas baixas, que até podia fazer desaparecer debaixo de água as localidades vizinhas, como o Casteleiro, o Anascer e Gralhais, a Benquerença, a Meimoa e o Vale…
Felizmente, os homens tiveram juízo e deixaram tudo como estava.
Mas o mar ruge lá dentro das entranhas da Serra d’ Opa. Ele está lá.
Agora a sério: será que temos aqui na Serra um mar interior da Terra e não sabíamos?
Vão lá ouvir e depois contem-nos, caros caminheiros de 19 de Abril!
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Notas
1. Bem lembrada a questão dos Regedores nos tempos da Ditadura de Salazar e Caetano. Foi recordado o último Regedor do Casteleiro: o ti’ Américo Fortuna, um bom homem e um homem bom – nada do que o regime queria dos Regedores… Esta peça do «Viver Casteleiro» é assinada por Joaquim Luís Gouveia – que se tem batido por temas deste tipo naquele blogue local. Uma boa iniciativa.
2. Pode aceder ao «Serra d’Opa», n.º 30, seguindo por aqui. O jornalinho passa a ter edição quase diária (quando há notícias, elas são logo inseridas – pelo que aconselho visitas diárias em busca de novidades.
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
Convite para dia 19
Ricardo,
Bela música, imagens bem caçadas.
Locais míticos que puxam pela minha imaginação sem esforço… apenas recordando tempos idos…
Boa subida.
Obrigado, então vai faltar a grande subida?
Desta mítica Serra jorram brutos caudais de água, quão palavras, entrelaçadas, constituíram este bonito texto.
Embalado pela força da PALAVRA, sou desafiado a trilhar cominhos e veredas, parados no tempo, até chegar ao cume não só da serra, mas também da imaginação que, aí, a minha mente conseguir alcançar.
Grande abraço Zé Carlos
Grande!
E alto, lá bem no alto… da imaginação.
Força!
“Um monte de pedras deixa de ser um monte de pedras no momento em que um único homem o contempla…”
A.de Saint-Exupéry
Grande Abraço
Bem lembrado…
Verdade oportuna.
Gd abraço, TZ.
Amigo Zé Carlos:
Em “VIVER CASTELEIRO”, já esclareci que o último Regedor do Casteleiro não foi o Sr. Américo Fortuna, mas sim o José Carrilho desde 1970 até 15 de janeiro de 1975.
um abraço de
Daniel Machado
Sim. Honra seja feita ao malogrado Zé Carrilho, sempre tão divertido nos bailes da aldeia ao longo de décadas, mais a sua Maria do Céu.
Um abraço.