Cuidar da nossa identidade nacional e concelhia é preservar para as gerações vindouras o nosso património identitário, seja ele material ou imaterial…
A marca da nossa identidade pessoal e coletiva encontra-se desde logo na atribuição do nosso nome. Fazemos parte de uma realidade complexa que se perde nos recônditos do tempo. Bebemos a nossa identidade no berço da família, na passagem pelo sistema escolar e na vivência em sociedade.
Somos moldados a uma cultura, língua, narrativa histórica, mitos de origem, características e particularidades próprias de uma nação que, no caso português, corresponde a um estado. Como diz José Manuel Sobral, a nossa identidade pessoal é inevitavelmente nacional, pela pertença involuntária a um coletivo.
Possuir uma identidade supranacional, nacional ou local não é sinónimo de uniformização. Antes pelo contrário. A nossa sociedade encontra-se dividida pelas linhas de classe, género, por assimetrias de poder e de região, de crença religiosa, de valores geracionais e de clivagens políticas.
O mal do totalitarismo é ser uniformizador e impositivo, reduzindo todos os ingredientes nacionais a uma pasta amorfa de argamassa, tal como refere Miguel Esteves Cardoso. Ser português é portanto reconhecer-se como parte de um coletivo que não se sobrepõe, antes coexiste com todas essas diferenças e conflitos que lhes são inerentes. Portugal e portugueses, Sabugal e sabugalenses (concelho) são identidades reproduzidas, emersas e desenvolvidas num espaço que é necessário conhecer e preservar.
As bases da nossa identidade assentam na herança grega, judaica, romana e árabe. Os princípios cristãos fazem parte da própria essência nacional, bem como os contributos filosóficos e religiosos de outras partes do mundo. Como diz Manuel Clemente, o caminho desta nossa identidade é um caminho aberto, pois ser português ou europeu nunca colocou travão a culturas ou povos vindos de fora.
A nossa identidade coletiva local (concelho do Sabugal) tem características comuns às nacionais e supranacionais. De igual modo encontramos especificidades, características e «maneiras de ser e de estar», muito nossas. Cuidar da nossa identidade é preservar para as gerações vindouras o nosso património cultural, artístico, religioso, material ou imaterial. Nenhum é mais importante do que o outro, sendo que todos se complementam. Mas se não sabemos de onde viemos, se não preservamos ou cuidamos do legado recebido, se não conhecemos as nossas raízes, como poderemos ter a ousadia de querer saber para onde vamos? O esvaziamento de conhecimento da nossa matriz genética poderá desvalorizar tesouros que podemos encontrar neste nosso concelho. Damos pontapés a pedaços de ADN da nossa história e cultura, que fizeram de nós o que somos hoje. Por razões, nem sempre legítimas, os legados (materiais ou imateriais) que são manifestamente mais populares são evidenciados enquanto outros, por razões estranhas, são subvalorizados e deixados à sombra do esquecimento.
Por isso é imperativo conhecer, ensinar, preservar, divulgar, promover a nossa identidade enquanto concelho rico de contributos que foram, e ainda são, maiores do que nós.
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«Desassossego», opinião de César Cruz
Amigo César
Mais uma vez obrigado pela clareza desta reflexão!…