:: :: PENALOBO :: :: O livro «Terras de Riba-Côa – Memórias sobre o Concelho do Sabugal», escrito há mais se um século por Joaquim Manuel Correia, é a grande monografia do concelho. A obra fala-nos da história, do património, dos usos e dos costumes das nossas terras, pelo que decidimos reproduzir a caracterização de cada uma das aldeias nos finais do século XIX, altura em que o autor escreveu as «Memórias».

Digna de visita é esta antiquíssima povoação, edificada numa encosta entre elevados outeiros e fragas escarpadas que ameaçam aparentemente despenhar-se sobre os moradores. Desde o cabeço de S. Cornélio e Aguas Belas até Pena Lobo e Bendada o território é constituído por uma série de elevados montes e outeiros.
Quem descer a encosta de Águas Belas para Pena Lobo pode disso convencer-se ao contemplar essa ininterrupta cadeia de montes, de alcantilados rochedos, logo no primeiro plano desse maravilhoso quadro que lhe oferece o horizonte, em cujo fundo se destaca a cidade da Covilhã, e a vasta e elevada serra da Estrêla, coroada de neves.
A povoação fica no caminho da Bendada para Aguas Belas, Sobreira e Sabugal, distando desta vila 13 quilómetros, a NO.
O aspecto da povoação é rude, porque a maior parte das casas são antigas, feitas sem a menor preocupação pela arte; mas todo aquele conjunto de casebres negros e toscamente construídos, envoltos em cêrros cobertos de frondentes árvores, quase todas frutíferas, especialmente oliveiras, dá-lhe um aspecto pitoresco. Despenham-se sobre as rochas cristalinos regatos, que se precipitam nos fundos vales, cobrindo as encostas carvalhos e castanheiros e um ou outro sobreiro.
A última vez que ali fomos, uma grande parreira ensombrava parte da sua rua principal.
A Serra da Vinha
A curiosidade levou-nos a visitar o sítio da Lapa do Urso, que fica ao sul da povoação, à distância de 1500 metros pouco mais ou menos, na Serra da Vinha.
É digna de visita, embora de dificílimo acesso, a Lapa do Urso, que dá nome ao sítio.
Esta lapa existe na parte ocidental dum elevado outeiro, constituído por enormes rochedos graníticos e cuja entrada deita também para o Poente.
Parece natural esta lapa ou gruta, devida ao deslocamento dalguns rochedos, que dessem lugar àquela enorme cavidade, que devia ter sido aproveitada pelos homens nos tempos pré-históricos. Nem o nome da lapa pode opor-se a tal conjectura, porque o urso existiu neste concelho e em toda a península, havendo muitos sítios com êsse nome.
Podia o urso ter precedido o homem que lhe disputasse a gruta ou aproveitá-ia depois que o homem a abandonara e começara a construir outras moradas.
É esta a opinião mais provável e no próprio sítio encontramos argumentos para se chegar a tal presunção.
Efectivamente, saindo da gruta e subindo ao cimo do outeiro, depois de escalar uns escarpados rochedos encontramos restos de muros toscamente construídos e vestígios de casas, grande porção de cacos, de louça e tijólos.
Tudo leva a crer que houvesse ali um castro, porque ao sítio chamam também Castelo dos Mouros.
Mas outras curiosidades devemos ainda mencionar junto destas ruínas.
Referimo-nos às fossas existentes na lage horizontal que cobre parte do outeiro, e que de algum modo serve de abóbada à lapa. Estas fossas ou poças, como ali lhe chamam, são, quase todas, de igual feitio, embora umas maiores que outras.
Não pode duvidar-se de que são devidas à mão do homem, porque ao acaso não pode atribuir-se feitio quase egual em todas.
Algumas têm o comprimento dum homem, como verificámos, pedindo a um indivíduo que ali nos guiou que se deitasse numa; mas têm pouca altura, de modo que meio corpo ficava fora.
Quase todas tinham em parte da parede um corte continuado na lage por um sulco, o que denota terem servido as fossas para recolherem qualquer líquido escoando-se por ali. Talvez que fossem ou representem um esbôço de lagar onde espremessem as uvas ou azeitonas. Uma delas, de maiores dimensões, produziu-nos essa convicção. Não entremos, porém, em conjecturas enquanto o local não fôr estudado convenientemente por quem tenha mais vagar e competência.
A Lapa do Urso serviu no tempo da invasão francesa de refúgio a muitos indivíduos de Pena Lôbo, como serviu a Lapa de Maria a muitas pessoas de Vale das Eguas e Valongo.
A lapa ou gruta é vasta, tendo um grande recinto coberto de abóbadas graníticas. Não foi explorada e tem, segundo nos disseram, uma comprida galeria, o que não pudemos verificar.
Vimos no Archeologo Portuguez, Vol. 11, pág. 21, que em Pena Lôbo apareceram uns braceletes de ouro, mencionados por Martins Sarmento no relatório da Expedição Científica à Serra da Estrêla, a pág. 15.
Pertencem a esta freguesia os lugares de Agua da Figueira, Bacelos, Casal do Vale, de S. Nicolau e as Quintas dos Carriçais.
Igreja paroquial
É um templo de regulares dimensões, com três altares, em nenhum dos quais vimos escultura que não fosse imperfeita. Tanto a de S. Nicolau, como as de S. Francisco, S. Braz e outras, são menos de medíocres. O côro também é regular.
A igreja fica no meio da povoação e em tôrno dela o cemitério. Perto da igreja vimos uma casa ainda nova onde se lia a seguinte inscrição:
CAZA D’EGREJA P.
F. POR ANONIMOS
Em 1850 A 1879
O orago da freguesia é S. Nicolau. Tinha esta povoação 80 fogos e 320 almas nos fins do século XVII e actualmente 118 e 521 almas.
Devemos ainda dizer que na igreja vimos duas bandeiras de Irmandades, sendo a mais antiga muito regularmente pintada, tendo algum merecimento.
O rendimento paroquial é o seguinte: Côngrua, 80.000 reis; pé de altar, 12.000 reis; passal, 3.000 reis. Total, 95.000 réis. Casamentos, 400 reis; baptisados, 400 reis; enterramentos de menores, 200 reis; bens de alma, desde 5.000 a 10.000 reis.
A saída da povoação existe a capela de S. Sebastião. Era natural desta freguesia o Pe João Nunes de Paula, que durante muitos anos paroquiou a freguesia. Era casado e, tendo-lhe morrido a mulher, foi estudar e dedicou-se à vida eclesiástica. O actual pároco é filho de uma sua filha e portanto neto do falecido.
Na povoação passa um regato, que seca no estio, e próximo dela um outro, de águas abundantes. Tem a freguesia uma fonte abundante, cujas águas são muito boas.
Colhem-se em Pena Lôbo todos os produtos do resto do concelho e criam-se também bons gados. São afamados os queijos e manteiga daqui. Em todo o limite há muita caça, especialmente perdizes, coelhos e lebres.
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«Terras de Riba-Côa – Memórias sobre o Concelho do Sabugal», monografia escrita por Joaquim Manuel Correia
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