Na sequência duma recente presença no Sabugal constou-me que o meu nome tem sido visto de forma controversa nalguns meios sabugalenses. Tendo eu vindo a realizar há mais de quatro anos uma investigação sobre a presença judaica e cristã-nova no concelho do Sabugal, de que resultou até ao momento um estudo de 200 páginas, e tendo em conta a polémica existente em torno dos armários descobertos, designadamente o da Casa do Castelo, achei por bem esclarecer o que penso sobre o assunto.

O trabalho do historiador baseia-se sobretudo em documentos escritos, mas muitas das teses formuladas por conceituados historiadores assentam em probabilidades cientificamente sustentáveis. Contudo, não se devem confundir afirmações irresponsáveis ou especulativas com propostas de interpretações historiográficas fundamentadas. Ora, a questão dos armários – tal como a das sinagogas secretas ou a das inscrições nas fachadas de habitações, designadamente os cruciformes – tem sido objeto de debates académicos entre historiadores, arqueólogos, arquitetos, antropólogos e sociólogos.
Trata-se de um debate legítimo e tão necessário quão recente é esta matéria. Seria fácil para os historiadores e, quiçá, intelectualmente pouco estimulante, encontrar documentos escritos que resolvessem positivamente (a expressão não é aleatória, se nos reportarmos à história positivista que muitos insistem em não ultrapassar) as questões acima enunciadas. Se o papel do historiador atual fosse apenas coligir documentos e relatar o seu conteúdo, eximindo-se de os interpretar ou ensaiar propostas de explicação, então teria parado no tempo há séculos.
Em consequência, à falta de fontes escritas, o historiador não deve demitir-se de abordar os problemas com que se depara. Alguns investigadores preferem mesmo concluir sistematicamente os seus estudos com um «Nim», ou seja, nem não nem sim. É uma opção legítima, mas sintomaticamente cómoda em muitos casos. Pessoalmente, não tenho pautado a minha investigação por afirmações precipitadas e gratuitas. Informo-me, investigo, reflito e, se considerar que estou em condições de propor uma explicação, apresento-a por escrito e fundamento-a, para que não seja deturpada ou suscite acusações infundadas.
No texto que segue, vou reportar-me apenas às sinagogas secretas e aos controversos armários.
As Sinagogas Secretas
Embora não seja esta a questão central que tem alimentado as polémicas no Sabugal, vale a pena abordar brevemente este assunto, que também tem merecido muitas reservas. Quer em Espanha, quer em Portugal, as sinagogas secretas têm originado um debate interessante, sobretudo nos meios académicos.
Penso que se deve iniciar a sua abordagem por uma questão metodológica que não é recorrentemente tida em conta. E isto também se aplica aos referidos armários. Na verdade, muita gente tem a pretensão de identificar uma sinagoga secreta ou um armário cultual com uma sinagoga autorizada do período medieval e um «Hekhal» (ou «Aron Hakodesh») onde se guardava a Torá. Ora, não é expectável que, entre o decreto de expulsão dos judeus (1496) e o fim das perseguições inquisitoriais (último quartel do século XVIII) as sinagogas secretas e os armários tivessem características similares aos que existiam no período medieval. Do mesmo modo, dificilmente se encontrará uma Torá num armário de um cristão-novo judaizante (um criptojudeu). Esta circunstância implica dificuldades acrescidas para os investigadores que se dedicam a esta matéria.
Quanto às sinagogas secretas, Elias Lipiner identificou algumas no seu livro «Terror e Linguagem: um Dicionário da Santa Inquisição» (1999). A título de exemplo, atentemos no caso mais célebre de António Homem, professor da Universidade de Coimbra, que foi queimado no auto-de-fé de 5 de Maio de 1624. Eis uma descrição dessa sinagoga, revelada pela sentença inquisitorial de António Homem (Arquivo Nacional Torre do Tombo, Inquisição de Lisboa, processo n.º 15421):
«(…) que o Réu se achara por muitas vezes em companhia de pessoas de sua nação, ajuntando-se para celebrar o jejum do dia grande, que vem no mês de setembro, o que faziam na forma seguinte: preparava-se a casa em que se havia de fazer o dito jejum, alcatifando-se o pavimento dela, e a uma parte se punha um bufete coberto com um pano de seda, e nele castiçais com velas acesas, e no meio dela se dependurava um candeeiro de latão com muitos lumes, e à hora assinada entravam todas as pessoas que se achavam na dita solenidade, para a dita casa com melhores vestidos, barbas feitas, descalços, sem capas nem chapéus na cabeça, e se encostavam às paredes, e em alguns dos ditos jejuns se lhes vestiam umas vestes brancas que chegavam até [à] cinta, e se lhes punham umas correias com nóminas atadas pela testa; e estavam com os braços cruzados, e em muitas das ditas solenidades em que o Réu António Homem fez por muitas vezes o ofício de sacerdote, estava sentado em uma cadeira de espaldas, e dela fazia prática às ditas pessoas, exortando-as a que vivessem na Lei de Moisés, referindo-lhes algumas autoridades do Testamento Velho, e as ditas pessoas, em certos passos da prática faziam gaios, levantavam os olhos ao céu, punham as palmas das mãos viradas uma para a outra, baixando as cabeças até aos peitos, e inclinando-as a uma e a outra parte, e o Réu repetia alguns salmos de David sem gloria patri (…) E mandam que as casas em que se faziam as ditas solenidades de jejuns e ajuntamentos, em detestação de tão grave crime se derrubem e assolem e ponham por terra, semeiem de sal e nunca mais se tornem a reedificar.»
Como se vê, as práticas judaicas persistiam em pleno século XVII, tal como constatámos nos processos da Inquisição referentes a cristãos-novos naturais e moradores no Sabugal entre os séculos XVI e XVIII. Neste caso, trata-se da celebração do «Yom Kippur», o Dia do Perdão judaico, a mais importante, quer para os judaizantes dessa época, quer para os judeus de hoje.

Um Armário no Sabugal
Quanto aos armários, se até aqui não se podia confirmar documentalmente a sua existência para fins religiosos, depois de termos encontrado, em processos da Inquisição, referências à existência de um armário no Sabugal, onde os criptojudeus guardavam o Antigo Testamento e livros de orações da crença na Lei de Moisés (habitual identificação processual dos judaizantes), já podemos afirmar cabalmente que eles existiam no Sabugal.
Essas referências aparecem nos processos de João Lopes Nunes e de seu pai, Manuel Lopes. João Lopes Nunes (ANTT, IL, 2354) foi preso por duas vezes, a primeira em 1704 e a segunda em 1730, nasceu no Sabugal e morava no Rio de Janeiro. Seu pai residia no Sabugal e, numa sessão de confissões na Mesa do Santo Ofício, João descreveu o local onde ele guardava os livros de orações judaicas: «(…) e que o dito seu Pai tinha mais livros pertencentes à mesma Lei de Moisés, os quais ele confitente nunca viu, e o dito seu Pai os tinha em um armário fechado, no qual também estava a Escritura Sagrada (…)»
Não foi possível identificar o local onde vivia Manuel Lopes, pelo que ficamos sem saber se o referido armário era um dos dois que se encontraram no Sabugal: o da Casa do Castelo ou o da Rua D. Dinis. Até pode tratar-se de outro, o que, em termos historiográficos, ainda é mais interessante. Do ponto de vista da criação de um roteiro judaico no Sabugal, seria muito importante localizá-lo, pois passaria a ser a primeira prova material desse tipo de armários com funções de Arca Sagrada.
Partindo das características conhecidas dos «Hekhal» do tempo do judaísmo permitido pelos nossos reis (até 1496), há investigadores que persistem em compará-los com os armários encontrados em várias zonas do país, tais como Castelo de Vide, Porto, Guarda, Castelo Mendo, Sabugal, Vilar Maior, designadamente a orientação para Nascente.
Na verdade, o criptojudaísmo (ou o marranismo), por ser proibido, não possuía sinagoga livre nem rabino autorizado, pelo que o rigor não seria a prioridade dos praticantes da crença na Lei de Moisés, mas a segurança de famílias inteiras que disfarçavam o seu judaísmo com o batismo e a ida à missa, para evitar suspeitas perigosas para todos os que se juntavam regularmente para celebrar as cerimónias da Lei de Moisés.
O armário da Casa do Castelo é um exemplar magnífico, que não deixa ninguém indiferente. Mostrei, a uma arquiteta, uma foto dele no estado em que foi encontrado, perguntando-lhe do que se tratava. Respondeu-me, naturalmente, que era um armário. De seguida, mostrei-lhe uma foto do seu estado depois de restaurado. E disse-me que se tratava de «outra coisa». Contudo, era o mesmo, por mais incrédula que a arquiteta tenha ficado, não se atrevendo a classificá-lo como um vulgar armário.
Infelizmente, não temos nenhuma prova documental que o certifique como «Hekhal», tal como acontece com a generalidade dos casos acima referidos, nomeadamente o de Castelo de Vide. Mas, temo-la para a existência de pelo menos um no século XVII no Sabugal, como vimos. Ademais, deve acrescentar-se que há registo fotográfico de indícios de que o armário da Casa do Castelo teria sido deslocado de outra parede para aquela onde foi encontrado.
Tendo em conta a investigação que tenho vindo a fazer, o estudo comparado de outros casos, as suas características singulares e a prova documental citada, estou convicto de que o armário da Casa do Castelo foi utilizado para o culto dos judaizantes sabugalenses.
Finalmente, considerando o estudo dos 143 processos da Inquisição referentes ao Sabugal (naturais e/ou moradores), dos quais 116 (81%) foram acusados de judaísmo, reitero a sugestão já feita publicamente de que este concelho tem excelentes condições para a criação de um Centro de Interpretação do Judaísmo no Sabugal, baseado no riquíssimo acervo documental coligido, constituído, designadamente, por jejuns, orações, alimentação, hábitos, locais de residência e culto judaicos. Não o fazer, constituiria uma oportunidade perdida para a fruição do conhecimento de uma componente importante da identidade sabugalense, para a criação de um espaço único no mundo sobre a realidade cristã-nova e para a implementação de um polo de atração cultural, com potencialidades económicas para o concelho do Sabugal. Sem dúvida, que a Casa do Castelo reúne as condições ideais para o instalar.
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«Na rota dos judeus do Sabugal», crónica de Jorge Martins
Agora imaginem se se soubesse do armário da Torah em Valongo do Côa…
Obrigado, caro amigo José Levy Domingos. Abraço.
Caro Dr Jorge Martins
Somente hoje li o seu artigo acima e permita-me que o felicite pelo trabalho que tem feito com rigor cientifico sobre o Sabugal e a presença dos Judeus neste concelho. Quanto ao armário da Casa do Castelo eu mesmo considero, baseado na tradição de minha familia, dos saberes que tenho e que”herdei” sobre este e outros assuntos judaicos bebidos non seio familiar onde as práticas eram ( ainda são em casos muito específicos) secretas ou longe dos olhos dos “goim”, que é um armário cultual. Há muito – e eu já por aí muita coisa escrita sobre os “armários judaicos” – de confundir armários de parede tão caracteristicos de casa dos seculos XVII-XVIII sobretudo com locais ou armários onde se colocava a Torah. Ora um rolo não caberia nesses armários mas sim as candeias que “alumiavam as almas” ( era assim que se respondia a quem curiosamente perguntava sobre as candeias acesas sobretudo no shabat). Por outro lado atente-se na presença de locais onde poderiam estar sim outros elementos da liturgia judica como o azeite, o vinho , a água ou até mesmo o linho das torcidas.
Aquele armario que foi movido de local, era demasiado grande até para ser uma simples cantareira se bem que, em alguns armarios de parade existe espaço para colocar o candeeiro ou candeia (s) e na parte inferior os cântaros. Acresce aqui ainda que muitos armarios estavam emparedados ou cobertos quando se tratava de exemplares cultuais. E isso acontecia certamente nas tais ” sinagogas secretas”, melhor, casas do Culto, secretas, como era até ha bem pouco tempo casos de Vilarinho, Foz Côa, Pinhel, etc. Os livros eram guardados neles e por vezes disfarçados em outro tipo de arrumos. Recordo o arma´rio que nossa casa possuia e que, lamentavelmente , a remodelação levou a destruição. Era vexteriromente de madeira , numa parede quae à esquina, virada a oriente e o interior de pedra . No concelho de Mêda, onde Shwarz encontro aind os tais critpo-judeus no seculo XX e onde se radicou parte d eminha familia paterna ( que não é deste concelho mas de origem de Foz Côa onde ainda hoje são conhecidos por Judeus e por “latas” por meu bisavô Thomas ter sido latoeiro, profissão tradicional na familia cujos instrumentos guardo pois na nossa tradiçâo passam de mais velho para mais velho da familia).
Lamento que não seja compreendido no Sabugal mas acredite que pode não ser por toda a gente. Lembro que tinha bonitos e interessantes projectos para o sabugal e os estudos estavam a conduzir a isso. Felicito o seu trabalho e acredite ” a razão mesmo vencida não deixa de ser razão – Antonio Aleixo)
abraço
Caro Arqº e Amigo José da Conceição Afonso,
Obrigado pelo seu comentário.
Aproveito para informar todos quantos se têm preocupado com esta questão que, neste momento, está a estudar-se a possibilidade de musealização da Casa do Castelo. É uma boa notícia e esperemos que se concretize.
Abraço,
Jorge Martins.
Foi com uma grande tristeza que vi partir a Natália Bispo sem a concretização deste sonho! Depois da missa de corpo presente, tive vontade de passar pela Casa do Castelo, e as lágrimas caíram-me dos olhos, sem que as conseguisse controlar.
Caro Prof. Jorge Martins
Conheci o armário da Casa do Castelo durante a última obra de remodelação efetuada no edifício e conheço-o de igual modo na posição atual. Segundo informações recolhidas da proprietária, Sr.ª Natália Bispo, por quem tenho grande consideração e amizade, a localização e orientação original do armário não correspondia à última nem à penúltima localização e orientação. O armário já esteve portanto em três sítios que se saiba. Posso afirmar que a altura a que o mesmo se encontrava quando o vi antes da casa ter sido remodelada, era totalmente desadequada para funcionar como cantareira. Acresce o facto de que o referido armário apresenta uma monumentalidade nada justificável para simples cantareira. A casa pelas suas características apresentava um conjunto de elementos indiciadores de criptojudaísmo como portado biselado com cruciforme na ombreira e desalinhamento de vãos. A existência ou não de ligações interiores desta casa às confinantes, é também um dado importante a saber para efeitos de prática de culto em segredo.Creio não estar enganado ter ouvido da proprietária que tais ligações existiram.
Com um abraço
José da Conceição Afonso
Caros Colegas e Amigos Noémia e José (dispensemos os “doutores”, por favor).
Na verdade, iniciei esta aventura de estudar a presença judaica e criptojudaica no Sabugal por causa do armário da Casa do Castelo. Foi bom para mim, porque toda a investigação nos acrescenta saber e eu passei mesmo a dedicar grande parte das minhas preocupações historiográficas aos processos da Inquisição. Tornei-me sabugalense adotivo (por alguns sabugalenses de quem gosto), mas nunca pensei que fosse tão difícil valorizar um património rico como o Sabugal tem. Hoje, tenho sérias dúvidas de que alguma coisa se faça em prol da historia judaica e cristã-nova no concelho do Sabugal. Em consequência, interrompi tudo o que estava a fazer sobre o Sabugal (o livro, que está quase terminado e um projeto de musealização da Casa do Castelo), por estar plenamente convencido que nada se fará.
É lamentável que tenha chegado a este inimaginável ponto, mas cheguei à conclusão que basta o poder de um funcionáriozeco para impedir que se faça algo que lhe escape ao entendimento, ou que não tenha conhecimentos para avaliar, mas que tem o poder de decisão. Não é caso único no país, mas fiquei deveras surpreendido por essa constatação.
Paciência! Por mim, tenho outros projetos, que estavam em lista de espera por ter dedicado ao Sabugal grande parte do meu tempo disponível.
Ainda bem que há (muitas) pessoas como vocês, nomeadamente arquitetos e arqueólogos sérios que compreendem a importância desta realidade. Foi um prazer conhecer-vos.
Até sempre.
Abraço Amigo,
Jorge Martins
Caro Jorge Martins,
Nem quero acreditar no que estou a ler!
Mas, para que precisa da CM Sabugal para editar o seu livro?
Já para a musealização da Casa do Castelo acredito que fosse necessária uma parceria com a câmara.
Lamento muito o que está a acontecer.
Cumprimentos,
Graça Ribeiro
A propósito do “armário/cantareira” da Casa do Castelo
Caro Colega, Doutor Jorge Martins
Por má sorte, por azar, tombou o maná em sítio agreste…
Em boa verdade, provas cabais desse anátema nos chegam a cada momento, acompanhadas de uma arrogância afinal companheira de mentes entravadas, ou seja de cabeças atiradas para a frente dando as costas ao céu…
Daqui continuamos a crer na sua probidade intelectual e científica.
Nessa medida e sem esmorecimentos, exortamo-lo a manter a caminhada pela História da riquíssima Herança Judaica do Sabugal, pese embora o perigo da certeza de se ter razão.
“Que os céus rejubilem e que a terra exulte”…
(Salmo 96)
Saúde e fraternidade!
Sempre, dos Colegas Arqueólogos
Noémia Maria e José (Machado Lopes
Caros amigos Al Cardoso e Ramiro Matos e colega e amigo Carlos Gomes, obrigado pelas vossas palavras de estímulo. Uma palavra especial para um amigo especial de há 26 anos, o Carlos: não sei se te lembras, mas a gloriosa sessão do nosso estágio foi em fevereiro de 1988. Abraço aos três. Claro que tenho acompanhado o “dalgodres” e também lhe digo, é indispensável que o caro amigo continue com o seu esforço de divulgação da herança judaica na sua terra. Não está sozinho!
Bem haja;
A minha maior dificuldade e a distancia, pois como talvez sabera eu resido habitualmente nos USA, felizmente a anterior Camara decidiu interessar-se por este tema, promoveu bastante inventariacao, e pediu e conseguiu, ser admitido o municipio da “Rede de Judiarias”! Todo este trabalho era para ser complementado com maior divulgacao, e, o jornalista Dr. Jose Levy Domingos, estava a colaborar com a Camara, acontece que com as ultimas eleicoes passou a ter um executivo de partido diferente e, eu ainda nao consegui encetar conversacoes com o novo, pelo que nao sei em que ponto esta a situacao.
Bem haja pelo incentivo.
Um abraco.
Albino Cardoso.
Espero que tudo se ultrapasse e chegue a bom termo. Abraço. Jorge Martins.
Quando a investigação é isenta e séria ,deve prosseguir, doa a quem doer!
Como diz Carlos Alberto Morgado Gomes,”A caravana passa e a história dará razão a quem a tiver”
Caro Jorge:
Como Sabugalense, como teu antigo colega de Faculdade, como teu colega Professor, como teu grande amigo, peço-te que continues o teu trabalho científico, rigoroso e desinteressado sobre os judeus no Sabugal, como mais ninguém será capaz de o fazer. Quem conhece estas questões sabe as dificuldades…
A caravana passa e a HISTÓRIA dar-te-à razão.
Um grande abraço
Carlos Gomes
Caro professor Jorge Martins.
Antes de mais, e enquanto sabugalense, obrigado por continuar a interessar-se pela história das nossas terras.
A luta contra o patrirmónio judaico existente e/ou a descobrir, centrada na luta contra a Casa do Castelo e os seus proprietários, sempre me pareceu como reminiscências inquisitórias, como se alguns dos mais acérrimos “inimigos” fossem descendentes de antigos inquisidores concelhios…
Não tenho, como sabe, conhecimentos teóricos que me permitam dizer se o património judaico no Concelho é ou não importante.
Por isso confio em pessoas como o senhor e outros estudiosos e, sobretudo, acredito que este é um tema que, pela sua importância, enquanto factor de atracção de novos visitantes e turistas, deve merecer outro tipo de abordagem que não a constituição de facções pró e contra.
Aliás, se o património judaico não fosse importante e significativo no Concelho a que título o Município do Sabugal integrava a Rede das Judiarias de Portugal?
Espero que os pretensos ataques inquisitoriais que lhe vêm movendo, não sejam de molde a afastar o prof. dos seus estudos e das suas comunicações.
No fim se verá o que movia aquela gente e quem tinha e tem razão.
Pois e caro Professor, embora pelos meus lados não tenha havido ainda nenhum contraditório, nos também estamos muito menos avançados com os estudos nesta área! Já no entanto gente de outros municípios, me pôs em causa os cruciformes, e a sua relação com os antigos judeus!
Embora sem a sua erudição, iniciei vai fazer este ano 9 anos a inventariação e divulgação dos vestígios de judeus e “cristãos-novos” no município de Fornos de Algodres.
E queiramos ou nao, existem muitas semelhancas em toda a nossa Beira, das casas onde esses cruciformes aparecem!
Numa coisa concordo com os criticos, realmente os cruciformes referem-se a “cristãos”, sejam eles verdadeiros ou discimulados, e ai tudo bem! Mas quando junto aos cruciformes ou noutro lugar da mesma casa, aparecem um menorah ou estrelas de David ou Salomao! ou quando são os próprios cruciformes que parecem outra coisa que não cruzes, que nos dirão os críticos?
Continue, pois felizmente tem escrito muito da nossa história, que nos esconderam durante centenas de anos!
E receba um abraço beirão.
Suponho que ja conhece o meu humilde blog: http://dalgodres.blogspot.com