:: :: LOMBA DOS PALHEIROS :: :: O livro «Terras de Riba-Côa – Memórias sobre o Concelho do Sabugal», escrito há mais se um século por Joaquim Manuel Correia, é a grande monografia do concelho. A obra fala-nos da história, do património, dos usos e dos costumes das nossas terras, pelo que decidimos reproduzir a caracterização de cada uma das aldeias nos finais do século XIX, altura em que o autor escreveu as «Memórias».
Situada numa encosta ou lomba, como ali se diz, está esta freguesia a 13 quilómetros a N. do Sabugal, a poucos quilómetros da estrada do Sabugal à Guarda. Cercada por todos os lados de pinhais e outras árvores, mal se descobre ao longe esta pequena povoação, onde se nota um certo asseio e algumas casas caiadas, facto raro na maior parte das povoações do concelho, devido à falta e, por isso, ao grande custo da cal, quer esta venha de Espanha quer da Figueira da Foz, porque em todo o distrito da Guarda os terrenos são chistosos e graniticos.
É banhada por um ribeiro em cujas margens há bons prédios. Foram previdentes os hábitantes de há trinta a cincoenta anos, semeando penisco, que enche as terras estéreis, abrigando as outras com muitos pinhais de que agora tiram grande proveito, não só utilizando os pinheiros para combustível, mas para construções.
A Lomba e Pousafoles compreenderam há muitos anos o que outras freguesias ainda hoje ignoram – a vantagem dos pinhais – e por isso existem ali muitos.
A povoação é pobre, pois que os seus limites são pouco extensos e, como grande parte é ocupada por pinhais; a produção é diminuta, colhendo pouco centeio e trigo, algum milho, feijão, linho, bastantes batatas e algum vinho.
Tem à saída da povoação uma fonte abundante em água, embora tenha o defeito de ser de mergulho, contra todos os preceitos higiénicos. Existe uma outra, que, em contraposição a esta, tem o nome de Fonte de Baixo, cuja água é de peor qualidade.
Têm fama os queijos da Lomba, porque tanto o leite das cabras como o das ovelhas e vacas é belíssimo, em virtude das boas pastagens que se encontram no seu limite.
São vendidos nos mercados do Sabugal os seus queijos moles, manteiguentos, como ali se chamam, que são realmente uma especialidade. Ora os lavradores criam sempre boas vacas e cabras leiteiras.
Também na povoação há boas árvores frutíferas, cujos frutos são saborosos.
Fábrica de sabão
Há muitos anos que aqui existe uma fábrica de sabão, pertencente ao sr. João Filipe da Silva, natural desta freguesia.
A fábrica é simples, como as de Quadrazais, tendo uma caldeira de grandes dimensões; onde se prepara a massa de que é feito o sabão, fundindo-se até chegar ao ponto conveniente. Depois a massa líquida corre por uma calha para as fôrmas de madeira, feitas de tábuas, de altura inferior a um decímetro. Quando a massa endurece com o arrefecimento, tiram-se as primeiras quatro tábuas e por meio dum arame corta-se a primeira camada de sabão, que depois é dividida também por meio dum fio de arame em pães que são empilhados para venda.
Cada caldeira produz muitos centos de quilos de sabão.
Este é quase todo comprado pelos quadrazenhos, que o vendem em diferentes terras.
O preço da arroba é geralmente de 2300 réis.
O mestre da fábrica, na ocasião em que nós a visitámos, era um quadrazenho chamado José Pequeno, cuja altura, fora do vulgar, contrastava com o nome.
A fábrica, apesar de haver outras em Quadrazais, em Pêga e no Barracão, dá lucros muito razoáveis, porque o sabão é bem fabricado. Alguns quadrazenhos, que levam sabão, trazem de torna viagem borras de azeite, que, com o sêbo, roxo rei e potassa constituem a principal matéria prima empregada no fabrico dele.
Igreja paroquial
Embora pequena e modesta, a igreja é decente. A porta principal é do lado do nascente, facto pouco vulgar. Tem côro decente, regularmente pintado. Debaixo do côro está um pequeno recinto vedado por uma tôsca grade de madeira, com a pia baptismal.
Existem nesta igreja quatro altares. No altar-mor, de boa talha dourada, vê-se a imagem do padroeiro, que é o Espírito Santo, escultura muito regular, e as imagens dos seguintes santos: Santa Bárbara, Santo António e S. Sebastião, além dum crucifixo regular. Os altares laterais são ordinários e neles repousam as esculturas da Senhora da Conceição, Coração de Maria e Senhora da Piedade. O púlpito é semelhante ao de Aguas Belas, que fica perto.
A sacristia é de pequenas dimensões e nela vimos as alfaias e diferentes objectos destinados ao culto.
O pároco tem de côngrua 72.000 réis, de pé de altar 10.000 réis, de cada casamento e baptisado 200 réis e de bens de alma de 4000 a 9.000 réis.
Tinha, nos fins do século XVII, 80 fogos e actualmente 75, o que claramente demonstra a pouca importância da povoação, que em tão largo espaço de tempo diminuíu de população, facto que só se deu com a freguesia de Ruivós.
Capela da Senhora do Bom Sucesso
A pequena distância da Lomba, entre esta e o sítio da Junta das Aguas, no caminho da Vila do Touro, alveja a capela da Senhora do Bom Sucesso, onde todos os anos se realiza uma romaria muito concorrida. O local é pitoresco, cercado de arvoredo e dominando um agradável horizonte.
Descendo a encosta onde a capela está edificada chega-se aos pontões da Junta das Aguas, perto dos quais, na margem daquela ribeira, existe grande porção de telha e tijolo, que ali apareceu há poucos anos numa propriedade pertencente a A. Afonso, de Pousafoles, numa excavação mandada fazer por ele a José Monteiro, residente na Lomba dos Palheiros. As telhas de rebôrdo são semelhantes às de Ruivós, mais duras, quase vitrificadas. Faziam parte duma espécie de silo, ou cubículo abobadado, que o Monteiro com dificuldade destruíu.
Quando construiram a estrada da Guarda ao Sabugal dizem ter aparecido outro igual.
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«Terras de Riba-Côa – Memórias sobre o Concelho do Sabugal», monografia escrita por Joaquim Manuel Correia
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