Damos continuidade à apresentação do léxico «O Falar de Riba Côa» com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.
Entre os termos MAIA e MALHETADA.
MAIA – flor da giesta. Pode ser branca ou amarela, cobrindo de colorido os campos nos meses de abril e maio. Flor usada para atapetar o chão nas procissões da altura da Páscoa, serve também de alimento para os coelhos domésticos.
MAIOR – rapaz solteiro que já pagou o vinho à restante rapaziada da aldeia, assim conquistando o direito a integrar a ronda.
MAIORAL – chefe da confraria dos solteiros, que era geralmente o rapaz mais velho (Manuel Leal Freire). Chefe de um grupo de trabalhadores ou de pastores, que executam uma tarefa colectiva. Clarinda Azevedo Maia registou em Vale de Espinho, com o mesmo significado, a expressão moiral.
MAIS DE QUANTOS – muitos.
MAJARICO – manjerico (Franklim Costa Braga).
MAL – doença; malina.
MALAGOTO – pequeno terreno alagadiço; atoleiro (Duardo Neves).
MALAGUETO – variedade de pimento, de forma oblonga e muito picante ou queimoso.
MALAMENTE – dificilmente. Malamente o fazes (Franklim Costa Braga).
MALANHO – maldito (Joaquim Manuel Correia).
MALÁPIO – variedade de maçã (Francisco Vaz e Vítor Pereira Neves).
MALATO – carneiro novo, com cerca de sete meses. Já não é borrego mas ainda não é carneiro.
MALAZADO – desajeitado; que não dá bom azo.
MALCATENHO – indivíduo natural de Malcata (Clarinda Azevedo Maia, que também registou malcatanho).
MALCRIADO – grosseiro; mal-educado.
MALDANAMOSA – rua de mau piso (Joaquim Manuel Correia). José Leite de Vasconcelos registou uma expressão similar: mal andamos, com o significado de «caminho mau de andar».
MALDITO – diabo; demónio (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia da Ponte).
MALEITAS – doença que provoca agudos arrepios e febre alta; sezões. Leopoldo Lourenço diz que as maleitas provocam dores de barriga.
MALEQUE – tabaco – termo da gíria de Quadrazais (Nuno de Montemor).
MALETA – toureiro amador espanhol que percorre as touradas da raia portuguesa, também designado por capinha.
MAL-FINTA – bola feita com os restos da cozedura do pão (Francisco Vaz).
MALGA – tigela.
MALHA – debulha do centeio; sova, porrada – levar uma malha. Jogo tradicional, em que quatro jogadores (dois por equipa) lançam chapas ou pedras redondas e lisas (as malhas), tentando derrubar um pequeno pau (o fito) que está empinado do outro lado (também se chama jogo do fito).
MALHADA – bardo das ovelhas; redil (Cerdeira do Côa). Moita de carvalhos (Sabugal). Habitação de pastor feita com caniços (Júlio António Borges)
MALHADEIRA – máquina de malhar centeio e trigo, a qual se instalava na eira, junto às medas. Para se moverem os seus mecanismos internos, ligava-se a um motor através de uma correia. A malha com malhadeira, que se iniciou na década de 60 do século XX, exigia muito pessoal, distribuído por variadas tarefas: deitar molhos da meda para a máquina, cortar nagalhos, meter o pão na boca da malhadeira (tarefa do dono da máquina ou de seu empregado), agarrar a palha, atar fachas ou transportar palha para o palheiro (tarefa dos chamados vergueiros), formar o palheiro (tarefa de dois experimentados palheireiros), vigiar e retirar as sacas com o grão, remover os coanhos. Júlio António Borges dá a malhadeira o significado de: cerca feita com pedras para recolha do gado.
MALHADOR – aquele que malha o cereal na eira, empunhando o mangual.
MALHAL – cada um dos barrotes grossos de carvalho onde assentam as arcas ou os tonéis (José Pinto Peixoto e Leopoldo Lourenço). Cada uma das traves de madeira do leito do carro de vacas (Júlio António Borges).
MALHÃO – marco de limitação das propriedades.
MALHAR – debulhar o cereal. Cair; tombar: ainda malhas cá abaixo.
MALHAR EM FERRO FRIO – fazer ou falar em vão, sem consequência.
MALHETA – machado para cortar lenha. Também se chama malheta à enxada com gume vertical afiado, que, para além de cavar, serve para cortar.
MALHETADA – pancada (Franklim Costa Braga).
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»
leitaobatista@gmail.com
Nem de propósito: acabo de ser levado a uma página de «Facebook» das Quintas de São Bartolomeu por Natália Bispo, no «Descendentes» e ali há fotos magníficas da malha – e, claro, numa delas, o tal «mongal» (mangual, claro). É aqui:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1417117748533273&set=a.1416831661895215.1073741879.100007051836765&type=3&theater
Visite. Vale a pena.
PLB,
Mesmo que haja essa tentação (que não haverá), desistir, nunca.
No Casteleiro, desta vez, devemos estar contentes, porque se conhecem lá muitas destas palavras hoje aqui trazidas.
Assim, usamos termos como os que seguem e com o mesmo sentido: MAIA, MAIS DE QUANTOS, MAL, MALAGUETO, MALÁPIO (tão bons!!!), MALAZADO (lido como mal azado: mal feito, mal jeitoso), MALCATENHO, MALCRIADO, MALDITO, MALEITAS, MAL-FINTA (que saborosa que era!), MALGA, MALHA, MALHADEIRA, MALHADOR (que malhava com um mongal: um dia escrevo uma crónica sobre o mongal – mais ou menos este instrumento que se pode ver numa das fotos neste «post» de Casal da Serra: http://casaldaserra-varandagardunha.blogspot.pt/2010/02/malha-do-centeio-no-casal-da-serra.html), MALHAL (não garanto, mas julgo que dantes se dizia isto lá, sim), MALHAR (claro), MALHAR EM FERRO FRIO (isso é o que ando a fazer por essas páginas de «facebook» da nossa zona e a que ninguém liga nenhuma, porque a malta quer é flores… vou ver se não desisto… desculpem o desabafo e local pouco adequado, mas não resisiti).
Nada mau.