A sapiência milenar ensina-nos a olhar para a natureza e interpretá-la. Por isso, para que haja uma boa seara é necessário que nesta altura do ano, os campos estejam a terrear, isto é, da cor da terra, caso contrário as geadas e nevões de Janeiro queimam o centeio e o trigo e lá se vai a produção…

Em Janeiro sobe ao outeiro,
se vires verdejar põe-te a chorar,
se vires terrear põe-te a cantar
Da boca de um povo, que conheço muito bem, saía este provérbio, ecos de uma sabedoria popular imensa, que a actualidade continua a preservar. Soava nos meus ouvidos, como algo muito sério e inquestionável.
«Rosita do Moinho!» – Foi nome de criança. Hoje é nome de mulher.
Desde muito cedo conheceu as mós e os segredos do moinho.
Ainda hoje recorda as falas, mansas, do ti Diamantino moleiro (seu pai) para a roda (mó) do moinho, no vagar, lento, da roda da vida. O ti Diamantino foi o último moleiro do Casteleiro.
O seu engenho pertencia a um pequeno casario, no sítio dos Lagares, mesmo junto à ribeira – Ribeira da Nave.
Era ali que morava. Nos pequenos leirões, desenhados em forma de socalcos, retirava tudo o que a terra lhe permitia, sempre com muito esforço e fé em Deus, pois sem a Sua graça, a terra seria ingrata.
Tal como a mó que girava com o bater da água, também a vida do moleiro era dura e rude, sem domingos, feriados… sem direito a descanso!
No pino do Inverno a ribeira engrossava a levada, que conduzia a água até ao moinho. Enquanto houvesse água no açude, o moinho não descansava; nem ele, nem a sua mulher e os seus três filhos. Depois, grão a grão… as mós fazem o resto.
O burro, pachorrento, por vezes a resmungar, transportava as «talegas» com farinha e entregava-as porta-a-porta, mesmo àqueles fregueses mais esquisitos, só depois do moleiro retirar a sua «maquia» – contributo do seu trabalho e do moinho, que já era de seu pai.
De regresso ao moinho o burro carregava de novo, centeio e milho, para que a roda não parasse e a farinha não faltasse às mães, cujos filhos haveria de ajudar a sustentar, com os belíssimos pães e boroas de milho saídos, a escaldar, do forno comunitário, pelas mãos da forneira de serviço, ti «Mari Bárbola».
…e a roda só parava nos meses, quentes e secos do Verão, quando o açude esgotava a força que alimentava o velho moinho. Mas, tal como a mó do moinho, também a roda da vida, quando caíssem as primeiras chuvas invernosas, haveria de ditar o inicio do um novo ciclo: da semente, ao fruto… à mesa, para fortalecer os braços, já cansados, de quem participa, arduamente, no «milagre» da multiplicação.
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«Viver Casteleiro», opinião de Joaquim Luís Gouveia
Gostei muito deste texto a lembrar-me os 2 ou 3 moinhos que havia nos Fóios (e foram dizimados pela construção de uma moagem que podia trabalhar com e sem água). Também fui algumas vezes moer grão a um moinho de Vale de Espinho…