:: :: ALDEIA DA RIBEIRA :: :: O livro «Terras de Riba-Côa – Memórias sobre o Concelho do Sabugal», escrito há mais se um século por Joaquim Manuel Correia, é a grande monografia do concelho. A obra fala-nos da história, do património, dos usos e dos costumes das nossas terras, pelo que decidimos reproduzir a caracterização de cada uma das aldeias nos finais do século XIX, altura em que o autor escreveu as «Memórias».
Poucos nomes de povoações mais apropriados temos visto do que o desta, situada como está na margem direita duma ribeira, ou antes rio Cesarão, o mesmo que passa em Aldeia da Ponte e banha também alguns quilómetros adiante a antiga vila de Vilar Maior. A povoação é edificada sobre um elevado outeiro, cheio de penhascos, donde se descobre, entre outras muitas terras, Vilar Maior e a cidade da Guarda, capital do distrito.
Dizem ter sido edificada noutro sítio, denominado Cabeço dos Pecados, em época impossível hoje de averiguar.
A povoação é incontestavelmente muito antiga. Tinha em 1708 apenas 70 vizinhos e actualmente 120 fogos, incluindo a população das Batocas e Escabralhado.
Pertencia ao comendador de Malta, a quem pagava os dízimos, e o pároco era da apresentação do reitor de Vilar Maior, recebendo de côngrua 4.800 reis e 32 alqueires de trigo, o que dá bem a ideia da pouca importância que tinha. O responsal rendia 26.362 reis.
Tinha juiz pedâneo, como as mais povoações.
Igreja paroquial
É bastante vasta, tendo ao lado uma torre regular de boa cantaria, não revelando grande antiguidade qualquer delas.
Tem três altares, sendo um dos laterais privilegiado. A capela-mor é forrada de quadros a óleo emoldurados. O altar-mor e retábulo, de boa talha dourada, são semelhantes a outros de que nos temos ocupado, a que chamam de pássaros, sendo digna de nota a urna.
O púlpito ficou incompleto, apesar de o pároco ser o primeiro ora- dor do concelho. Na sacristia mostrou-nos o reverendo pároco, que então era o falecido Padre João de Matos, tudo o que havia digno de ver-se, sendo de notar dois cálices e cruz de prata e os paramentos próprios do culto.
Noutros tempos tinha alfaias e objectos muito ricos, segundo nos informou o mesmo pároco, roubando os franceses tudo, corno fizeram em toda a parte; E a propósito diremos que em ponto mais elevado acima da povoação existe o cemitério paroquial, que tinha uma ermida, destruída pelos franceses.
O orago da freguesia é S. Pedro.
O rendimento paroquial segundo as declarações que o referido pároco forneceu e constam do respectivo auto lavrado na administração do concelho do Sabugal é o seguinte:
Côngrua, 85.000 reis; Pé de altar, 15.000 reis; Casamentos, 360 reis; Baptizados, 360 reis; Enterramentos de menores, 200 reis; Bem de alma, 3 a 9000 reis.
E foi nesta freguesia tão pouco rendosa, segundo as declarações a que nos referimos, que viveu 51 anos ou mais um homem de tão elevada ilustração! É verdade que tinha o grande recurso dos sermões, que era uma grande fonte de receita.
Ele nos disse que estava ali havia 51 anos e não «houvera em todo esse tempo um contágio», o que apresentava para demonstrar as boas condições higiénicas em que estava a povoação.
Mas nota-se pouca abundância de água potável, que não prima pela bondade, sendo muito melhor a da fonte do Seixo.
Apesar de tantos anos terem passado sem que uma só epidemia invadisse esta freguesia, é certo que passados poucos anos depois de a visitarmos era atormentada por uma que causou muitas vitimas, em 1901, quando o velho e ilustrado pároco já tinha deixado o seu rebanho.
Aldeia da Ribeira tem progredido pouco, por estar distante da sede do concelho, mas principalmente por falta de instrução e de vias fáceis de comunicação, achando-se muito isolada.
Só há poucos anos, cremos que em 1901, foi criada a escola de instrução primária. A junta tinha construído casa para a escola e esteve até em negociações para comprar a casa de residência do falecido Padre João de Matos. Contaram-nos porém em 1905, que fora para lá uma professora antes de ter sido criada a escola, retirando pouco depois por lhe dizerem que lhe não pagavam, acontecendo o mesmo a mais duas senhoras. Se isto não foi lenda, define bem o que é a instrução neste país.
Abunda na freguesia centeio e trigo, e, por ter excelentes pastagens, tem esta muito gado lanígero e caprino.
Dos tempos prehistóricos existiam no seu limite monumentos respeitáveis.
Indo de Nave de Haver para Arrifana, ao fim do limite de Aldeia da Ribeira, contam-nos que existia uma anta, perto da nascente da ribeira de Toulões, perto da Nave Giboa, limite desta freguesia.
Dizem-nos que existem restos duma anta no sítio chamado do Vale do Escasso, a menos de 2 quilómetros desta freguesia. O nome dado ao sítio de Vale de Antas é já bastante sugestivo.
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«Terras de Riba-Côa – Memórias sobre o Concelho do Sabugal», monografia escrita por Joaquim Manuel Correia
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