:: :: VALE MOURISCO e ESPINHAL :: :: O livro «Terras de Riba-Côa – Memórias sobre o Concelho do Sabugal», escrito há mais se um século por Joaquim Manuel Correia, é a grande monografia do concelho. A obra fala-nos da história, do património, dos usos e dos costumes das nossas terras, pelo que decidimos reproduzir a caracterização de cada uma das aldeias nos finais do século XIX, altura em que o autor escreveu as «Memórias».

VALE MOURISCO
Vale Mourisco é uma povoação pitoresca e mimosa, de melhor aspecto que a sede da freguesia. Fica na margem esquerda duma ribeira, que desliza, como o nome indica, por um mimoso vale, onde há ricas propriedades, muitas árvores frutíferas e belíssimos lameiros.
A povoação é rica, embora os seus limites sejam muito acanhados, pagando noutros tempos à Vila do Touro o direito de pastagem.
Existem ali bons artífices, especialmente sapateiros, e um bom fabricante de guitarras e violas, o Cancela.
Vale Mourisco tem uma igreja muito regular, superior mesmo a muitas igrejas paroquiais, melhorada há poucos anos e regularmente ornada, tendo por padroeiro S. Salvador.
A pequena distância passa a estrada de macadame que liga o Sabugal à Guarda.
«A poucos passos além da ponte da junta das Águas, na margem esquerda da ribeira e perto do pontão, recolhi vários fragmentos de tijolos e telhas de rebordo, de uma grande consistência e como que vitrificados pelo fogo, a contrastarem com os achados em Ruivós, na Tapada das Cruzes, que eram mal cozidos, embora de igual feitio.
Passados dias inquiri de José Monteiro o que sabia a tal respeito e ele respondeu-me: «Que o António Afonso de Pousafoles o encarregara de escangalhar umas cousas no seu chão, indo munido de ferros, enxada, e uma massa. O homem cismava que havia ali grandes riquezas, mas não apareceram senão telhões. Aquilo era um quartinho todo feito de telhões e telhas rijas como ferro e coberto todo do mesmo tijolo, esbarrondando-o com porradas de massa e picareta».
«Informou que ali perto havia mais quartos assim, e que quando fizeram a estrada destruíram outros.
Pela descrição que o homem fez pareceu-me que se tratava de um forno.
Merece a pena explorar o sítio antes que desapareçam os outros de que fez menção o José Monteiro.
O nome de Vale Mourisco, a tradição de ter havido ali uma povoação a pequena distância da actual e o aparecimento deste quartinho, como o Monteiro lhe chamou, dão todas as probabilidades de bom êxito numa exploração, fazendo-se escavações com prudência».
Perto de Vale Mourisco e a pequena distância da estrada distrital há um curioso outeiro formado de gigantescos rochedos, que parecem despenhar-se sobre o vale, e cujo aspecto é deveras interessante, não só pelas escarpas naturais, constituídas por enormes penedias, como pelo assombro que causam os colossais monolitos graníticos, que representam urna maravilha de equilíbrio a quem os contempla da estrada. Têm os raios fendido alguns, mas o seu poder não é tanto que tenha conseguido desfazer aquela gigantesca e numerosa mole talhada pela acção dos tempos.
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ESPINHAL
Espinhal é uma pequena povoação assente sobre penhas graníticas, numa encosta a S. E. de Águas Belas e perto dum ribeiro que fertiliza um pequeno vale. A pouca distância elevam-se enormes, gigantescos rochedos graníticos, entre os quais há espaçosas cavidades que podiam ter sido abrigos de antigos homens.
Cria-se ali muito gado lanígero e caprino. Produz centeio e milho miúdo e a gente do lugar expõe à venda nos mercados do Sabugal muitos queijos de cabra e vaca, assim como a de Vale Mourisco, Águas Belas e outras povoações.
Tanto Águas Belas como a Quinta dos Clérigos e Espinhal são pobres, se as compararmos com Vale Mourisco, onde há ricos lavradores. O solo é rico e, como dissemos, as abundantes pastagens dão lugar a que ali haja bons gados e abundantes colheitas de centeio, trigo, milho, feijão e saborosas frutas.
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«Terras de Riba-Côa – Memórias sobre o Concelho do Sabugal», monografia escrita por Joaquim Manuel Correia
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