«Se o homem, tentado pelas diabólicas engrenagens das grandes cidades ou em contacto com os desnacionalizantes e deletérios perigos do materialismo, souber conservar o amor da santa terrinha, consigo terá a mais segura certeza de sobrevivência», Mestre Leal Freire no seu livro «Cantigas da Pátria Chica».

Falando especificamente de nós, habitantes do Concelho do Sabugal (deixando o resto do País) o que nos leva principalmente a uma geração nascida entre as décadas de 1940-1970, a olhar com tanta saudade para a vivência das nossas aldeias nesse período histórico?
O Portugal Rural de Salazar, que incutiu em nós, não só uma pacífica e inocente vivência aldeã, com os valores do Estado Novo, Deus, Pátria e Família, como até hoje impediu que alguém conseguisse cortar o cordão umbilical que nos une à natureza, aos nossos campos, serras, florestas, rios, ribeiros, como também aos animais, companheiros nossos nesta passagem pela Terra que tanto ajudaram o homem no trabalho do campo, e outros lhe serviram de alimento. Natureza, homem, animal, trilogia que deu vida às nossas terras e aos seus habitantes.
Um mar de rosas? Um Paraíso terrenal? Longe disso, tão longe, que milhares de homens tiveram de partir, emigraram! Esta partida é uma marca, não só na história do Concelho, como também na do País, e na da Europa! Mas a partir doas anos sessenta, Portugal já está em mudança, a industrialização, a urbanização e também o sector terciário fazem crescer a produção e aumentar a produtividade da economia. Aos poucos, o Portugal Rural se foi desmoronando, era impensável sobreviver às mudanças económicas e sociais ditadas pelo tempo. A ruralidade, como a conhecemos, desapareceu. Já só se encontra na nossa memória e nos livros de alguns escritores do Concelho.
Amarás a Natureza da qual fazes parte, ela foi amada, depois, o espírito de lucro foi-a destruindo, ardia para dar lucro! A Terra foi abandonada, os nossos campos estão abandonados por ordem de países estrangeiros, com a conivência de políticos portugueses, a irracionalidade desta gente levou a que se pagasse para destruir culturas.
Agora, início do século XXI, os mesmos políticos estão a crucificar-nos, a nós habitantes do Concelho, aos homens, às mulheres e às crianças, aos jovens e aos velhos, não poupam ninguém. Para poderem viver dignamente, alguns jovens estão a emigrar, como o fizeram os seus antecessores dos anos sessenta, a História está a recuar para nós…
Só nos resta resistir, amamos esta terra, e esse amor a que me refiro não é ao amor da campanha eleitoral, é ao amor espiritual, o mesmo a que se refere o Mestre Leal Freire. Esse amor espiritual tem dentro de si os grandes ideais da Humanidade, não a ideologia burguesa a materialista adoradora de falsos valores, que se divorcia dos interesses principais das populações.
Se depois de 1945, depois da Segunda Guerra Mundial, o Estado Novo tivesse dado lugar a um regime democrático, idêntico aos do Norte e Centro da Europa, a uma verdadeira Social – Democracia, o nível económico, político, técnico, cultural e social, seriam muito mais elevados, não teria havido cortinas obscurantistas… A nossa memória estaria noutra vivência.
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«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2008)
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“A certeza da sobrevivência”. A Santa Terrinha, saudosa, romântica e bela tem sido apenas isso, ultimamente. Recomeça, agora, a confortar-nos com a certeza da sobrevivência. Por enquanto parece, só, um sonho. Será um dia realidade???
Um grande abraço