Sob o olhar atento do Cristo Rei, no outro lado do Tejo, decorreu durante dois dias na FIL, o Congresso com o grande tema «Escutismo: educar para a vida do Século XXI», cujos objectivos se congregaram na reflexão, na dinamização e identificação do Movimento Escutista, assente em dois pilares: Igreja e Sociedade.

Comemora-se o 90.º Aniversário da Fundação do Escutismo Católico em Portugal, com um efectivo atual que ronda os 75.000 elementos, distribuídos por cerca de mil agrupamentos e divididos por regiões, bem edificáveis na FIL em placards ilustrados. Braga lidera com o maior número e Beja apresenta o menor número de efectivos. No global, é a maior organização juvenil em Portugal.
No guia distribuído a mais de 800 congressistas, o Chefe Nacional assinou uma mensagem de boas vindas, onde afirma: «Esperam-se novos caminhos educativos, de liberdade e responsabilidade, que promovam espaços de desenvolvimento, em que todos coabitem harmoniosamente num mundo mais humano.»
Desafiou todos a percorrerem caminhos de esperança, com respostas aos anseios e desejos dos escuteiros.
Reforçando esta ideia, a Presidente da Comissão Executiva do Congresso disse que é importante partilhar alegrias, preocupações e esperanças.
Na conferência da abertura, sob o tema do Congresso, Marcelo Rebelo de Sousa, de pé (ao contrário da posição nos comentários domingueiros), salientou que não se pode projetar o futuro se se ignorar um passado com noventa anos.
Houve algumas ideias que registei, sobretudo relacionadas com a educação autónoma do jovem escuteiro, fortalecendo a sua independência na inspiração cristã.
No movimento, sente-se que há igualmente um forte espírito ecuménico, diálogo aberto à comunidade, visão global vivida e realização integral de todos.
Quando o Escutismo ajuda a crescer uma criança, ajuda a crescer a sociedade portuguesa. O Escuteiro é responsável, homem de compromissos que não se limita aos ramos da sua árvore. Um homem que dá importância ao som da floresta não verga facilmente.
A vitalidade da Igreja dependerá cada vez mais do movimento escutista. Enquanto a Igreja não tiver a mochila às costas, pronta para partir à aventura com a juventude, a reforma jamais chegará.
No primeiro painel – «O Escutismo na Igreja» – há a salientar a intervenção do Vice-Presidente da Comissão Episcopal do Laicado e da Família, afirmando que o Movimento Escutista está na Igreja, porque nasceu nela: «É aí o seu lar e o vínculo com os valores do Evangelho. É um instrumento precioso para a Igreja. A dimensão espiritual e religiosa é parte importante no Escutismo. Os Escuteiros devem ser sonhadores da esperança de luz e sal na terra.»
João Duque, Professor da Universidade Católica de Braga, utilizou uma linguagem muita teológica e sem experiência escutista, debruçando-se mais em sacralizações universitárias do que em vivências no terreno.
Padre Frei Albertino Rodrigues, oriundo de Aldeia Nova do Cabo (Fundão), afirmou que reaprendeu como escuteiro a olhar para Deus: «Encontrei um Deus Criador quando encontrei a Natureza.»
Entre outros testemunhos, lembrou-se que no próximo Encontro Mundial da Juventude, o Papa Francisco escolherá o Sermão da Montanha como tema de reflexão para a juventude, repto extensível ao Movimento Escutista Português.
No debate que se seguiu, salientaram-se três problemas: que devem fazer os leigos, qual o papel dos assistentes e as suas relações com os agrupamentos, como se resolve o problema dos dirigentes divorciados no movimento.
Quanto aos leigos, terão de ser testemunhas de Jesus Cristo e têm de ter acção preponderante na família, na sociedade e na política, como respondeu o Papa há tempos.
Os assistentes devem fazer o «caminho, caminhando e a partilha, partilhando» e usar o bom senso como arma preventiva.
Quanto aos dirigentes divorciados, a voz dos moderadores apontou para aceitar todas as realidades com misericórdia. O escutismo é um movimento educativo que não quer excluir ninguém.
O segundo painel debatia o Escutismo na Educação. Manuel Joaquim Azevedo, membro do Conselho Nacional da Educação, com três filhos nos Escuteiros, disse: «Foi um bem para mim e para a família. A factura é tão grande que nunca a conseguirei pagar, por isso vim aqui fazer esta palestra. Milhares de Portugueses devem muito ao Escutismo. Aqui os sistemas educativos são claros e articulados.»
A realidade de hoje parece estar ligada a uma máquina de transmissão de medo e exclusão social. Aqui o Escutismo também tem a palavra, lutando sempre pela primazia das pessoas.
O Dr. José Augusto Palhares salientou que Portugal tem de estar grato por várias gerações, durante nove décadas, terem recebido os ensinamentos escutistas. Recorreu metaforicamente aos «nós» e às «pontes» para falar do papel do escuteiro na sociedade. Um escuteiro deverá ser um engenheiro de «pontes» que ligam o «eu» ao «nós». Como um homem completo, deve estar atento às margens, à natureza, à ética, à física e à mecânica.
Importante foi a intervenção da Chefe Regional de Évora, com o tema «agrupamento, comunidade educativa local e centralidade ou periferia na metodologia escutista».
O segundo dia do Congresso, domingo, iniciou-se com a celebração eucarística na Cordoaria Nacional, momento culminante deste evento. É um espaço de grande significado histórico, onde se faziam as cordas dos nossos navios, que abriram novos caminhos ao mundo.
Houve um apelo aos jovens escuteiros para não terem medo de dar a cara como cristãos:
«O mais importante para nós é a Cruz de Jesus Cristo que temos de levar até ao fim, porque é fonte de salvação e o Seu amor é infinito. É nas dificuldades escutistas que saem os resultados mais positivos, vencendo todas as adversidades.
No Escutismo ganha-se disponibilidade para estar ao serviço da fraternidade, nos setores sociais, religiosos e laborais. Cria-se o futuro. Nestes tempos de crise, que sejam os Escuteiros os primeiros a levantar Portugal.»
No final da Eucaristia, o Chefe Nacional ofereceu a todos os Chefes Regionais uma réplica da primeira bandeira do Escutismo Católico Português.
Regressados à FIL, decorreram as conferências do Painel III, «O Escutismo na Sociedade».
Coube à Chefe do Agrupamento n.º 73 de Carnide, Região de Lisboa, Prof.ª Susana Fonseca Carvalhosa, dissertar sobre a Sociedade do Seculo XXI:
«Hoje a situação do Escutismo é boa, mas pode e deve melhorar. Estamos numa missão de desenvolvimento integral de crianças e jovens na sua relação com as pessoas, enquanto construtores de uma sociedade mais positiva e saudável. Educamos para ser em acção, para trabalhar em grupo com responsabilidade, liderança e altruísmo. O amanhã do escutismo passa pela criatividade da juventude.»
Na minha ficha de avaliação, o congresso merece a classificação de «Bom».
Felicito a organização que proporcionou conhecimentos, debates e confraternização. Agora há que lhes dar continuidade todos os dias.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
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