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Página Principal  /  Cultura • Gente Nossa • História • Quadrazais • Sabugal  /  Gente nossa – Rubens Esaguy
03 Novembro 2013

Gente nossa – Rubens Esaguy

Por Jesué Pinharanda Gomes
Jesué Pinharanda Gomes
Cultura, Gente Nossa, História, Quadrazais, Sabugal judeu, pinharanda gomes, rubens esaguy 2 Comentários

Ao contrário do que ocorreu na medievalidade, em Penamacor, Belmonte e Covilhã, o Sabugal nunca teve «judiaria», isto é, comunidade judaica. Não obstante, as cartas régias de D. Dinis referem com nitidez os direitos e os deveres dos mercadores hebreus que, por então, actuavam na área sabugalense, ligados aos da Guarda, e muito operantes no comércio.

Aliás, no século XV (1492), quando os judeus foram expulsos de Castela, cerca de 300.000 se refugiaram para cá da fronteira, mas estes 300.000 são apenas os que a documentação regista. Sabe-se que houve famílias inteiras que ficaram nas vilas e aldeias fronteiriças, e que os registos de censo não conseguiram identificar.

Mas agora queremos evocar a personalidade do «Sr. Rubens» – Rubens Marques Esaguy –, que exerceu, no decurso de vários anos, até se reformar, de funções públicas no Sabugal. Todos o conhecemos, mais de longe ou mais de perto. Poucos, ou nenhuns, saberíamos quem ele era realmente.

Veio para o Sabugal antes de 1940. Por então, o judeu polaco Samuel Schwarz, que trabalhava nas minas da Gaia (Belmonte), tinha conseguido chamar de novo à fé moisaica, aqueles poucos judeus que ainda viviam em Belmonte, que tinham certas tradições judaicas, mas já não sabiam o que fosse Israel. O Eng. Schwarz conseguira mesmo, em ligação com o marrano portuense, Capitão Barros Bastos (Bem-Rosh) restaurar as sinagogas de Bragança, Covilhã e Porto, enquanto, em Belmonte, se constituía um miniamim, ou seja, uma comunidade israelita de oração, embora os seus membros constituíssem, como autênticos marranusim, a praticar em público certos actos cristãos, nomeadamente o baptismo dos filhos, o matrimónio, e os funerais. Ignoramos quais eram, de facto, as ligações entre o Sr Rubens e as comunidades judaicas restauradas na Covilhã e em Belmonte, mas sabemos que ele era um fiel israelita distinto, participando eventualmente nas cerimónias religiosas da sinagoga de Lisboa, chamada «Portas da Esperança».

Os mais velhos souberam como ele havia acompanhado o grande jornalista Artur Portela, pelas Veredas de Malcata, em busca de cenário para reportagens sobre contrabandistas; e viram o que foi o seu notável esforço para conseguir que o Sabugal fosse dignamente representado nas comemorações centenárias (1940) em Lisboa, sobretudo no importante cortejo etnográfico. Quadrazenhos, ainda vivos, são testemunhas desse interesse. Apesar de judeu de fé, em Coimbra, onde estudara, mantivera estreita amizade com um poeta e historiador que todos tinham na conta de anti-semita, o alentejano Mário Sáa. E recordo, que uma vez, em conversa, ele me dizia: «Sabe porque usava ele Sáa, com dois aa? Porque era pequeno de estatura e dizia ter a impressão de ser mais alto, com aquela maneira de escrever Sá com dois aa.»

Olhando para aquele amanuense, embora superior, do quadro camarário, alto, esguio, os olhos um tanto míopes, atrás das lentes de uns óculos redondos, nem todos lhe daríamos o real valor. Era, contudo, membro de uma das mais ilustres famílias de judeus portugueses, a família Esaguy, de ascendência marroquina, e que deu filhos tão ilustres, como o médico e historiador Augusto d’Esaguy, e o escritor José d’Esaguy, alguns deles ligados a outra importante família judaica da Península Ibérica, a família Toledano.

Admirável conhecedor da história local sabugalense, foi pena que Rubens Esaguy, vivendo no meio adormecido da vila, não tivesse aproveitado para escrever e publicar o muito que sabia. Era, com efeito, escritor.
Ainda jovem, desempenhou as funções de Editor da revista Israel, publicada em Lisboa, sob a direcção do já mencionado Barros Basto. A revista Israel era o órgão da Associação da Juventude Israelita, e constituiu um dos pólos de desenvolvimento das comunidades neo-marranas em Portugal.

O Sr. Rubens também foi novelista. Com eleito, publicou, aí por volta de 1925, uma curiosa novela, ou narrativa, intitulada «Portugal-Marrocos», uma história de aventura, em que o herói manifesta uma clara fidelidade à sua nacionalidade portuguesa.

Deste modo, o Sr. Rubens era mais do que o secretário da Câmara. Todavia tememos bem que o meio de quietude do Sabugal o tivesse inibido de prosseguir a sua real vocação, na medida em que serviu mais o Sabugal do que o judaísmo, afastado que estava dos centros de vida hebraica, como Lisboa e Porto, já que a vida judaica da Covilhã, apesar da existência de sinagoga, era muito limitada.

Devemos esta evocação da memória do Sr. Rubens, falecido inusitadamente na primavera de 1977, na Amadora, de onde foi trasladado para o Cemitério Israelita de Lisboa, onde jaz. É esta a homenagem que prestamos àquela ilustre personalidade. Em nome da amizade que nos uniu, e em nome do que ensina o Concílio Vaticano II – os cristãos devem amor aos judeus.
Pinharanda Gomes»

Este texto foi inicialmente publicado, sob o título «Um judeu no Sabugal», no Jornal «Sabugal» (órgão da Casa do Concelho do Sabugal em Lisboa) – nº.2, Maio/Junho de 1978.

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«Gente Nossa», por Jesué Pinharanda Gomes

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Jesué Pinharanda Gomes

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2 Comments

  1. Avatar Jorge Martins Responder a Jorge
    Domingo, 3 Novembro, 2013 às 16:54

    Pinharanda Gomes é relapso! Errou em 1978 e insiste agora, 35 anos depois. O que é estranho (ou talvez não?) é que, justamente numa altura em que se fala publicamente de um projeto de recuperação da memória judaica e cristã-nova do Sabugal, se republique um artigo contra-a-corrente. Será que anda no ar algum ajuntamento hostil à emergência dessa vertente da identidade sabugalense (e portuguesa)?
    Espero, sinceramente, que se cumpra, também nesta questão, o que ensina o Concílio Vaticano II, evocado (e invocado) pelo autor.
    Jorge Martins

  2. Avatar vasques monteiro ruben marcos Responder a vasques
    Domingo, 3 Novembro, 2013 às 15:56

    eu RUBEN MARCOS VASQUES MONTEIRO VENHO POR ESTE MEIO DIZER MILE OBRIGADOS O SENHOR PINHARANDA GOMES POR O ARTICLO DEDICADO O MEU PAI ADOPTIVO RUBENS MARCOS ESAGUY UM HOMEM QUE DEDICOU A SUA VIDA AO CONCELHO DO SABUGAL MUITO OBRIGADO POR ESTES RECONHECIMENTOS!!!

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