:: :: ALFAIATES :: :: Ao conceder forais a determinadas aldeias, o Rei reconhecia a sua importância para a defesa do território nacional. Quando essas aldeias entretanto concelhos, perderam essa importância, foram extintos os concelhos. É importante, é necessário, é justo, reavivar a memória dos mais esquecidos.
A localidade de Alfaiates fica situada num pequeno planalto formado entre duas ribeiras (Ribeira de Alfaiates) e a Ribeira de Aldeia da Ponte que depois se juntam, passando a denominar-se Ribeira de Vilar Maior que vai desaguar na margem direita do rio Côa. Sendo certo que o primitivo castelo se situava no meio da vila, com a atribuição do último foral, iniciou-se a construção de um outro castelo relativamente próximo da povoação e onde se aplicaram as modernas técnicas da arquitectura militar dotando o castelo de uma dupla muralha e adaptado à guerra com artilharia. Aquilo que hoje vemos é o que resta desse castelo que entretanto foi envolvido pelo crescimento da povoação.
Alfaiates é uma freguesia do concelho do Sabugal que durante vários séculos foi sede de concelho (entre 1297 e 1836). O território que durante muitos anos pertenceu ao reino de Leão e Castela, foi incorporado no reino de Portugal mesmo antes do Tratado de Alcanizes, tendo feito parte do dote da futura rainha Santa Isabel, quando se casou com D. Dinis, como aconteceu com o Sabugal e Castelo Bom em 1282.
O brazão da vila reflecte ainda a origem castelhana da localidade, que na altura se chamava Castelo de La Luna, e a sua grande ligação à Rainha Santa Isabel (daí a rosa, a lembrar o milagre das rosas).
Com o tratado de Alcanizes em 1297 formalizou-se então a integração «de Jure» no território nacional. Imediatamente a seguir à integração no território Português D. Dinis concedeu-lhe o primeiro foral em 1297.
Em 1515 D. Manuel I outorga-lhe novo foral.
O Antigo Concelho de Alfaiates era formado pelas freguesias de Aldeia da Ponte, Alfaiates, Forcalhos e Rebolosa e a sua localização, como facilmente se verifica, é confinante com Espanha através das freguesias de Aldeia da Ponte e Forcalhos.
Este facto associado à sua localização, conferiu-lhe uma importância adicional principalmente numa época em que quer Portugal quer Castela tudo faziam para consolidar e alargar fronteiras, no único sentido possível: Portugal para Leste e Castela para Oeste. Como o território não estica, só podia ter como resultado as disputas bélicas que aconteceram.
Aquando da sua extinção, em 1836, aquelas freguesias transitaram para o concelho de Vilar Maior que após a sua extinção em 1855 passaram a integrar o concelho do Sabugal onde ainda hoje se mantêm.
No século XVII o Castelo de Alfaiates era dos mais eficazes de toda a beira interior e então foi decidido reforçar a sua defesa com a construção de nova cintura de muralhas que entretanto se não concretizou em virtude da existência de um governo único para Portugal e Espanha (III Dinastia Filipina) o que, na verdade não justificava defesas de fronteiras que tudo indicava deixariam de existir.
Também em 1758, no inquérito feito aos párocos na sequência do terramoto de 1755, se verifica que esta terra, que na altura ainda era sede de concelho, tinha uma importância muito relevante conforme se pode verificar pelas respostas que o respectivo pároco deu… (Aqui.)
De todas as que li e respeitantes ao concelho do Sabugal, estas são de longe as mais completas, demonstrando o seu autor da época, um conhecimento profundo da história do local e uma auto-estima elevadíssima o que não era muito vulgar nos párocos da época.
Já no século XIX Alfaiates foi como quase todas as localidades dos concelhos de Almeida e do Sabugal invadida por tropas francesas que, para além de procurarem viveres para a sua subsistência, destruíram grande parte das aldeias.
O Pelourinho de Alfaiates foi edificado logo depois da concessão do foral manuelino em 1515 e parece existirem no fuste vestígios de ter tido argolas de sujeição (para execução de castigos físicos determinados pela justiça). O Pelourinho de Alfaiates é um monumento de Interesse Público e a sua descrição completa consta… (Aqui.)
Este pelourinho constava já do inventário elaborado pela Academia Nacional de Belas Artes em 1935… (Aqui.)
A zona de Alfaiates é extremamente rica em termos históricos apesar de neste momento sofrer de todas as maleitas que sofrem as terras da Beira Interior e principalmente as mais periféricas e que têm como resultado a diminuição da população residente. Mesmo aquelas Vilas/Cidades que após as sucessivas reformas se mantiveram como sedes de Município, caso do Sabugal, Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo, etc. vêem em cada censo que é feito, a população diminuir, sem que, quem tem a responsabilidade de governar, nada faça para inverter a situação.
A reforma administrativa de 2013 manteve a freguesia de Alfaiates como autarquia local, fazendo parte do concelho do Sabugal… (Aqui.)
Próximo a Alfaiates, no limite da actual freguesia com a freguesia de Aldeia da Ponte, encontram-se as ruínas do antigo Convento de Sacaparte, cuja fundação remonta ao século XVIII. Este Convento pertencia Congregação dos Clérigos Agonizantes da Tomina, ligados à assistência aos enfermos pois as águas da zona, teriam propriedades curativas. Este Convento e toda a actividade principalmente religiosa, que ao longo do tempo a ele tem estado associada, transformam esta localidade num local que merece a visita de todos.
Lendas e tradições são coisas que não faltam numa terra que tanto sofreu ao longo da história do país… (Aqui.) e… (Aqui.)
Como forma de dinamizar a visita dos castelos na área do Município do Sabugal, a Câmara Municipal preparou um roteiro multimédia que abrange os cinco castelos existentes, entre os quais se inclui o de Alfaiates… (Aqui.)
A paisagem envolvente de Alfaiates, e toda a história que lemos ou ouvimos contar, merece que ao vivo vejamos o local, as pedras que com o tempo se vão desmoronando, mas que mesmo assim não conseguem impedir que o ar que se respira cheire a história, para que assim experimentemos sensações que de outro modo são impensáveis. Embora, até Alfaiates. Não vamos arrepender-nos.
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«Do Côa ao Noémi», crónica de José Fernandes (Pailobo)
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