Em situações de conflito o Rei D. Dinis nunca optou pela guerra. Nem sempre conseguiu evitá-la. Os dois casos mais graves tiveram como protagonistas familiares que se queriam apoderar do trono. Um deles foi seu irmão, o Infante D. Afonso, mais novo que o Rei. O outro foi seu próprio filho Afonso IV que pretendeu destronar o Rei seu pai.
Com Castela e Leão conseguiu evitar a guerra, mas houve escaramuças de fronteira que causaram danos aos povos onde ocorreram.
A perda de vidas e bens, pesaram na consciência do Rei e no testamento deixou uma grande soma para que fossem reparados os prejuízos, na medida do possível, pelo menos os maiores danos. Diz no testamento:
«Entendendo eu que havia de tomar guerra e pensando que não a podia parar sem faltar à minha honra e da minha terra, não busquei todos os caminhos para que não fossem roubados os haveres dos povos como é lei de Deus, com perigo da minha alma. Porque sinto arrependimento, tenho por bem que devo pagar aquilo de que me lembro e não lembro e vejo que são para pagar, estas malfeitorias. Que os meus testamenteiros corrijam e emendem os danos e perdas que foram feitos por mim e pelos meus, tanto no reino de Leão como no meu.»
E mais adiante faz referência aos roubos de guerra feitos aos povos, a que chamavam «despojos» e que também lhe pesavam na consciência:
«Fazendo eu guerras ao senhorio de Castela, querendo e mandando que a fizessem os meus, fizeram muita malfeitoria aos bens dos mesquinhos, que não haviam culpa da guerra e mando que pagades as cousas todas que nomeio no meu testamento.»
Para quem não está habituado a ver estes termos antigos, esclareço que «mesquinhos» eram os populares. Não tinha sentido pejorativo, significava apenas que era o «povo miúdo», como dizem os cronistas.
Elenca mesmo um número de situações que quer que sejam reparadas. São casos em que considera que cobrou para a Coroa além do justo, fosse em rendas ou emolumentos de serviços prestados ou nos rendimentos dos funcionários régios.
Estas passagens dos testamentos mostram-nos um monarca com sentido de justiça, um homem de consciência, com sentido arrependimento e vontade de reparar os males que não impediu que ocorressem.
Sabemos em que situações aconteceram as guerrilhas nos reinos vizinhos, mas não falei ainda das guerras internas.
As guerras civis causadas pelo irmão Afonso, deveram-se ao facto de este se julgar com direito ao trono.
Considerava que D. Dinis era filho ilegítimo, por ter nascido antes de o Papa reconhecer o casamento de D. Afonso III com D. Beatriz.
Como sabemos D. Afonso III foi casado em primeiras núpcias, com D. Matilde Condessa de Bolonha. Repudiou-a para vir para Portugal, substituir D. Sancho II, que foi destronado pelo Papa. Casou pela segunda vez, agora com D. Beatriz, infanta castelhana, mas ainda era viva a Condessa e antes da morte desta, nasceu D. Dinis.
Falecida D. Matilde, o papa reconheceu o casamento e depois disso, nasceu D. Afonso.
A seu ver, o legítimo herdeiro era ele e não D. Dinis, que em sua opinião, era ilegítimo.
Contudo, quando foi reconhecido o casamento dos pais, foi também legitimado o primeiro filho, pelo que o irmão não tinha razões de ordem legal para continuar a considerar-se o herdeiro do trono. Mas não desistiu de obter pelas armas o que a lei lhe recusava e D. Dinis não podia virar as costas à luta. Em duas épocas se assistiu, por isso, a uma guerra civil. Um primeiro período de guerra nos anos de 1281/82 e num segundo, nos anos de 1286/87.
D. Dinis submeteu o irmão à sua obediência, mas não o humilhou nem prejudicou. Pelo contrário, aumentou-lhe os bens e o rendimento. Dizem os historiadores que foi sempre generoso com o irmão, apesar de ter mais que razões para o expulsar do seu reino.
As guerras com seu filho sugerem alguns cronistas que se devem à influência da Rainha Maria de Molina sobre o Infante, que era seu genro. O rei Sancho IV seu marido, também destronou seu velho e respeitável pai, Afonso X. Maria de Molina era uma mulher política, acima de tudo. Admito que tivesse sido ela a aconselhar D. Afonso IV a disputar o trono a seu pai.
O Infante herdeiro acusava o rei de querer deserdá-lo para deixar o trono ao filho natural Afonso Sanches e com esse pretexto lhe fez guerra.
Estas guerras amarguraram os últimos anos de vida do nosso rei, pois desenrolaram-se de 1322 a 1324, tendo terminado com a intervenção da Rainha Santa Isabel, nos campos de Alvalade.
O monarca faleceu em 1325, alguns meses depois de estabelecida a paz.
D. Afonso IV não precisava de lutar pelo trono. À morte do rei ninguém lho disputava. D. Dinis nunca pensou em deserdar o filho legítimo, o qual sempre declarou seu «filho primeiro e herdeiro».
Os pretextos do Infante para fazer a guerra não se confirmam nos documentos de chancelaria nem diplomáticos e não foram confirmados pelos factos.
Apesar de não ser ele o causador destas guerras internas, considerou que era obrigação sua, reparar os prejuízos causados «aos mesquinhos».
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«Por Terras de D. Dinis», crónica de Maria Máxima Vaz
Não sei se a governação acertada de D. Dinis terá tido influência no seu bisneto D. Fernando, mas que foram boas medidas foram.
Com D. Dinis, as leis aplicaram-se porque ele passou a vida a percorrer o país e tomava conhecimento do que se passava localmente.
Terá sido pelo seu exemplo que o Rei D.Fernando implementou a primeira Lei da Reforma Agrária em Portugal, as Sesmarias ? Por vezes os Reis faziam leis boas, executá-las seria outra conversa….