:: :: VALE DE COELHA :: :: Ao conceder forais a determinadas aldeias, o Rei reconhecia a sua importância para a defesa do território nacional. Quando essas aldeias entretanto concelhos, perderam essa importância, foram extintos os concelhos. É importante, é necessário, é justo, reavivar a memória dos mais esquecidos. Apesar de concelho, não se localizou a atribuição do foral.
Vale de Coelha é uma pequena povoação do concelho de Almeida. É limitada a este pela Vila de Almeida e a leste pelo Rio Tourões a que na zona as populações chamam Ribeira de Tourões. Este Rio constitui a linha de fronteira entre Portugal e Espanha desde o limite de S. Pedro do Rio Seco até à sua intersecção no Rio Agueda que, vindo de Espanha, passa a partir daí a ser a fronteira até ao Rio Douro.
A topografia na zona do antigo concelho de Vale de Coelha é praticamente plana apenas sendo recortada pelo Rio Tourões e pelo Rio Seco. Por isso esta aldeia nunca teve castelo e sua importância estratégica residia no facto de ser a um posto avançado da grande fortaleza de Almeida. Aliás terá sido também por isso, que o concelho foi criado.
Esta povoação chegou a ser concelho e por isso tinha o título de Vila embora fosse composta apenas por uma única freguesia. Este concelho, fazia parte do termo do concelho de Almeida o que quer dizer que não se tratava de um concelho perfeito. A informação existente sobre Vale de Coelha é escassa principalmente no que se refere à criação do concelho e bem assim à sua extinção. De qualquer modo, no Arquivo Distrital da Guarda, há referências ao concelho de Vale de Coelha em 1527… [Aqui.]
Admito, no entanto, que a sua extinção e reversão para freguesia terá ocorrido em 1834 (reformas liberais) ou no limite em 1855.
O concelho de Vale de Coelha cujo limite era apenas o da freguesia com o mesmo nome tinha uma dimensão diminuta. Certamente que houve razões relevantes para a sua criação. No entanto, a documentação que se conhece é parca e muito ténue.
O brasão de Vale de Coelha, é o brasão de uma Vila (quatro torres prateadas). Ora atendendo à dimensão da aldeia, o estatuto de vila não poderia ter sido adquirido por motivos de natureza económica nem de outros indicadores sociais. Tal estatuto foi adquirido precisamente por ter sido concelho.
Enquanto concelho, e apesar de submetido ao termo do concelho de Almeida, o que no fundo queria dizer que a justiça era feita em ligação com Almeida, possuía e possui o seu pelourinho, onde provavelmente eram executadas as sentenças quando implicavam castigos físicos.
O pelourinho de Vale de Coelha é monumento de interesse público e a sua descrição completa e pormenorizada consta (aqui).
Este pelourinho consta, como muitos outros, do inventário elaborado pela Academia Nacional de Belas Artes em 1935… [aqui.]
Com a reforma administrativa operada em 2013, Lei n.º 11-A/2013 de 28 de janeiro (Reorganização administrativa do território das freguesias) esta aldeia deixou de ser freguesia, passando a integrar uma nova unidade territorial a que se deu o nome de União das Freguesias de Malpartida e Vale de Coelha.
Esta localidade foi especialmente importante imediatamente após a celebração do Tratado de Alcanizes em que a fronteira foi deslocada para leste do Rio Côa. Com Almeida fortificada a Este, esta aldeia era uma espécie de posto avançado e de alerta para eventuais incursões que eventualmente proviessem de Espanha com quem confinava, através da Ribeira de Tourões. É que, mesmo com o tratado assinado, continuou a haver nas zonas de fronteira escaramuças essencialmente locais.
Vale de Coelha não tem um património tão rico como outros antigos concelhos, mas a sua importância no contexto da consolidação de fronteiras, justifica uma visita.
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«Do Côa ao Noémi», opinião de José Fernandes (Pailobo)
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