O ideal político da antiguidade grega era o dos cidadãos bastarem-se a si próprios, mostrando descrédito pelas actividades comerciais e bancárias e condenando o lucro pelo lucro e a acumulação de riqueza.
O sentido grego dos termos economia-económico está muito distante do sentido dos nossos dias, onde convivem sociedades e culturas em diferentes estado de desenvolvimento, desde as florescentes «Torres de Babel» como Londres e Nova Iorque, até à condição medieval da Libéria ou do Bangladesh.
O sentido do actual conceito de economia-económico deve muito ao século XVIII, época de grande vitalidade intelectual e de amadurecimento do homem ocidental e na qual surgiu a economia científica, estudada em diferentes perspectivas por pensadores como Quesnay, Adam Smith, Ricardo e Marx. Mas, até ao aparecimento da economia científica, os fundamentos religiosos foram elementos estruturantes do percurso da História.
Emergindo no quadro do colapso da Pax Romana, a Igreja Católica teve uma importância vital na transição das estruturas imperializadas para as estruturas pós-imperiais. Durante a sua existência a Igreja Católica sofreu várias cismas, mas a reforma protestante de Martin Luther marcou para sempre a história da Europa e do mundo que esta dominava. Formaram-se dois grandes grupos de comunidades, ou países: um de Católicos Romanos; outro dos que maioritariamente aderiram à reforma iniciada por Luther.
A diferente interpretação do «pecado» e a revolta contra as «indulgências», permitiu que muitos homens que aspiravam exercer o controle da natureza humana, através de práticas assentes nas transacções comerciais lucrativas, no cálculo financeiro e nos juros, seguissem a reforma protestante.
Assim, artesãos, comerciantes, pequenos empresários e burgueses puderam libertar-se de algumas coacções religiosas «pecados», e passaram a racionalizar os seus actos numa vertente do enriquecimento material. É neste quadro, que nos países anglosaxónicos de raiz protestante se formaram grupos de interesse em função das actividades exercidas e no qual vimos surgir o conceito de lobby, o qual tem na sua génese o favorecimento entre pares.
Na Europa do Sul, Católica, derivado a uma cultura de submissão do Povo e dos Estados ao poder dos bispados e da nobreza, o lobby não encontra campo de acção, pois os movimentos associativos de classe eram vistos como actos de insurreição e reprimidos à nascença. Mas, a complexização das sociedades e o surgimento do espírito capitalista fez com que a organização dos Estados crescesse e se dividisse por um crescente número de tutelas sectoriais.. Assim, o número de agentes do Estado foi-se multiplicando e as «Indulgências» dos prevaricadores continuaram a ser pagas, cada vez menos à Igreja e cada vez mais ao Estado, ou em paralelo aos seus agentes, que cobravam com desconto, dando origem à actual praga social conhecida por corrupção.
A Informatização dos serviços veio substituir a pequena corrupção dispersa, pela sua centralização nas empresas do sector financeiro, nas grandes sociedades de advogados e nos altos quadros dos partidos e das lojas maçónicas, que foram ocupando os cargos de administração.
A centralização da corrupção tornou a sociedade refém de um poder que a coage material e psicologicamente e que tem destruído o tecido social e económico, desacreditando e desmotivando todos aqueles que pretendem rumar contra o seguidismo e a cristalização das «famílias de terroristas» que monopolizam o poder político e económico. É este poder que consegue fazer desaparecer documentos que por lei teriam que ser guardados e que elabora estatísticas e relatórios de actividade repletos de mentiras, sem que ninguém se atreva a questionar a verdade, pois quem o fizer tem o desemprego e a perseguição garantida.
Contudo, avaliando o número de candidatos independentes às câmaras municipais, nas próximas eleições autárquicas (oitenta e nove), parece chegada a hora de todos lutarmos pela desinstalação das oligarquias partidárias e de mostrar nas urnas o descontentamento pela impunidade dos terroristas sociais que nos têm submetido a uma governação desumana e criminosa.
Nestas eleições é importante que os homens de bem dêem o sinal de que afinal o sistema corrupto pode ser vencido, e esse sinal é não votar nos representantes das forças políticas que nos têm conduzido ao empobrecimento, à fome e ao desmantelar dos sistemas de protecção social, de saúde e de educação, em detrimento da “engorda” do sector financeiro e da agiotagem partidária.
p.s.: Perdoem-me os leitores do blogue pela extensão deste artigo, mas neste momento não ficaria em paz com a minha consciência se não manifestasse a revolta que advém das situações de miséria humana com que me deparo diariamente.
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«Estádio Original», opinião de Luís Marques Pereira
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