Segundo o dicionário, um sectário é uma pessoa que segue outrem no seu modo de pensar, ou que lhe obedece cegamente. Logicamente, um sectário é um intolerante! Hoje, querido(a) leitor (a), vou dar-lhe a ler uma carta de Antero de Quental, o poeta do IDEAL, a António Feliciano de Castilho, escritor.
«Mas se eu como homem, desprezo e esqueço, como escritor é que não posso calar-me; porque atacar a independência do pensamento, a liberdade dos espíritos, é não só ofender o que há de mais santo nos indivíduos, mas é ainda levantar a mão roubadora contra o património sagrado da humanidade – o futuro. É secar as nascentes da fonte onde gerações futuras têm sede de beber. É cortar a raiz da árvore a que os vindoiros tinham de pedir sombra e sossego. É atrofiar as ideias e os sentimentos das cabeças e dos corações que têm de vir.
O contrário de tudo isto é que é a bela, a imensa missão do escritor. É um sacerdócio, um ofício público e religioso de guarda incorruptível das ideias, dos sentimentos, dos costumes, das obras e das palavras. Por isso, toda a altura, toda a nobreza interior são pouco ainda. Para isso toda a independência do espírito, toda a despreocupação das vaidades, toda a liberdade de jugos impostos de mestres, de autoridades, nunca será demais.
O mineiro quer os braços soltos para cavar, buscando o oiro entre as areias grossas. O piloto quer os olhos desvendados para ler nos astros o caminho da nau por entre ondas incertas. O sacerdote quer o coração limpo de paixões, de interesses, para aconselhar, guiar, julgar, imparcial e justo. O escritor quer o espírito livre dos jugos, o pensamento livre de preconceitos e respeitos inúteis, o coração livre de vaidades, incorruptível e intemerato.
Só assim serão grandes e fecundas as suas obras: só assim merecerá o lugar de censor entre os homens, porque o terá alcançado, não pelo favor das turbas inconstantes e injustas, ou pelo patronato degradante dos grandes e ilustres, mas elevando-se naturalmente sobre todos pela ciência, pelo paciente estudo de si e dos outros, pela limpeza interior duma alma que só vê e busca o bem, o belo, o verdadeiro».
Retirar a liberdade de expressão, dá uma sensação de impotência e de revolta.
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«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2008)
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