Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete,… sete irmãos, todos rapazes, com idades entre os 65 e os 82 anos juntaram-se para mais uma aventura intimista cheia de recordações e vontade de continuar a abraçar o futuro. A família Neto (os «Netas») de Vale de Espinho, terra raiana de contrabandistas do concelho do Sabugal reúne-se todos os anos no dia 15 de Agosto na imensa lezíria de Vale da Pedra, perto do Cartaxo, ocupada na sua grande percentagem por naturais valeespinhenses.
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A família Neto, os sete irmãos, todos rapazes, os filhos, os netos e os bisnetos reúnem-se anualmente na quinta da lezíria de Vale da Pedra, muito perto do Cartaxo, que foi «colonizada» nos anos 60, por cerca de 40 famílias de Vale de Espinho.
Mas vamos às apresentações dos filhos de Maria Augusta Mendes e de António Fernandes Neto conhecido como o «Ti Tó Neto Moleiro»: Armindo Neto, 65 anos, vive em França; Filipe Neto, 67 anos, casou e vive nas Asturias; Carlos Neto, 69 anos, vive no bairro da Encarnação, em Lisboa; Jeremias Neto, 70 anos, passa o seu tempo em Vale da Pedra; Alberto Neto, 73 anos, é emigrante «na retraite» em França; António Neto, 75 anos, agricultor dos espaços imensos da lezíria reside em Vale da Pedra; e José Neto, de 82 anos, que também vive na Encarnação, em Lisboa.
Esta família de moleiros está intimamente ligada ao Moinho da Telhada, junto ao rio Côa, em Vale das Éguas, onde na década de 40 viveram durante cerca de oito anos e ali nasceram o Carlos e o Filipe.
Alguns dos «rapazes» recordam «como se fosse hoje» que também viveram no Moinho da Praia Fluvial de Vale de Espinho (do Tonho Pires) e em três dos muitos moinhos que então existiam no Rio Côa…
«O que moíamos? Centeio, trigo e milho a troco de uma maquia. Um ano o rio secou e durante quatro meses foi a força de braços de quatro a cinco homens que fez andar a roda», recorda o Carlos Neto.
A festa reuniu cerca de 60 familiares e amigos que se deliciaram com um porco no espeto rodado pelos chefs da praia de Santa Cruz.
Este ano os sete irmãos foram surpreendidos com t-shirts personalizadas onde o nome de cada um surgia destacado em relação aos restantes.
«Assim já não lhes trocamos os nomes», esclarece a Augusta, filha do José e autora da ideia.
A «boratcha» com vinho, que acompanhava os lavradores raianos nos duros trabalho no campo, entrou em cena ainda antes do almoço e foi passando de mãos em mãos sem nunca verter gota nas brancas camisolas.
«É uma prática que se ganhava de muito novos. A boratcha tem que estar bem tratada para não ganhar cheiro», explica-nos um dos «Netas»
enquanto nos mostrava como se devem colocar as mãos antes de as levantar com mestria.
Para o lanche surgiu um vizinho, criador de avestruzes, para confeccionar um ovo gigantesco que corresponde, segundo nos explicou, a duas dúzias dos «fabricados» pelas galinhas. A casca foi marcada com um lápis e, depois, cortada com uma espécie de berbequim «tico-tico» porque, como pudemos constatar, «era dura como cornos».
As mulheres foram «presenteadas» com doces de São Gonçalo de Amarante.
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Família Neto de Vale de Espinho – Testemunhos vivos das nossas gentes e das nossas terras. Testemunhos vivos da dureza da vida da Raia beirã. Foi uma tarde de intensos sentimentos polvilhados pela identidade única da alma raiana. Bem-hajam pelo privilégio que me deram de visitar o passado no presente sentindo a necessidade de garantir um lugar no futuro para os «Netas» de Vale de Espinho.
Boratcha – Recipiente de couro, bojudo, com bocal estreito, geralmente de madeira ou plástico, muito usado por jornaleiros e gadanheiros para transportar vinho. Igual a Odre. A palavra «borratcheira» terá tido origem no excesso de vinho ingerido a partir da «boratcha».
jcl
Sou membro da família Neto já em segunda geração, é com enorme satisfação que todos os anos nos empenhamos para que se realize o nosso encontro do 15 de Agosto, que este ano foi particularmente interessante dado terem estado presentes sete irmãos Neta, o que raramente acontece, para além de que, o amigo Zé Carlos Lages deu-nos o prazer da sua companhia. Foi com enorme satisfação que constatei a forma singela como relatou o nosso encontro no casal do Ti Tó no Vale da Pedra. O nosso bem haja a ele e a todos os que já nos vieram manifestar o seu aplauso e reconhecimento Raiano.
Obrigado, Zé Carlos Lages, por ter divulgado este feliz e curioso acontecimento dos 7 Netas de Vale de Espinho. Foi ocasião para lembrar alguns dos irmãos que estiveram mais próximo de mim, como o Jeremias, que andou na escola primária comigo e com o Alberto com quem fiz uma memorável viagem no seu Simca cinzento de Vale de Espinho até Paris. O Vale da Pedra foi também uma terra que me foi querida. Depois do Senhor Isac e do Senhor Florindo, de Vale de Espinho, fixou-se também nesta terra o meu cunhado Manuel Coxo e a minha saudosa irmã Maria. Outros vieram em seguida, também da nossa terra, depois de terem amealhado alguns tostões noutras paragens.
Lembro-me que aquilo que mais impressionava estes nossos conterrâneos era o contraste com as nossas terras. Ali tinham a fertilidade e a abundância da lezíria do Ribatejo que tudo produzia. Era um encanto e miragem e, por isso, não admira que as raizes dos valdespinhenses se tenham espalhado por aí e agora divulgadas com a fina pena do nosso amigo Zé Carlos.
Grande reportagem, José Carlos Lages.
O encontro dos Netas valdespinhenses é um acontecimento deveras peculiar…
Que continuem a encontra-se por muitos anos.
Paulo Leitão Batista
Jornada épica dos “Netas” de Vale de Espinho!
Este convívio fraterno de sete irmãos representa o testemunho mais belo daquilo que a vida comporta que é a amizade que, para sempre, os une.
Parabéns a todos. Sois o orgulho da vossa família e, assim, honrais a memória dos vossos antepassados.
Por certo que o Ti Zé Filipe, a Ti Marizabel Furriela, a Ti Anjos, o Ti Tó Neta e a Ti Gusta Neta, lá onde se encontram, não deixarão de sorrir de tamanha felicidade!
Um grande abração deste vosso amigo, Zé Fino!
Que coisa mais linda!