:: :: VALE DE ESPINHO :: :: Os manuscritos depositados na Torre do Tombo, em Lisboa, são a resposta a um inquérito censório a todo o reino assinado pelo Marquês de Pombal três anos após o terramoto de 1755. O Capeia Arraiana está a publicar as respostas dos párocos das paróquias das 40 freguesias do concelho do Sabugal agora que, pelo menos 10 das retratadas, vão desaparecer para sempre por obra e graça dos senhores mandantes da troika europeia. (Parte 38 de 41.)

:: :: VALE DE ESPINHO :: :: Certifico eu Jerónimo Fernandes, Cura actualmente de Val de Espinho, que é verdade o que eu respondi, é certíssimo segundo o que sei ou de que me informei de pessoas fidedignas, e por verdade passei esta que assignei.
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Comarca de Castelo Branco, Termo do Sabugal, Bispado de Lamego.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Dicionário Geográfico, vol. 38, doc. 22, p. 120.
Património arquivista da Paróquia de Vale de Espinho entre 1672 e 1911… (Aqui.)
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Relação do Lugar de Vale de Espinho, Cimacoa, Bispado de Lamego, sobre os Interrogatorios que Sua Magestade mandou se desse.
1 – Esta este povo na Provínvia da Beyra, Bispado da cidade de Lamego, Comarca de Castello Branco, termo da Villa do Sabugal, freguezia do mesmo povo.
2 – Hé de El Rey.
3 – Tem este povo setenta vezinhos, pessoas de confissão e comunhão cento e noventa, pessoas de confissão somente sinquenta.
4 – Está situado em hum meyo outeyro, com meyo declivio para o Ryo Coa, de que abaixo se fará mensão; e delle se não descobre povoação alguma.
6 – Está a Igreja Matriz dentro do mesmo povo, posto que em algum tempo estava anexa a elle o Lugar dos Foios, que hoje tem seu Cura áparte.
7 – Hé Orago da freguezia Sancta Maria Magdalena. Tem a igreja tres altares: o altar mor e dois colatraes. Da parte da porta travessa que dá para a parte do Sul, está o altar do Santo Christo: da outra parte o altar de Nossa Senhora do Rozário. E não tem Irmandade alguma.
8 – O Parrocho da freguezia hé Cura annual, o qual aprezenta o Reitor da Igreja de Sancta Maria da Nave. Tem de renda a cada hum anno sincoenta alqueires de trigo, e sincoenta de centeyo, e tres mil reis em dinheyro, e como consta do Livro de Uzos, costumava dar a comenda, em algum tempo, mais quatro fanegas de centeyo cada anno, e de prezente as não querem dar.
13 – Tem huma Ermida de Santo António, que está na ponta do Lugar, quazi chegada ás cazas para a parte do nascente e o Cura do mesmo povo hé que administra.
15 – Os frutos desta terra em mayor abundancia, posto que pouca, hé centeyo e algum linho, porém tudo em pouca quantidade.
16 – Nam tem Juiz ordinario, nem Camera, antes está sugeito ao ordinario da Villa do Sabugal.
20 – Nam tem Correyo, serve-se do Correyo de Penamacor que dista deste povo quatro legoas.
21 – Dista este povo da cidade capital que hé Lamego, vinte e huma legoas: dista da cidade capital do Reyno sincoenta legoas.
27 – E não há couza digna de mernoria de que se possa fazer mensao.
Resposta que se dá sobre a Serra que hé junto a este povo.
1 – Tem junto este povo a elle hua Serra que lhe fica áparte do Sul. Tem o seu principio em huma Serra que chamam a Nave Molhada, ou por outro nome a Serra das Mezas, que fica distante deste povo quazi duas legoas, para a parte do nascente.
2 – 3 – Continua esta para a parte de Castella, e se estende por ella adentro, até onde chamão Fundas, em espaço de quinze ou vinte legoas, alem de outros muitos braços que se dividem para diversas partes da mesma Castella, e para a parte de Portugal vem discorrendo para a parte do Poente, em espaço de duas legoas da tal Nave Molhada; e junto a este povo e na direitura delle se divide em dous braços, hum que discorre para a parte do Sul que vay fenecer em huns outeyros muy altos, chamados Marrana e Marraninha, e perto de o cume deste braço se divide a Raya de Castella e Portugal; e outro braço que não tem nome vay fenecer junto a Villa de Penamacor, a hum lugar que chamão Meymão; e do princípio da Nave Molhada a estas partes onde finalizão, serão sinco ou seis legoas.
4 – Nam nascem Ryos notaveis mais que tão somente o Coa de que abaixo se fará mensão.
5 – Enquanto desta parte de Portugal nas fraldas da Serra está este povo, o dos Foyos, e Coadrazais; e da parte de Castella nas fraldas da Serra está a Villa de Valverde, e das Eljas e a de Sam Martinho.
7 – De presente não há minas, mas há vestigios de que algum tempo se tirarão algumas minas, por haver nestas serras grandes covas e buracos que mostrão tirarem-se; porém não se sabe, pela muita antiguidade, que calidade de metais se tiraram nellas.
8 – Em algumas partes da dita Serra se cultiva algum centeyo.
10 – A qualidade do temperamento hé fregidissimo.
11 – Há nella criaçoens de gado, como são ovelhas, e cabras. Crião-se tambem nella veados, corços, javaliz, coelhos e perdizes.
6 – 9 – 12 – A estes não há que responder.
13 – Não há mais couza digna de memoria, que se possa dizer a respeito da Serra.
Resposta que se dá sobre a Ribeyra deste povo.
1 – Chama-se o seu nome Coa; tem o seu principio ou nascimento na sobredita Serra da Nave Molhada ou Serra das Mezas.
2 – Nam nasce caudalozo, porém corre todo o anno.
3 – Nam entrão por estas partes Ryos notáveis nelle, mais que tam somente innumeráveis regatos que por serem muitos o fazem caudalozo pello discurso, mas não tem nome.
5 – Quazi na mayor parte delle hé de curso bastantemente arrebatado, por ir quazi sempre enfregado.
6 – Do seu nascente athé a Villa do Sabugal, em espaço de tres legoas, corre directametne de Nascente ao Poente, e dahi, virando, corre do Sul ao Norte athé onde fenece o seu nome, posto que em algumas partes faça alguns reflexos, porém pequenos.
7 – Desde o seu nascimento athé este povo, não cria mais que tam somente trutas, e algumas enguias, e daquy athé o povo de Coadrazais, cria trutas, barbas, bordallos, e bagas e enguias, porém a mayor quantidade sempre hé de trutas athé o Sabugal, a dahi athé o seu fenecimento, não se cria senão barbas e bagas e enguias.
10 – Nam se cultivão as suas margens, por ser muito enfragado, e aonde o não hé, por ser muito frias; e emquanto se nao aparta o Ryo da Serra, tem muito arvoredo, porém tudo couza muy aspera por ser sylvestre.
11 – Tem vitude particular, mas se entende, nas cezoens.
12 – Conserva o seu nome athé se meter no Ryo Douro, e não consta nem há memória que em algum tempo tivesse outro nome.
13 – Vay ter o seu fenecimento, como assima fica dito no Ryo Douro, junto a Villa Nova de Fozcoa.
15 – Tem neste povo huma ponte de madeyra, outra em Coadrazais de madeyra, outra no Sabugal de pedra, outra junto a Badamalos de pedra, outra junto a Castello Bom de pedra, outra junto a Villa de Almeyda de cantaria, e outra em Vai da Madeyra de cantaria.
16 – Tem em todo o seu decurso muita quantidade de moynhos e alguns pizoens.
17 – Haverá dez ou doze annos, vieram huns poucos de homens e no dito Ryo tiraram algum ouro e também em alguns regatos que da Serra emanão.
19 – Tem este Ryo desde o seu nascimento athé onde acaba, quinze ou dezasseis légoas de curso. As povoaçoens por onde passa o tal Ryo, das que eu tenho noticia, são a saber: Foyos, Vai de Espinho, Coadrazais, Malcata, Sabugal, Rendo, Val das Egoas, Rapoula, Vallongo, Vadamalos, Porto de Ovelha, Castello Bom, Almeyda, Vai da Madeyra, e daly athé onde fenece, não tenho noticia das povoaçoens; e não tenho mais noticias que dar sobre estes interrogatorios, nem de todos os mais.
Certifico Eu Jeronymo Fernandes cura actualmente do Lugar de Val de Espinho que hé verdade o que eu respondi na verdade e tudo quanto vai escrito nas tres partes dos interrogatorios, hé certissimo segundo o que sei, ou de que me informei de pessoas fidedignas, e por verdade passei esta que assignei.
Val de Espinho de Junho 3 de 1758.
O Cura Jeronymo Fernandes.
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Ver perguntas do inquérito… (Aqui.)
Fonte: Alfaiates-Na órbita da Sacaparte. Autores: Pe. Francisco Vaz e Pe. António Ambrósio.
(Continua.)
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«Censos do Marquês de Pombal em 1758», por José Carlos Lages
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