:: :: VALONGO DO CÔA :: :: Os manuscritos depositados na Torre do Tombo, em Lisboa, são a resposta a um inquérito censório a todo o reino assinado pelo Marquês de Pombal três anos após o terramoto de 1755. O Capeia Arraiana está a publicar as respostas dos párocos das paróquias das 40 freguesias do concelho do Sabugal agora que, pelo menos 10 das retratadas, vão desaparecer para sempre por obra e graça dos senhores mandantes da troika europeia. (Parte 37 de 41.)

:: :: VALONGO DO CÔA :: :: Tem a Ermida de Santa Bárbara, com muita gente no dia de sua festa que é no dia 4 de Dezembro, e pertence ao Sr. Bispo. Acerca do Coa, o Cura Manuel Martins, humildemente, escreve que «o Rio Coa morre no Douro, e o sítio em que entra não sei como chama, por ser distante desta terra».
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Comarca de Castelo Branco, Termo do Sabugal, Bispado de Lamego.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Dicionário Geográfico, vol. 38, doc. 37, p. 213.
Património arquivista da Paróquia de Valongo do Côa entre 1610 e 1911… (Aqui.)
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1 – Esta terra está na provincia de Almeida, bispado da cidade de Lamego, comarca da Villa de Castello Branco, anexa do Lugar da Nave do Sabugal, termo da Villa do Sabugal.
2 – Hé de El Rey Nosso Senhor.
3 – Tem trinta vezinhos e cento e trinta pessoas.
4 – Está situada no fundo de hum vale, junto ao Rio Côa; sómente se descobre hum Lugar chamado Seixo do Côa, distante hum quarto de meia legoa.
5 – Nam tem termo seu, mas sim he sugeita ao termo da Villa do Sabugal.
6 – A parochia está dentro do Lugar; nao tem lugares, nem freguezias fora, somente huma quinta, distante meio quarto de legoa.
7 – O seu Orago hé nossa Senhora do Concepssão. Tem tres altares: hum do Santissimo Sacramento, outro de Nossa Senhora do Rozario, e outro de Sam Sebastiam. Nam tem nave alguma. Irmandades tem huma erigida na capella de Santa Barbara.
8 – O seu Parocho he Cura aprezentado pelo Reverendo Vigario da Nave do Sabugal; tem de porçam cento e trinta e outo alqueires e qorenta alqueires de trigo.
9 – Nam há nella Beneficiados alguns.
10 – Nam tem Conventos nenhuns.
11 – Nam há nela Caza de Mizericordia
13 – Somente tem huma Ermida de Santa Barbara, a coal está fora do Lugar, meio coarto de legoa, junto a huma quinta que há desta freguezia.
14 – Tem esta Ermida muita gente por devoçam no dia da sua festa, que hé no dia coatro de Dezembro, e pertence ao Sr. Bispo.
15 – Os frutos que dá mais abundante hé centeio e vinho.
16 – Tem Juis espadano, e está sugeito ás Justiças da Villa do Sabugal.
17 – Nam hé couto, nem cabeça de concelho.
18 – Nam consta della sahissem homens alguns insignes em Letras nem Armas.
19 – Nam há nella feira alguma.
20 – Nam tem Correio; nem hé terra que tenha condiçam alguma; a terra onde elle chega dista duas legoas, que hé a Villa do Sabugal, donde se serve.
21 – Dista da cidade de Lamego vinte legoas e da de Lisboa cinquenta e cinco, pouco mais ou menos.
22 – Nam tem previlegios, nem antiguidades algumas.
23 – Nam há nesta terra fonte, nem lagoa especial.
24 – Nam hé porto de Mar.
25 – Nam hé terra murada, somente tem huma Atalaia dentro do povo, a coal está cahindo.
26 – Nam padeceu ruina alguma no terramoto do anno de mil sete centos e cincoenta e cinco.
27 – E nam há mais que possa dizer. A respeito da Serra, nam tenho que possa informar, poque nam há nesta terra.
(O RIO CÔA)
1 – Corre junto dela hum rio chamado o Côa, o coal nasce na Serra das Mezas, junto da raia de Castella.
2 – Nasce logo caudalozo, porem dentro de huma legoa de distancia hé bastantemente abundante de ágoas e corre todo o anno, exceptuando alguns Verois, que sam muito secos que nestes deixa de correr.
3 – Do nascente anté esta terra, entram nele hum rio da Villa do Sabugal para baixo, junto de huma quinta perto, Rendo; outro entra junto do porto de Rapoula; o outro entra nos lemites desta terra, onde chamam o Poço do Boi; outro entra junto desta mesma terra, do porto que vai para Seixo do Côa; outro entra junto das poldras de Porto de Ovelha; e outro logo pella parte de cima; outro entra nelle junto da Quinta do Noemi; e são os que sei entram nelle, do nascente enté o porto de Almeida, exceptuando varias ribeiros que a cada passo estam entrando nelle.
4 – Nam hé navegavel.
5 – Hé de curso quieto em partes e noutras mais arrebatado.
6 – Corre do Nascente para o Poente.
7 – Os peixes que cria sam trutas, barbos e bogas; as bogas sam e barbos sam mais abundantes da Villa do Sabugal para baixo, e para o Nascente sam mais abundantes as trutas.
8 – Em todo o anno se pesca nelle.
9 – Sam as pescarias livres em todo o Rio.
10 – Sam cultivadas as suas margens; o arvoredo que tem sam alguns amieiros infrutiferos.
11 – Nam consta que as ágoas tenham virtude alguma particular.
12 – Sempre conserva o mesmo nome enté entrar no Douro, nem consta que em outros tempos tivesse outro nome.
13 – Morre no Douro, o sitio em que entra nam sei como se chama, por ser distante desta terra.
14 – Nam tem cachoeiras nem prezas, e só tem muitos açudes de vários moinhos que nelle há.
15 – Tem huma ponte junto da Villa do Sabugal, outra junto desta terra, que chamam a ponte Siqueiros, e outra junto da Villa de Castello Bom, e outra junto da Villa de Almeida, todas de qantaria, e nam sei de mais.
16 – Tem muitos moinhos e alguns pizoins.
17 – Nam sei que em tempo algum se tirasse delle ouro, e menos ao prezente.
18 – Livremente uzam os povos de suas ágoas para a agricultura dos campos.
19 – Tem vinte legoas do nascente emté onde acaba, pouco mais ou menos; passa pello meio do lugar dos Foios, junto de Vai de Espinho, de Coadrazais, da Villa do Sabugal, do lugar de Rendo, do lugar da Rapoula, do lugar de Vai das Egoas, do Seixo do Côa, deste lugar de Valongo, do lugar de Vai de Maios, de Porto de Ovelha, de Malhada Sorda, da Vila de Castello Mendo, da Villa de Castello Bom, da Villa de Almeida; e dahi para baixo nam sei as povoaçoins que há. Hé o que posso dizer nesta materia.
E por ser verdade me assigno.
Vallongo, de Junho 2 de 1758.
O Cura Manoel Martins.
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Ver perguntas do inquérito… (Aqui.)
Fonte: Alfaiates-Na órbita da Sacaparte. Autores: Pe. Francisco Vaz e Pe. António Ambrósio.
(Continua.)
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«Censos do Marquês de Pombal em 1758», por José Carlos Lages
Com a resposta ao Censo de Marques de Pombal, não restam dúvidas que a Ponte Sequeiros, está na jurisdição de Valongo do Côa, para quer tiver dúvidas.