Por entre a correria do tempo passam memórias que marcaram uma época e que tornaram possível a realização de muitos sonhos. Ao recuarmos à década de sessenta damo-nos conta de um país cinzento em que o sol brilhava apenas para alguns, o acesso à educação era privilégio dos filhos, nascidos em berço de ouro, o trabalho era uma obrigação de todos, mas onde os privilégios não constavam dos códigos vigentes.

Estávamos então, num concelho cheio de gente pobre, com elevado índice de analfabetismo e, de sacola às costas, pelo calar da noite, muitos dos homens preparavam-se para dar o salto para França.
Para trás deixavam mulher e filhos, muitas vezes de tenra idade, para quem a presença da família era estruturante para a sua vida futura.
O acesso à educação era vedado a partir da 4.ª classe.
Foi neste cenário – «terceiro mundista» – que muitos dos avós de hoje, viveram a sua meninice e percorreram a sua juventude. O trabalho do campo complementava o naipe, selectivo, da ocupação dos tempos livres e das brincadeiras de então.
É exactamente neste concelho, adormecido no tempo, que nasce o Colégio do Sabugal, assim chamado, ou então o Colégio do Dr. Diamantino.
Como hoje se diz, «foi uma janela de oportunidades» que se abriu para os rapazes e raparigas desta região fronteiriça, entalada entre a farta Cova da Beira e a agressividade da paisagem da vasta Meseta Ibérica.
Já nessa altura, o Colégio do Sabugal tinha uma «rede» de transporte de alunos que os levava, diariamente, às aulas, regressando, no final do dia às suas casas. Era aqui que o Colégio fazia a grande diferença! É que nem todas as famílias tinham condições de deslocar os filhos para estudar na cidade e, vindo a dormir a casa, sempre ficava mais em conta.
Tal como eu, certamente muitos jovens, teriam ficado em casa, esperando que algum familiar ou padrinho, de bem com a vida, lhe arranjasse um emprego em Lisboa… Entretanto, o campo seria o grande empregador que, por certo, lá estaria à espera.
Mas não, o Colégio do Sabugal, afirmou-se, desde sempre, por ser um espaço onde se aprendia e estudava e, claro está, muita farra! … Dali saíram homens e mulheres muito bem formados ocupando hoje, lugares de particular destaque, na vida social e política deste país.
Nesta passagem pelo tempo deixaria apenas alguns nomes que povoam, ainda hoje, as nossas memórias: Dr. Diamantino, Dr. Moreira, Dr. Salgueiro, Dra. Dina, Padre Júlio, Padre Machado, Padre Souta… e, claro está, a Céuzinha, primorosa contínua, por nos ter tratado, como se de seus filhos de tratasse.
A todos, onde quer que eles estejam, o meu reconhecido Bem Hajam!
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«Viver Casteleiro», opinião de Joaquim Luís Gouveia
Foi em grande parte a minha experiência como aluna do Colégio – tanto quanto a de filha do meu pai – que me levou para o ensino. E, embora os tempos corram amargos para a escola e para os professores, é com muito orgulho que me afirmo como tal – e como antiga aluna do Colégio. Não esqueço a alegria de ensinar e de aprender que ali vi e experimentei e que é o meu legado e de todos os que lá andaram. Tento dar-lhe continuidade. Há memórias que que nos inspiram.
Cara Soledade Diamantino!
Os anos passam … e, as nossas memórias, carregadas de emoções, transportam-nos para momentos tão marcantes das nossas vidas, momentos esses que foram os pilares da nossa formação, enquanto alunos do então EXTERNATO SECUNDÁRIO DO SABUGAL.
Isso mesmo, este era o verdadeiro nome pelo qual o Dr. Diamantino fazia questão que professores e alunos chamassem a esta unidade de ensino.
Onde quer esteja, Dr. Diamantino, O MEU BEM HAJA.
Penso estar a responder a uma filha do Dr. Diamantino, certo?
Sim, está. Só agora – um ano depois – vi esta mensagem. E não se dará o caso de termos sido colegas de turma?
Boa noite Soledade!
Meio ano depois da sua mensagem, estou a responder-lhe.
Eu estudei no Colégio entre 1966 e 1974. Certamente a “Solita” (era assim chamada, não era?) também frequentava o colégio nessa altura.
Tenho ideia disso!
Sim, frequentámos o Colégio no mesmo período de tempo. E fomos seguramente colegas 🙂
… Faltou-me só lembrar que fui professor do autor deste bom texto.
Fica aí agora o complemento…
Olá Zé Carlos!
Falha minha, já assumida familiarmente. Como me fui eu esquecer aquele que foi o meu primeiro professor, fora do alcance das “saias de minha mãe”? Como diria um amigo, já ancião, aqui do Fundão: “Ele há casos!…”
Mais uma vez, as minhas desculpas, caro cunhado!
Boa homenagem, Quim.
Nem de propósito, no texto que enviei anteontem para ser publicado à meia-noite de domingo, lá refiro também o Externato, ao correr da pena – mas lá está a nota.
Todos nos lembramos do nome real do estabelecimento a que chamávamos «o Colégio»: Externato Secundário do Sabugal. Não era?
Recordar isso tudo é honrar o passado.
Gostei de ler.
Foi ali que fiz/confirmei (ou melhor: preparei, porque as provas foram feitas na Guarda) os exames dos 2º, 5º e 7º anos da altura (hoje 6º, 9º e 11º). E foi ali que comecei a minha vida profissional também: dois anos na Telescola. E não preparei lá a Aptidão porque «dispensei». Se não, lá seria também, se calhar.
Por tudo isso, também eu estou muito reconhecido ao Dr. Diamantino e ao Colégio.
Um abraço.
Belo e comovente texto, caro Joaquim Gouveia.
De facto o Colégio do Dr Diamantino foi uma das grandes obras realizadas no concelho do Sabugal. Antes do colégio, ou se era muito rico e ia estudar para a Guarda, ou se afirmava a vocação sacerdotal e se ia para o Seminário, ou então fica-se a cavar a terra, que era o destino da grande maioria dos jovens. O Colégio trouxe o direito ao ensino secundário no concelho do Sabugal e até a algumas terras dos concelhos limítrofes. O Dr Diamantino merece estar na memória de todos como um dos maiores cidadãos beneméritos do concelho.