Dá para rir, não dá querido(a) leitor(a)? Mas antes de rir leia isto de um escritor uruguaio, Eduardo Galeano: «Está no horizonte (…) aproximo-me dois passos, ela afasta-se dois passos. Caminho dez passos, e ela afasta-se dez passos mais. Por muito que eu caminhe nunca a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso… para caminhar.»
A utopia é a esperança e a luta por um Mundo melhor, sempre esteve associada a um ideal de justiça, ideal esse procurado sempre pelo homem. Platão, na República, defende a justiça e dá-nos uma ideia de como seria o Estado ideal, um Estado justo.
Mas os tempos mais propícios à criação utópica, chamemos-lhe assim, foram os séculos XVIII e XIX, há quem lhe chame até a época dourada da utopia, foi o começo da industrialização. Os grandes pensadores viram na brutal realidade das relações de trabalho (exploração brutal dos trabalhadores) motivos de transformação para a criação de um Mundo mais justo. Qual é a grande inspiração dos utópicos? A miséria! O que inspirou as Grandes Revoluções da História? A miséria! Esta, a razão pela qual o poder tentou sempre desonrá-la, chama-lhe: «impossível», «demagogia» e «loucura», reduz o espírito da utopia a uma dimensão estética, como a literatura e a arte.
Neste princípio do século XXI a utopia perdeu a sua razão de ser? Nem pensar! Só uma utopia salva este Mundo. Nunca, como hoje, a repartição injusta da riqueza foi tão acentuada, o sistema imperante lançou-se numa ofensiva massiva contra a justiça social, por isso os ricos são cada vez mais ricos, e os pobres cada vez mais pobres, não só em África ou na Ásia, mas também no Ocidente, o ter um posto de trabalho onde muitas vezes se é explorado, é um luxo. Vivemos num Mundo desumanizado.
Que é feito dos intelectuais que lutavam contra os sistemas desumanos? Já não se preocupam em humanizar nada nem ninguém, escrevem para os senhores do poder, ganhando com isso bom dinheiro!
O momento histórico que vivemos é mais propício em recompensar o vulgar e baixo, do que o elevado, por isso, um ente ególatra e egocêntrico que viva em permanente delírio, cuja única preocupação seja converter o seu nome em fetiche mediático e objecto de adoração, tem mais valor do que um perfeito e honrado cidadão, um ente assim torna-se também responsável pelo estagnamento a todos os níveis, da comunidade onde está inserido.
Não é novo, sempre foi assim, por cada pequeno avanço nas ideias e nas teorias, foram necessários sacrifícios indescritíveis, pagos com a morte, sofrimento, escárnio e desterro.
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«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2008)
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O que seria do Homem sem a Utopia? Como dizia o poeta: “O Sonho Comanda a Vida”