Nesta primeira linha, uma promessa: na última linha desta crónica, o leitor do «Capeia» tem uma prenda. Crónica esta que é muito ligeira, mesmo um textozinho de férias com vários temas, muito leves, com o Casteleiro sempre em fundo, a começar pelas imagens da Festa de Santo António que ainda não acabou no exacto momento em que esta crónica vai para o ar… Volte sempre.

Hoje, segunda-feira, quando o leitor estiver a decifrar-me, já terminou a festa de Verão do Casteleiro: a Festa de Santo António. Na altura da vinda dos emigrantes (os que estão fora do país) e dos migrantes (os que estão fora da nossa região), este foi o maior e mais

diversificado acontecimento. Mas terminou. Para o ano há mais…
Um conselho: se quer ver imagens da festa, siga este blogue, o «Viver Casteleiro»… (Aqui.)
Encontrará já hoje ou amanhã muitas fotos, vídeos, sons, imagens, comentários acerca daquilo que foi a Festa de Santo António de 2013. Posto isto, vamos a dois ou três temas de Verão: leves e adequados para tanto calor e tanta modorra…
Casteleiro – religião e colheitas
A propósito de festas, de devoções e de oragos, convém aliás lembrar que o orago da Paróquia do Casteleiro não é Santo António mas sim São Salvador.
E quero lembrar, já agora, que, dantes, a religião vivia muito dos ciclos produtivos. Um dos mais fortes e marcantes momentos altos deste fenómeno eram as «Ladainhas». Essa imagem e esse som ainda perduram em muitos ouvidos: as ruas percorridas de manhã bem cedo pelas pessoas rezando e pedindo que Deus e todos os Santos livrassem as culturas da desgraça das pragas.
É como digo: ao longo do ano, dantes, havia momentos especialmente dedicados pela religião às tarefas do ano económico e agrícola. As Ladaínhas contra as pragas eram um desses momentos, mas havia outros actos religiosos solenes igualmente dedicados aos pedidos de protecção divina para as colheitas.
O vedor

Provavelmente uma percentagem significativa dos meus leitores nunca ouviu a palavra vedor (leia com o e aberto), nem imagina a que é que me refiro. Pois bem: vedor era aquele senhor que vinha ao Casteleiro (e a todas as terras, presumo) para «adivinhar» onde é que se devia abrir o poço nos terrenos de cultura.
Leio num dicionário que vedor é «o que, por meio de uma varinha, revela a presença de água subterrânea. Pesquisador de nascentes de água». É isso mesmo. Ou seja: ele detectava onde é que havia água lá mais abaixo do solo. Parecia um milagre: o homem chegava, percorria o terreno com a sua varinha, muito concentrado, deslocava-se de um lado para o outro, a vara não mexia aqui, mexia ali, dobrava acolá. Pois bem: era aí que ia ser aberto o poço.
Como devem calcular, fazer um poço era uma grande despesa. Por isso, não se podiam andar a abrir buracos por todo o lado até encontrar água. Naturalmente, o facto de haver um cidadão que conseguia detectar água nas profundezas, era uma aquisição científica e financeira enorme. E nunca falhava.
Claro que não era bruxedo nem milagre, apenas as leis da Física a funcionar. E agora expliquem-me lá vocês como é que o povo, o grande povo, sem saber ler nem escrever sabia estes segredos do Cosmos? Isso é que era milagre.
Encontrei este relato, a propósito: «… Eu também me custava a acreditar mas, há muitos anos, o meu, então, futuro sogro fez uma demonstração. Arranjou uma vara de marmeleiro que prendeu em arco entre uma mão e outra, descalçou-se e começou a andar numa zona lá das terras! A dada altura a vara começou a baixar e ele a arrepiar-se todo, quando disse, “há água aqui a cerca de x metros”…
Céptico, claro, pedi para experimentar. Então ele segurou na vara num lado e eu noutro, começámos a andar e, pimbas, no tal local a sacana da vara começou a puxar para baixo com tal força que eu não a consegui segurar, sem que nenhum de nós a tivesse manipulado para isso!».
Mas há melhor. Até encontrei depoimentos de vedores. Quem tiver mesmo interesse pode divertir-se um bocado com isto… (Aqui.)
Falas populares
Só duas ou três palavrinhas e expressões bem populares para aligeirar ainda mais a coisa, hoje. É que não me apetece mesmo nada de pesado. E começo já pela que me parece mais engraçada:
Na minha terra chama-se «futrica» a um tipo que anda sempre a dizer mal de uns e de outros ou que não vale nada…:
– Aquilo é que está ali um futrica!
Pois bem: descobri que, coitado do Paulo Futre, se calhar este termo nesta versão popular (noutras terras e nos dicionários significa outras coisas), mas aqui esta palavra «futrica» virá de Futre, que significa nada mais, nada menos do que «Bandalho. Sovina. Homem desprezível, mal vestido».
Só mais esta. No Casteleiro chama-se «azamel» a um rapaz ou a um homem que não tem jeito para nada ou que não tem força para os trabalhos necessários:
– Que raio de azamel que tu me saíste…
Um dia deu-me para ir ver. E cheguei aqui. «Azemel» é o condutor de animais (azêmolas, daí azemel), ou também almocreve.
Mas daí até chamar azamel a uma pessoa por não ter força ou jeito, vai um bocado. Será que os antigos azeméis eram assim desajeitados e fraquinhos? Vá-se lá saber…
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Duas notinhas
1.ª Impressionaram-me duas coisas quando li aqui o relato das respostas do Prior de Santo Estêvão em 1758, mais uma vez trazida por José Carlos Lages: primeiro, que não haja nem uma referência ao Casteleiro (como o do Casteleiro nunca refere Santo Estêvão) – ou seja, tão perto e tão longe; segundo, que tanto ali se fale do Vale de Lobo. Ou seja: a ligação é para Penamacor, apesar de pertencer então ao concelho de Sortelha.
2.ª Cá vai finalmente a surpresa prometida na primeira linha. Uma prenda exclusiva: apenas para os leitores do «Capeia». Abra então o link, clicando… (Aqui.)
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
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