Damos continuidade à apresentação do léxico «O Falar de Riba Côa» com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.
Entre os termos FIO DE COCO e FOME NEGRA.
FIO DE COCO – fio usado na pesca à cana.
FISGA – aparelho para atirar pedras, formado a partir de uma pequena galha bifurcada, com duas tiras de borracha e um pedaço de cabedal; também se designa atiradeira. Fresta; pequena fenda ou abertura por onde se espreita.
FISTOR – homem astuto; finório; velhaco (Júlio António Borges). «Apareceu-me lá um fistor bem enfarpelado» (Abel Saraiva).
FITO – pequeno pau que se endireita no chão, a que se atira a malha no também chamado jogo do fito, ou da malha.
FIVILETE – magro; enxuto (Júlio António Borges).
FLAUTEAR – não fazer nada de útil; passear (Júlio António Borges).
FLEIME – navalha com cinco lâminas diferentes, usada pelos ferradores e alveitares (veterinário amador); também se diz flame (Júlio António Borges). Os Dicionários traduzem flame por: lanceta de veterinário.
FLERCA – castanha chocha (Franklim Costa Braga).
FLOR DO CANIÇO – fuligem da chaminé que caiu para o caniço a aí ficou agarrada (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho). Casimiro Morais Machado, monografista do Mogadouro, diz tratar-se de uma expressão irónica que alcunha a mulher velha e chupada.
FLORETA – variedade de doce, ou bolo, que é comum comer nos casamentos (Clarinda Azevedo Maia – Batocas).
FOCHA – fatia grande (Júlio António Borges).
FOCINHEIRA – rede que se mete no focinho das vacas para que não comam enquanto trabalham; também se diz barbilho. Carne do focinho ou tromba do porco.
FOCINHUDO – triste, magoado, macambúzio. Porco: «Triste vivia a família que não criava, pelo menos, um focinhudo por ano» (Francisco Carreira Tomé).
FOFAS – farófias. Também se diz espumas.
FOGAÇA – pão de farinha muito branca (Júlio António Borges).
FOGAGEM – erupção da pele resultante do calor do sangue (Júlio António Borges e Maria Leonor Buescu).
FOGO – conjunto de foguetes lançados numa festa; foguetório.
FOGO PRESO – fogo de artifício.
FOGUEIRA – lareira; lume. No concelho do Sabugal é usual o termo lume para designar a lareira, mais a norte predomina o termo fogueira.
FOIÇÃO – foice pequena, própria para cortar milho, erva ou rama de batateira. Adérito Tavares escreve fóssão.
FOIRICA – medroso, cobarde (Francisco Carreira Tomé).
FOITO – afoito; sem medo.
FOJEIRO – indivíduo natural dos Fóios.
FOJO – cova para apanhar lobos; caverna. De fojo se pensa ter origem a palavra Fóios, nome de uma aldeia do concelho do Sabugal.
FOLAR – presente oferecido pelos padrinhos nos Santos e na Páscoa. Também se diz afolar. Tirar o folar: volta do pároco pela aldeia, de porta em porta, na Páscoa, a bendizer as casas e a recolher ofertas.
FOLE – instrumento para soprar o lume. Estômago.
FOLGAR – divertir-se; alegrar-se.
FOLGANÇA – festa; divertimento; brincadeira (Nuno de Montemor).
FOLGUEDO – festa; brincadeira; divertimento. Tourada com forcão (Joaquim Manuel Correia). O dr Framar, in «Caçadas aos Javalis», chama folguedos às montarias.
FOLHA – cada uma das três porções de terreno centeeiro em regime de pousio – uma folha era semeada, outra ficava em arada, e a terceira em descanso, em pousio. Campos pertencentes a uma área confinante com os de outra freguesia (Júlio Silva Marques). Campos distantes no limite da freguesia (José Pinto Peixoto).
FOLHADO – folhas secas que servem para a “cama” dos animais ou para directamente se integrar na estrumeira.
FOLHELHO – conjunto de folhas (camisas) que envolvem a maçaroca de milho (Júlio Silva Marques).
FOLIA – manifestação profana que aparecia integrada nas festas religiosas, em especial nas festas do Espírito Santo (no domingo de Pentecostes) cujo ritual podia mudar consoante a terra. Incluía a exibição de movimentos de parada militar e agitação de bandeiras (alabardas). Este ancestral costume foi interdito por decreto do bispo da Guarda, José Alves Mattoso, em 1928, por o considerar inteiramente profano. «Era um vestígio de manifestações instituídas para proteger os campos contra pragas e malinas» (Pinharanda Gomes).
FOLIAR – troçar de alguém ou de algo (Clarinda Azevedo Maia – Aldeia da Ponte).
FOME CANINA – grande vontade de comer; larica.
FOME-NEGRA – usurário; avarento; sovina (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»
leitaobatista@gmail.com
No Casteleiro, a FISGA é antes uma atiradeira (era – agora já não há nada disso, creio).
Usam-se as palavras seguintes (muito poucas): FOGAGEM, FOGO PRESO, FOGUEIRA (mas em casa é mais «lume», simplesmente), FOIÇÃO (mas pronunciado à moda «céltica»: fòção – assim mesmo, com o «o» bem aberto), FOITO, FOJO (é o nome de um local cultivado – e não acredito que neste caso, na minha terra, venha de Fóios. Deve vir mesmo da lide dos lobos, penso eu… Nada contra os Fóios, de que sempre gostei).
E na minha terra diz-se ainda: FOLHADO, FOLHELHO e FOLIA.
Mais nada. Apenas 11 (já conto com as que vêm adiante, embora anotadas…) em 36 vocábulos.
Cerca de 34%.
Uma tristeza para a uniformidade regional!!
No entanto, umas notas:
. FOME CANINA diz-se pouco. É mais «fome de cão», que é quase o mesmo, mas é mais ao «sabor» do Povo. E
– FOME-NEGRA diz-se mas é complementado por um «unhas-de-fome», bem forte e que significa o mesmo mas no superlativo: «Aquilo é um unhas-de-fome» quer dizer que não se «abre» com ninguém a pagar ou a gastar seja lá o que for…