Transportamos um momento histórico de Quadrazais, à data de 20 de Setembro de 1946, carta dirigida ao Sr. Ministro do Interior e assinado pelo então presidente da Câmara Municipal do Sabugal, Dr. Francisco Maria Manso.
O registo escrito dos factos ocorridos e de decisões tomadas revelam-se uma fonte fundamental na reconstituição da vida dos concelhos.
São fontes documentais deste teor que nos permitem iluminar os momentos marcantes das gentes de riba côa e, assim, fazer perdurar na memória dos vindouros o nosso percurso, que fazem de nós gentes do Sabugal, e aqui entenda-se gentes do concelho do Sabugal, os que aqui vivem, (o que por si só é um ato heróico), pessoas ímpares em terra excepcional.
«Sabugal 20 de Setembro de 1946
Exmo Snr Ministro do Interior
Excelência
Tenho a honra de confirmar meu telegrama de hoje que se reproduz
Excelentíssimo ministro do interior. Lisboa. como médico visitei hoje mais uma vez freguesia de Quadrazais deste concelho onde tratei dos feridos alguns em estado muito grave motivo desordem ali havida.
Já este mez devido outra desordem houve feridos e um morto a tiro de espingarda poucos dias passam sem conflitos atendendo ódios cavados entre famílias consequentes às continuas lutas. Urge estabelecer posto provisório guarda nacional republicana para manter ordem e evitar crimes rogo vexa providencie urgentíssimo neste sentido. Presidente camara municipal do Sabugal.
Quadrazais, para o qual pedi o estabelecimento urgente de um posto provisório da G.N.Republicana, é, incontestavelmente o foco perigo deste concelho do sabugal, a terra onde os contrabandistas e os gatunos de cavalos espanhoes, saiam de noite para a vida perigosa que levam e passam o dia a derimir contendas que na maior parte das veses acabam em sangue.
Quando os homens se dedicavam ao contrabando passava-se tempo sem se registar qualquer facto anormal. Nos últimos anos, autenticas quadrilhas de gatunos de cavalos passaram a viver no povo e a sustentar-se unicamente do produto do roubo que faz ter de os mandar para casa, visto a lei portuguesa não conter penalidades para tais casos. E assim, diariamente vem a este concelho súbitos de gado que lhes roubam os de Quadrazais e que se muitas vezes se consegue apreender na maior parte doutras veses seguem paiz fora para casa de outros gatunos que os mandam para feiras e mercados.
O produto dos roubos é gasto nas tabernas. Depois o tiroteio na noite, são os casos trágicos é o mal estar para os que querem viver em paz.
O tiroteio prolonga-se pela noite, o que de resto não admira, Exmo senhor, se considerarmos que o arsenal quadrazenho deve ter uma arma por habitante, uma arma de calibre proibido que a espanha da guerra forneceu, estas armas não podem continuar a existir no povo pelo que representam para todos os homens de ordem.
Neste momento cumpre-me agradecer a Vexa as imediato providencias que se dignou ordenar visto se encontrar neste edifício o senhor mandante da companhia de guarda nacional republicana da guarda com o qual tive a honra de combinar as providencias a tomar para a apreensão de armas em Quadrazais, o que em breve será um facto.
A bem da Nação
O Presidente na Câmara
Dr Francisco Maria Manso»
Carlos J.R.
Uma história que desconhecia acerca do que se passava em Quadrazais, no ano 1946. Do médico Dr. Francisco Maria Manso já conhecia algumas histórias. Era um bom médico, mas não curou a doença da minha Mãe, infelizmente.
É bom partilhar todos estes conhecimentos e fotografias de outros tempos das nossas terras.
Bem haja.
Aurora Madaleno
O meu avô que era da GNR fez serviço aí.