«Enigma» é um substantivo masculino, significa jogo de espírito em que se propõe a decifração de uma coisa que é descrita em termos obscuros, ambíguos: Édipo desvendou o enigma da Esfinge. Coisa difícil de definir, de conhecer a fundo, de compreender.
![Cavaco Silva fala ao País](https://i0.wp.com/capeiaarraiana.pt/wp-content/uploads/2013/07/PR_130710_V01.gif?resize=550%2C309&ssl=1)
Foi este conceito que me ficou após ouvir o Sr. Presidente da República falar ao país. É que não sei o que ele quis dizer. Tenho-lhe ouvido muitos discursos, quase todos vazios e inócuos, quase sempre à volta das finanças sem o serem, enfim, estranhos. Mas, desta vez, o discurso é verdadeiramente enigmático.
O Sr. Presidente não quer, nem confia, na proposta apresentada pelo governo. Este está em gestão entre a demissão do parceiro de coligação. A oposição pede eleições antecipadas. Assim, de forma clara, aquilo que havia a fazer era convocar eleições antecipadas. Mas não. Sabe-se que este presidente tem aversão às eleições. Principalmente quando está no governo o seu partido. Entende-se, mas… Como quererá o Sr. Presidente resolver um assunto politico relevante para o país, tentando fazer a quadratura do círculo? Repare-se, se entre os dois partidos que agora formam a coligação governamental, não se entendem, como quererá que entre três se entendam? É verdadeiramente peregrina esta ideia, principalmente nesta altura! Poderia tê-lo feito há dois anos atrás. Exigindo, impondo a sua visão, nessa altura aos partidos saídos de um acto eleitoral. Mas não. Aceitou um governo que, desde o início, era um acto de simulação. Um governo que passou todo o seu tempo num ataque a quem trabalha. Cortando. Facilitando o despedimento. Extorquindo os seus concidadãos. O resultado foi a fuga do ministro das finanças, batendo com a porta, desculpem, com a carta, que confessava o seu fracasso e, consequentemente, o do governo. O resultado é o maior número de desempregados da história da democracia portuguesa. O resultado é a degradante situação económica e social do país. Se estes factos não eram sinais para o Sr. Presidente perceber o que se passava no país, então, o estado de senilidade já vai avançado, e ele próprio se devia demitir por incapacidade. Talvez mais uma reformazita de invalidez…
Consigo entender nesse discurso uma tentativa de sobrevivência política. Não consigo entender a ideia proposta. Entendo o contexto específico porque passa o país e a delicadeza da economia. Mas a solução é um enigma.
Aproveito, por isso, para que se reflectisse sobre a lei eleitoral. É uma vergonha o tempo consagrado em lei para convocar eleições. Para campanha política e, depois, para formar governo. Talvez, se tudo fosse mais rápido, estaríamos agora perante eleições antecipadas. Mas neste país, em vez de agilizarem as leis que permitissem uma democracia mais prática, não, prefere-se pensar em mudar a lei que permite (ainda) ao povo assistir às sessões do parlamento no parlamento. Porque este se manifesta. Triste democracia quando, nas bancadas que se chamam do povo, este não pode lá estar. Se tal vier acontecer é uma vergonha para a democracia. Os que foram eleitos pelo povo, que representam o povo, coartam a participação do povo. Digam lá se isto não é um enigma?
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«A Quinta Quina», opinião de Fernando Lopes
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