O assolar de políticas de severidade tem sido tão excessivo que já magoa, assusta e indigna mas deixou de nos espantar.
Um elevado número de políticos, assessorados por alguns ilustres e convictos comentadores, têm optado por nos impingir a ideia de excessividade. Querem fazer-nos crer que as presentes dificuldades económicas se fundam num passado relativamente recente em que o povo português gastou em excesso e viveu muito acima das suas reais possibilidades. Apesar de bastante propagandeado tal conceito não tem sido unanimemente aceite. Convencendo, porventura, alguns não nos convenceu a todos.
Será aceitável falar de excessividades, na atual conjuntura económica portuguesa, ignorando a corrupção? Porque não referir, na enumeração dos excessos, os criminosos desfalques bancários, as esquisitas derrapagens financeiras e as (des)vantajosas parcerias público/privadas? Refiro, tão só, a corrupção mais visível.
É, simplesmente, indecoroso justificar o presente descalabro financeiro apenas com os consumos do zé pagode. O povo, quando realmente assediado para o consumo, até pode gastar mais uns cêntimos mas é preciso desplante para se culparem modestos pagantes á beira da ruina ignorando os monstruosos excessos dos que enriquecem de forma ilícita. Culpar assim até poderia ter piada se não fosse tão dramático.
Ora, face ao que já aparenta ser uma tragédia socio/económica, já não nos é possível rir. Já nem sequer sorrimos quando nos falam de soluções e simultaneamente nos brindam com cortes duros e sucessivos. É impossível permanecermos impávidos quando nos servem tudo com uma frieza e uma insensibilidade brutais. Desconcertam-nos e ofendem-nos com gratuitidade. Ferem o âmago da nossa dignidade.
Com efeito quando um poder assim procede não se revela apenas socialmente insensível. Demonstra, para além disso, um excessivo desprezo pelo povo que o elegeu. E não há volta a dar-lhe. É inútil tentar manter o disfarce da preocupação social. Só já se espera de quem governa o espargimento de teorias pouco credíveis, demagógicas e até ofensivas.
Seria, antes, de esperar, de uma governação responsável, políticas assertivas e o conhecimento dos limites razoáveis das suas consequências, sobretudo os seus efeitos sobre os mais vulneráveis.
Na realidade, findos os ditos excessos do povo, de que têm valido as formulações matemáticas e os sucessivos cálculos de Gaspar? Têm-se revelado completamente errados. Qualquer miúdo do 1º ciclo teria reprovado com a enormidade de contas mal feitas. Não há, portanto, meros ou pequenos enganos. Há uma excessividade de cálculos mal efectuados. E deveria haver limites para tudo, para os enganos, para a falta de senso e para a falta de ética. Deveria também existir um limite para as atitudes que revelam alheamento perante o sofrimento, sobretudo dos mais débeis. Que dizer então destas, tantas, excessividades?
Neste contexto caiem tão mal as culpas mal atribuídas como as eventuais palavras mansas que sabem a carícias aduladoras de quem parece querer, apenas, prejudicar-nos.
E ainda há quem diga que não poderia ser de outra maneira! Estou em crer que poderia ser de outra ou de várias outras maneiras. Desta, (tão negativamente excessiva) é que não poderá ser, certamente.
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«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
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Muito bem, caro amigo Capelo. Eles desprezam os próprios que votaram neles. Isso é que eu não consigo, sobretudo, compreender. Dinheiro há, só que vai para a alta finança…